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Correto manejo de nutrição das uvas

Uma nutrição balanceada é o segredo por trás de uvas exuberantes e vinhos excepcionais.

George Wellington Melo
Pesquisador da Embrapa Uva e Vinho
wellington.melo@embrapa.br
Bruna Trevizan Paese
Graduanda em Engenharia Agronômica – Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS)
brunatpaese@hotmail.com

Os micronutrientes mais relevantes para a videira são zinco e boro
Crédito: Carlos Augusto Prado

As videiras, semelhante a todas as plantas, demandam uma diversidade de macro e micronutrientes para garantir um crescimento saudável e um desenvolvimento vigoroso. Os nutrientes, essenciais à vitalidade da planta, podem ser divididos em duas categorias principais: macronutrientes, requeridos em elevadas quantidades; e micronutrientes, necessários em proporções menores, contudo, indispensáveis à funcionalidade da planta.
Os macronutrientes englobam nitrogênio, fósforo, potássio, cálcio, magnésio e enxofre. O nitrogênio, um componente-chave da clorofila, proteínas, ácidos nucleicos, coenzimas e vitaminas, é um nutriente essencial, que atua de forma relevante em inúmeras funções bioquímicas.

Já o fósforo, responsável pela formação de adenosina trifosfato (ATP), desempenha um papel imprescindível na produção de energia nas plantas, no crescimento radicular e na floração.
O potássio, por outro lado, regula funções fisiológicas diversas, incluindo a abertura e fechamento dos estômatos, que controlam a transpiração. O magnésio, componente vital da molécula de clorofila, é um nutriente imprescindível à fotossíntese e responsável pela coloração verde das plantas. O cálcio tem sua função principal na manutenção da estrutura e integridade das paredes celulares.

Nutrientes essenciais

Considerando as condições dos solos brasileiros, os micronutrientes mais relevantes para a videira são zinco e boro. Embora demandados em menores quantidades, a carência de qualquer um destes elementos pode resultar em sintomas de deficiência, comprometer o crescimento e a produtividade e, em casos mais severos, ocasionar a morte da planta.
A deficiência de boro é usual em solos ácidos, arenosos e com baixo teor de matéria orgânica. Nas videiras, pode desencadear diversas desordens, como deformação das folhas, má formação dos frutos e baixa fertilidade do pólen.
A deficiência de zinco também é comum em solos ácidos e arenosos, podendo causar sintomas como encurtamento dos internódios e clorose internervuras das folhas.
Cada um desses nutrientes é indispensável para a prosperidade de um vinhedo, desempenhando funções específicas para o crescimento e desenvolvimento adequado da planta. Compreender a interação entre esses nutrientes e como eles são influenciados por fatores como tipo de solo e condições climáticas, é fundamental para o manejo eficiente de um vinhedo.

Análise de solo

O solo é um componente vital na nutrição da videira, servindo como um reservatório de nutrientes essenciais. Além disso, sua estrutura e composição desempenham um papel decisivo na regulação da disponibilidade desses nutrientes para as raízes das plantas.
Logo, é imprescindível entender a composição do solo e sua capacidade em prover os nutrientes requeridos, sendo esta uma parte integrante da gestão nutricional da videira.
A análise de solo emerge como uma ferramenta indispensável nesse processo, contribuindo para uma nutrição adequada das videiras. Esta ferramenta compreende um procedimento multifásico, descrito abaixo:
Seleção de áreas para amostragem: primeiro, identificam-se áreas homogêneas que exibem características singulares, tais como: tipo de solo, topografia, histórico de produtividade, uso prévio do solo, vigor das plantas, entre outros. É imperativo que cada uma dessas áreas seja amostrada individualmente para assegurar a precisão da análise.
Amostragem: envolve a coleta de várias amostras singulares do solo, em diferentes pontos, de cada área homogênea, sempre na profundidade que varia de 0 a 20 cm. Estas amostras individuais são posteriormente combinadas para formar uma amostra composta, a qual representa cada área com precisão.
Preparo da amostra para envio ao laboratório: após a coleta, é necessário excluir detritos de maior tamanho presentes nas amostras, tais como pedras, raízes e restos vegetais. Em seguida, embala-se cerca de 500 g do solo coletado para enviar ao laboratório. Opte por um laboratório confiável, preferencialmente auditado e com certificações que confirmem a qualidade dos serviços prestados.

