Autores
Maria Eduarda Facioli Otoboni
Darllan Junior Luiz Santos Ferreira de Oliveira
Engenheiros agrônomos e mestrandos – Unesp/campus de Ilha Solteira
Pablo Forlan Vargas
Doutor e professor – Unesp/campus de Registro
pablo@registro.unesp.br
A produção de hortaliças é uma atividade que apresenta destaque na economia e agricultura brasileira. O cultivo de brássicas tem grande importância na olericultura brasileira, principalmente devido ao grande volume de produção, valor nutricional das culturas e rápido retorno econômico. Dentre elas, a couve-manteiga destaca-se como uma das hortaliças mais plantadas no Brasil.
Em 2017, o Brasil contava com 71.431 propriedades rurais cultivando couve, com produção total de 343.127 toneladas, sendo a região sudeste a maior produtora, com 31.428 produtores, 2.963,98 hectares e 280.331 toneladas produzidas, com média de 9,0 toneladas ha-1.
A região nordeste encontra-se na segunda posição em quantidade de produtores, seguida da região sul, com 15.581 e 11.141 propriedades, consecutivamente. Já em produção, a segunda posição fica com a região sul, com 19.498 toneladas produzidas.
A couve-manteiga (Brassica oleracea L. var. acephala) é uma hortaliça anual ou bienal, cujo consumo tem aumentado no Brasil devido às suas propriedades nutricionais e diversas maneiras de utilização na culinária.
É uma das hortaliças mais populares no Centro-Sul do Brasil e destaca-se entre as folhosas por ser fonte de proteínas, carboidratos, cálcio, ferro, fibras e vitaminas A e C, sendo consumida principalmente in natura na forma de saladas e refogados.
É uma cultura típica dos períodos de outono e inverno, porém, possui certa tolerância ao calor, o que permite seu plantio durante o ano todo. Nas regiões sul, sudeste e centro-oeste o período de cultivo mais indicado é entre os meses de fevereiro e julho, diferentemente da região nordeste, onde os meses de abril a agosto são os mais indicados. Já para a região norte do Brasil, o período ideal encontra-se entre abril e julho.
Mesmo apresentando certa tolerância ao calor, em temperaturas acima de 25ºC acompanhadas de alta umidade, o desempenho produtivo da couve-manteiga e das brássicas em geral é afetado devido à ocorrência de doenças, ataque de pragas e defeitos fisiológicos, tendo como consequência preços elevados e oscilações do volume comercializado devido à falta de oferta de produtos com qualidade, sendo encontrado, nessas ocasiões, um produto de menor tamanho e peso, coloração mais clara e folhas frouxas e abertas.
Plantio
A propagação da couve-manteiga pode ser realizada por sementes ou mudas, porém, no Brasil os agricultores têm preferência pela propagação vegetativa, com formação de mudas a partir de brotos que surgem nas axilas das folhas, devendo ser retirados e colocados para enraizar até atingir o ponto correto de transplante, quando as raízes já estão formadas.
A formação de mudas por sementes deve ser realizada em bandejas de plástico com 128 células preenchidas com substrato. O preço das sementes varia de R$ 19,00, com 10 gramas de uma variedade e média de 03 mil unidades, a R$ 25,00, com 1.000 sementes de um híbrido.
Durante a fase de pegamento dessas mudas, a irrigação torna-se uma prática imprescindível, devendo ser realizada várias vezes ao dia, garantindo assim um bom enraizamento para que possam ser transplantadas para o local definitivo com maior possibilidade de sucesso.
As mudas devem ser levadas a campo quando alcançarem de quatro a seis pares de folhas definitivas e 10 a 15 cm de altura.
Em estufas
Assim como acontece com outras hortaliças, a couve-manteiga pode ser produzida sob cultivo protegido, permitindo assim o maior adensamento de plantas. Nessas condições, recomenda-se realizar rotação de cultura com hortaliças de outras espécies para evitar ou diminuir a incidência da traça-das-crucíferas, praga que pode causar prejuízos para a couve cultivada sob ambiente protegido. O espaçamento recomendado é de 60 a 80 cm entrelinhas e 40 a 50 cm entre plantas.
Dependendo da estrutura da estufa, é possível realizar a rotação da couve-manteiga com plantas de porte alto, como o pepino, pimentão e tomate. Outra possibilidade é a rotação de culturas com feijão-vagem, quiabo, berinjela e adubos verdes.
