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Diferença entre calagem e gessagem

Diarly Sebastião dos Reis
Engenheiro agrônomo e mestre em Agronomia
diarly.reis@gmail.com
Ronaldo Machado Junior
Engenheiro agrônomo e doutorando em Genética e Melhoramento – Universidade Federal de Viçosa (UFV)
ronaldo.juniior@ufv.br

A produção agrícola, principalmente em grandes quantidades e visando o retorno econômico, exige o uso de determinados insumos. Uma planta, para expressar seu potencial produtivo e resistir às intempéries bióticas e abióticas, precisa, acima de tudo, estar bem nutrida. Duas práticas bem usuais na produção agrícola são a correção do solo a partir da aplicação de calcário (calagem) e de gesso agrícola (gessagem).

Entenda melhor

O calcário é o produto da moagem de rochas calcárias, material que é composto principalmente por carbonatos de cálcio e magnésio. Quando aplicados ao solo, têm a função de aumento de pH e fornecimento de cálcio e magnésio, dois nutrientes que são demandados em grandes quantidades pelas plantas.
Já o gesso agrícola é um subproduto da indústria de produção de fertilizantes fosfatados, por exemplo super simples e MAP.

Motivo de altas produtividades

Atualmente, um dos motivos de o Brasil ser protagonista na produção mundial de alimentos é devido à implementação de técnicas de correção de solo. Isso porque o cultivo com altas produtividades na região do Cerrado só foi possível depois da utilização deste.
Os solos brasileiros, sobretudo no bioma Cerrado, são compostos, em sua maioria, por Latossolos, que são “solos velhos”, ou seja, bem intemperizados e que seus nutrientes, aqui destacando as bases (Ca, Mg e K), foram quase que totalmente lixiviados.
Isto confere a estes solos um caráter ácido. O pH baixo, por si só, não é um problema para as plantas, mas o que acontece é que nesta situação existe acúmulo de íons hidrogênio e alumínio trocáveis, este último sendo fitotóxico às plantas.
Não só estes fatores geram a acidez do solo, mas outros, como a decomposição da matéria orgânica e uso de fertilizantes amoniacais. Deste modo, ao realizar a calagem o produtor adiciona ao solo Ca e Mg que estavam limitando as altas produtividades, aumenta o pH, precipitando o Al, que desta forma não faz mal às plantas.

Cada um com sua função

Outro benefício da calagem é o aumento da CTC do solo (capacidade de troca catiônica), pois com o aumento do pH o alumínio e o hidrogênio que estavam ocupando a CTC são deslocados para a solução do solo (alumínio precipita) e as bordas das argilas ocupadas por esses elementos ficam disponíveis (com carga negativa) para que nutrientes catiônicos se liguem nela.
Já o gesso agrícola (sulfato de cálcio, basicamente, CaSO4.2H2O), tem em sua composição aproximadamente 28% de CaO; 15,0% de enxofre (S), 0,7% de P2O5 e 0,6% de flúor (F). Só que, mesmo possuindo Ca em sua composição, ele não consegue corrigir o pH do solo.
Então, por que é difundido entre o meio agrícola que a aplicação de gesso maneja a acidez em profundidade? O que acontece é que, ao colocar gesso no solo, na presença de água, o radical sulfato e o Ca se separam. Este SO4- agora pode se ligar a cátions que estejam no perfil do solo, formando pares iônicos, e devido à sua mobilidade carrear esses íons para camadas subsuperficiais (20 a 40; 40 a 60 cm).
Na maioria das vezes, é nestas camadas que está a maior concentração de alumínio. Ao chegar nestes locais, com o aumento da presença de íons, a atividade do alumínio diminui. Esta diminuição da atividade do alumínio é muito bem explicada de forma lúdica: se em um parque de diversão só tem uma criança (alumínio), ela tem livre qualquer brinquedo que queira ir. Então, teoricamente, sua atividade fica no máximo.
Se neste parque começarem a chegar mais crianças (Ca, Mg e K), os brinquedos poderão ficar ocupados quando a primeira criança (Al) quiser utilizar. Ao esperar para utilizar o brinquedo, estamos dizendo que ela não está com a atividade máxima.

Peculiaridades do gesso

Outras reações que ocorrem com a adição de gesso aos solos é a formação de pares iônicos entre alumínio e enxofre (AlSO4+) e alumínio e flúor (AlF3). Estas formas são bem menos tóxicas às plantas. Pode ocorrer também a precipitação de sulfato de alumínio amorfo (alunita ou basaluminita). E não podemos deixar de destacar a grande importância do gesso, que é o fornecimento de enxofre às plantas.
Se o gesso é bem móvel no solo, estudos indicam que sua atuação atinge até 80 centímetros de profundidade, o que não podemos dizer do calcário, que apresenta mobilidade restrita, atuando principalmente nos 20 centímetros de profundidade.
Devido a isso, quando necessitar do uso de altas doses, este produto deve ser incorporado ao solo. Quando adicionado em superfície, sem incorporação, é indicado que se use no máximo 0,5 t/ha.

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Na dose certa

Para saber qual dose de calcário aplicar, existem vários métodos listados na literatura, como: método da neutralização da acidez trocável e da elevação dos teores de cálcio e magnésio; método da saturação por bases; método da curva de incubação e método do pH SMP.
Cada método é mais utilizado em determinada situação e região do País. Os dois primeiros métodos listados são os mais frequentes. Porém, algumas críticas têm se formado em cima deles, como a de que, em muitos casos, eles indicam doses teoricamente baixas de calcário.
Este fato está sendo objeto de muitos estudos, principalmente na região central do País. Nestes trabalhos é observada a utilização de doses de calcários de até 9,0 t/ha, com incremento de produtividade.
É bom ressaltar que na agronomia, por não ser uma área exata, cada caso tem sua peculiaridade. O uso de altas doses de calcário pode comprometer a produção agrícola. Em pH alto, a maioria dos micronutrientes catiônicos se precipitam, não estando disponíveis para a absorção pelas raízes das plantas. Pode ocorrer, ainda, um distúrbio na relação de concentração Ca:Mg:K no solo, e isto também ser prejudicial.
Já para determinar as doses de gesso, são considerados parâmetros como o teor de argila, o tipo (fósforo remanescente) e a camada que as raízes das culturas conseguem acessar.
Muitos técnicos estão recomendando altas doses de gesso (acima de 10 t/ha), conseguindo bons resultados. Mas, como na calagem, o uso de altas doses na gessagem também pode gerar algumas complicações, como o excesso de lixiviação de cátions, principalmente em solos com baixa CTC.

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