Crédito: Carlos Augusto Prado

Análise foliar

A análise foliar é um instrumento valioso para tomada de decisão na nutrição da videira, agindo como um indicador direto do estado nutricional da planta. Esta reflete a eficiência com que os nutrientes do solo são absorvidos e utilizados pela planta.
Assim, a compreensão dos resultados da análise foliar e sua correlação com a nutrição da planta são essenciais no manejo nutricional da videira.
A análise foliar é um processo multifásico, que compreende:
Seleção de áreas para amostragem: similar à análise do solo, identificam-se áreas homogêneas que apresentam características distintas, tais como: variedade de uva, idade e vigor das plantas, posição na paisagem, entre outros.
Seleção das folhas para amostragem: inicialmente, é necessário identificar e selecionar as folhas que serão analisadas. As folhas a serem selecionadas são aquelas que estão em posição oposta ao cacho.
Amostragem: envolve a coleta de um número adequado de folhas de cada área selecionada, sempre na mesma fase de desenvolvimento da planta (plena floração).
Preparo da amostra para envio ao laboratório: após a coleta, é necessário limpar as folhas de sujeira ou poeira, sem lavá-las, pois isso pode alterar os resultados da análise. Em seguida, embalam-se de 10 a 20 folhas coletadas para enviar ao laboratório. Opte por um laboratório confiável, preferencialmente auditado e com certificações que confirmem a qualidade dos serviços prestados.

Interpretação da análise do solo e análise foliar

Após receber os resultados laboratoriais, tanto da análise do solo quanto da análise foliar, estes devem ser cuidadosamente interpretados e utilizados para orientar as correções necessárias, seja dos atributos químicos do solo ou dos atributos nutricionais das plantas.
Essa interpretação é uma etapa importante, que pode exigir a contratação de um especialista na área. Recomenda-se evitar que essa interpretação seja conduzida por técnicos de empresas que comercializam fertilizantes, visando evitar possíveis conflitos de interesse.
Com base nos resultados das análises, os viticultores terão as informações necessárias para determinar quais correções são necessárias, seja no solo ou nas plantas. Esses dados constituem um elemento fundamental para a tomada de decisões eficazes relativas à fertilização e ao manejo adequado do vinhedo, proporcionando uma visão holística e integrada do estado nutricional do vinhedo.

Principais tipos de adubação

Em geral, existem três principais tipos de adubação que são comumente usadas na viticultura: a adubação de correção, a adubação de crescimento e a de manutenção.
Adubação de correção: a adubação corretiva é utilizada para corrigir deficiências nutricionais específicas do solo. Antes de iniciar o cultivo das videiras, é importante realizar uma análise do solo para identificar quais nutrientes estão em falta ou em desequilíbrio. Com base nessa análise, pode-se aplicar adubos específicos para corrigir as deficiências. Por exemplo, se a análise do solo indicar uma falta de fósforo, pode-se aplicar adubos fosfatados para suprir essa carência.
Adubação de crescimento: este processo de adubação ocorre ao longo do estágio de crescimento das videiras. A prioridade deve ser dada à adubação orgânica, utilizando compostos orgânicos ricos em nutrientes. No entanto, se isso não for viável, opte por fertilizantes que incorporem nitrogênio em suas fórmulas. Normalmente, a fase de crescimento tem uma duração variável, estendendo-se por dois a três anos.
Adubação de manutenção: a adubação de manutenção é realizada após o período de crescimento das videiras e tem como objetivo manter os níveis adequados de nutrientes no solo ao longo do tempo. Ela é importante para garantir uma produção sustentável e consistente de uvas. A adubação de manutenção geralmente envolve a aplicação de adubos de liberação lenta ou adubos orgânicos, que liberam nutrientes gradualmente ao longo do tempo. Dessa forma, as videiras recebem os nutrientes necessários de forma contínua, favorecendo o desenvolvimento das uvas e a saúde das plantas.

Consequências da deficiência de nutrientes na videira

A carência de nutrientes essenciais nas videiras pode desencadear uma série de consequências prejudiciais. Estas deficiências nutricionais podem não apenas restringir o crescimento da planta, mas também impactar negativamente na produtividade de uvas e, por extensão, na qualidade do vinho produzido.
As deficiências de nitrogênio, a título de exemplo, podem resultar em crescimento restrito da planta e declínio na produção de uvas. A ausência adequada de potássio pode provocar clorose e enrolamento das folhas.
A deficiência de micronutrientes, embora possa ser menos frequente, também exerce efeitos consideráveis na videira. Por exemplo, a falta de zinco pode levar à produção diminuída de uvas e a uma maturação irregular delas.
Assim, é imprescindível que os viticultores monitorem frequentemente a condição nutricional das suas videiras e tomem ações corretivas quando identificarem a necessidade.