Tratos culturais e adubação
Dentre as práticas de manejo recomendadas para a cultura estão: calagem e adubação, manejo de pragas e doenças e manejo de plantas daninhas. Com relação à calagem e adubação, deve-se aplicar calcário conforme análise química do solo, de 30 a 90 dias antes do plantio, para elevar a saturação por bases a 80% e o teor de magnésio do solo a um mínimo de 8 mmolc dm-3.
A adubação orgânica deve ser feita em torno de 30 dias antes do plantio, aplicando 20 a 40 t ha-1 de esterco bovino ou 5 a 10 t ha-1 de esterco de galinha, ambos bem curtidos.
Já na adubação mineral deve-se aplicar 30 a 50 kg ha-1 de N, 180 a 360 kg ha-1 de P2O5 e 80 a 160 kg ha-1 de K2O no plantio e entre 15 a 20 dias após o transplante ou pegamento das mudas aplicar em cobertura, ao lado das plantas, 40 kg ha-1 de N, 10 kg ha-1 de P2O5 e 20 kg ha-1 de K2O. Vale ressaltar que a obtenção de boa produtividade e qualidade de folhas está diretamente ligada a uma nutrição balanceada.
Fitossanidade
Dentre as principais pragas da cultura, destacam-se: mosca-branca, pulgões, lagartas e traças-das-crucíferas. Já a mancha bacteriana/podridão-negra, alternária, míldio e podridão mole estão entre as principais doenças.
Para o controle de plantas daninhas deve ser priorizado o manejo integrado realizando diversas práticas, como por exemplo, o manejo preventivo (evitar a introdução de novas espécies por meio do esterco ou de equipamentos, realizar isolamento com quebra-ventos), manejo cultural (cobertura do solo com restos vegetais, como palha de milho, capins, entre outros, cobertura por meio de mulching, rotação de culturas), controle manual (arranquio manual ou enxadas), controle mecânico (realizados durante o preparo do solo) e o controle químico (realizado com herbicidas).
Podas e colheitas
O corte da ponta do caule principal é um dos cuidados que devem ser realizados durante o ciclo da cultura, auxiliando na manutenção da altura da planta e no tamanho adequado para o manuseio e colheita, favorecendo assim o desenvolvimento dos brotos laterais. Devem ser retiradas as folhas murchas ou com sinais de ataques de pragas e/ou patógenos.
A colheita das folhas é iniciada aos 80-90 dias após o transplante das mudas, iniciando-se também o retorno financeiro da cultura. A colheita perdura por um período de aproximadamente oito meses, sendo realizada a cada 7-10 dias em uma mesma planta, onde são retiradas as folhas bem desenvolvidas e que estejam no tamanho exigido pelo mercado (20-30 cm de comprimento).
A colheita é feita destacando-se as folhas ainda tenras da haste principal e juntando-as em maços com oito a 12 unidades, ou em embalagens apropriadas, no caso da comercialização na forma de minimamente processadas (pré-lavadas e cortadas), agregando valor ao produto.
A colheita deve ser realizada durante o período em que não haja sol, logo pela manhã ou no fim da tarde, pois a incidência de alta claridade resulta no murchamento das folhas.
Produtividade
A produtividade média da couve-manteiga é de 3,0 a 5,0 kg de folhas por planta durante o ciclo da cultura, que varia de seis a oito meses. Os preços de 1,0 kg de couve-manteiga, em 2019, variaram de R$ 1,67 em Ribeirão Preto (SP) a R$ 12,00 em Salvador (BA), porém, o maço com 10 unidades da folha já atingiu R$ 6,00 no Estado de São Paulo.
Mais da metade dos produtores concentram a produção dessa hortaliça em áreas com menos de 10 hectares, favorecendo o uso intensivo de mão de obra familiar, geração de renda para o pequeno produtor e fixação do homem no campo.
Seu custo de produção é de aproximadamente R$ 6.000,00 por hectare, sendo a mão de obra o principal gasto de produção, seguido dos gastos com insumos agrícolas. Para que seja viável o aumento da produtividade de hortaliças como a couve-manteiga, é necessária a utilização de mudas de boa qualidade associado a um manejo adequado da cultura.