José Braz Matiello
Engenheiro agrônomo especialista em cafeicultura “MAPA/Fundação Procafé
A adoção da poda em cafeeiros deve ser feita observando as condições da lavoura, mas, no geral, deve-se ter em mente que recepar as plantas só em último caso, quando não houver outra alternativa.
A recepa é um tipo de poda drástica em cafeeiros, já que promove o corte baixo do tronco da planta, com isso sendo perdida toda a copa. Essa perda exige nutrientes e consome tempo para ser recomposta, havendo perda total ou parcial da produção por, pelo menos, duas safras.
A recepa é um tipo de poda drástica, sendo importante na recuperação total da copa dos cafeeiros, quando as plantas se encontraremcom excesso de troncos (hastes ortotrópicas) e quando elas perderam completamente a parte baixa da sua ramagem lateral, ou seja, sua saia.
Com ela consegue-se reabrir a área, facilitando correções de solo, favorecendo ocontrole de pragas de solo(cigarras e mosca-das-raízes) e, ainda, se reduz as produções em épocas de crise, liberando áreas para cultivos intercalares, além de render lenha para a propriedade.
Opções de recepa
As opções são a execução de podas mais leves, ou seja, aquelas onde se perde menos na produtividade seguinte dos cafeeiros, devido a uma maior preservação da estrutura das plantas. Cada lavoura ou talhão vai indicar o melhor tipo a usar. Seria, na ordem, o decote, depois o esqueletamento/desponte, depois a recepa alta e, por fim, a recepa baixa.
As podas são indicadas conforme as plantas do talhão mostrarem seu estado vegetativo e produtivo. A regra geral é podar o mÃnimo possível, pois as partes da planta foram formadas a custas de nutrientes e reservas acumuladas ao longo de anos, e as partes podadas representariam perdas de energias e recursos.
Em seguida, outra regra é podar sempre após um ciclo de safra alta, já que no ano seguinte a produção será baixa e, assim, a poda oferece menor perda produtiva.
Cuidados necessários
Os cuidados ao podar são, primeiramente, contar com boa assessoria técnica, pois podar corretamente nem sempre é um assunto bem conhecido pelo produtor ou por um técnico menos experiente. É como se um doente do coração fosse ser tratado por um clÃnico geral.
O segundo cuidado é a época, pois quanto mais cedo for feita a poda na pós-colheita, melhor será a brotação em seguida e melhor a produtividade.
O terceiro ponto é adotar o sistema e modo corretos na poda, observando a altura e largura dos cortes. Por último, é necessário conduzir adequadamente a brotação, ou seja, evitar excesso de brotos e uso excessivo de mão de obra na desbrota.
Manejo
O manejo das podas envolve os tratos pós-poda e a desbrota ou condução das brotações. A pesquisa tem demonstrado que, na recepa, decote ou esqueletamento baixos, é necessário desbrotar, conduzindo um número apropriado de brotos para formação de uma copa nova em sua parte acima do corte do tronco.
No caso de podas altas, conforme se indica atualmente, em alturas de cerca de 02m até um pouco acima, existem dois tipos indicados de condução que a pesquisa tem mostrado melhores resultados e de menor custo.
No caso de cafeeiros de cultivares de porte baixo, não é preciso efetuar quaisquer desbrotas, só cortar novamente, acima ou abaixo, e eliminar a brotação na altura desejada, depois que ela produziu bem.
No caso de cafeeiros de porte alto, desenvolveu-se o recorte, ou seja, cortando novamente de cinco a seis meses depois, deixando 40 cm de brotos acima do corte original, só que recortados. Essa operação é feita mecanicamente e evita gastos com mãodeobra.
Em campo
Experimentos de campo compararam a recuperação da produtividade, no curto prazo, de uma área com recepa e com esqueletamento. Pode-se ver (tabela 1) um grande diferencial produtivo favorável a uma poda menos drástica, no caso o esqueletamento em relação à recepa baixa.
Tabela 1– Produção e produtividade na 1ª safra pós-poda em cafeeiros
Tipo de poda | Produção em 2017 | Diferencial em % | |
Litros de café daroça/planta | Produtividade em sc/ha | ||
Esqueletamento/decote a 1,8 m | 18,1 | 60,8 | + 506 |
Recepa baixa, a 50 cm | 2,8 | 10,1 | – |
Em relação aos tratos, o mais importante é a nutrição das plantas podadas. No geral, como muito material vegetativo cortado das plantas pelas podas vai para o solo, as adubações de lavouras podadas podem ser ajustadas, considerando o aporte desses resíduos como adubos.
Assim, por exemplo, em áreas esqueletadas, no ano do esqueletamento pode-se reduzir cerca de 50% os níveis nutricionais, em comparação aos níveis utilizados no ano da safra.
Observa-se, portanto, que o esqueletamento aproveita melhor, em sua altura, a estrutura das plantas, com isso resultando em maior produtividade no pós-poda.