Solos de baixa fertilidade

O manejo da nutrição das videiras pode ser excepcionalmente desafiador em solos com baixa fertilidade. Tais solos exibem características químicas que precisam ser corrigidas para permitir que as plantas atinjam plenamente seu potencial produtivo, ou seja, para garantir uma produtividade de frutos economicamente viável e de alta qualidade.
Em contextos de solos com baixa fertilidade, pode ser necessário não apenas a aplicação de fertilizantes para fornecer os nutrientes indispensáveis, mas também o uso de calcário para corrigir o pH do solo e incrementar a disponibilidade de cálcio e magnésio.
No entanto, o uso destes agroquímicos deve ser realizado com prudência, visto que aplicações excessivas podem resultar em problemas de contaminação do solo e da água.
Ademais, em solos com baixa fertilidade, é de suma importância realizar o monitoramento regular do estado nutricional das videiras e ajustar as práticas de manejo de acordo.

A análise foliar é essencial na tomada de decisão na nutrição da videira
Crédito: Carlos Augusto Prado

Efeitos do excesso de nutrientes nas videiras

Assim como a deficiência de nutrientes, o excesso de nutrientes também pode ser prejudicial para as videiras. A aplicação excessiva de adubos pode levar a um crescimento exuberante da videira, o que pode reduzir a qualidade da uva e aumentar a suscetibilidade a doenças.
Além disso, o excesso de nutrientes, especialmente de nitrogênio e fósforo, pode levar à poluição do solo e da água. Portanto, é importante para os viticultores aplicarem adubos de forma responsável e monitorar regularmente o estado nutricional das videiras.

Fatores ambientais que afetam a nutrição da videira

A nutrição e o desenvolvimento das videiras são profundamente influenciados por fatores ambientais, que incluem solo, clima, exposição à luz solar e água. Abaixo estão detalhados alguns desses fatores e como eles podem impactar tanto positiva quanto negativamente as videiras.
Solo: a qualidade do solo tem um impacto direto na nutrição da videira. Solos férteis, bem drenados e com uma estrutura adequada são ideais para o crescimento das videiras. No entanto, solos muito ricos podem levar a um crescimento vegetativo excessivo, o que pode reduzir a qualidade dos frutos. Em contrapartida, solos pobres ou excessivamente drenados podem levar a videira a um estresse hídrico ou nutricional.
Clima: as videiras se adaptam a uma grande variedade de climas, preferem regiões com invernos suaves e verões secos, quentes e com amplitude térmica. Condições climáticas extremas, como geadas, tempestades de granizo, calor excessivo ou umidade elevada, podem prejudicar a videira, afetando a produção e a qualidade das uvas.
Luz solar: as videiras precisam de bastante luz solar para a fotossíntese e a produção de açúcares, que são armazenados nos frutos. No entanto, a exposição excessiva à luz solar e ao calor pode levar ao ressecamento e ao estresse da videira.
Água: as videiras precisam de uma quantidade adequada de água para crescer e produzir frutos. No entanto, muita água na época da colheita de frutos pode levar à diluição dos componentes das uvas e ao desenvolvimento de doenças fúngicas.

Estratégias

As necessidades nutricionais das videiras variam em diferentes estágios de desenvolvimento. Portanto, é importante para os viticultores ajustarem suas práticas de manejo nutricional de acordo.
Durante a fase de crescimento vegetativo, por exemplo, as videiras têm uma alta demanda por nitrogênio para o crescimento das folhas e dos ramos. Portanto, pode ser necessário aplicar adubos contendo nitrogênio durante esta fase.
Durante a fase de frutificação, por outro lado, as videiras têm uma alta demanda por potássio e fósforo para a formação e o amadurecimento dos frutos. Portanto, pode ser necessário aplicar adubos contendo esses nutrientes durante esta fase.
Além disso, é importante para os viticultores monitorarem regularmente o estado nutricional das videiras e ajustar as práticas de manejo de acordo.

Manejo sustentável

Por fim, embora não menos crucial, a adoção de práticas de manejo nutricional sustentáveis é essencial para os viticultores. Isto engloba o uso responsável de fertilizantes, a minimização da poluição do solo e da água, e o fomento à qualidade e saúde do solo.
O uso responsável de fertilizantes implica a aplicação adequada, ou seja, na quantidade certa, no momento oportuno e no local preciso. Tal prática pode contribuir para a minimização da perda de nutrientes e poluição do solo e da água.
A mitigação da poluição do solo e da água pode ser alcançada por meio de práticas como a utilização de plantas de cobertura, que são extremamente eficientes para aprimorar a eficiência dos nutrientes utilizados na adubação. Essas plantas auxiliam na retenção dos nutrientes no solo (evitando a lixiviação), aprimoram a qualidade e a saúde do solo e, se bem manejadas, podem fornecer nutrientes para a videira.
A promoção da saúde do solo pode ser alcançada por meio de práticas como o mínimo revolvimento do solo, o uso de adubos orgânicos e plantas de cobertura, que ajudam a prevenir a erosão e fornecem um habitat para a fauna benéfica, auxiliando no equilíbrio do ecossistema contra pragas e doenças da videira.

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