Dados da Organização das Nações Unidas (ONU) apontam que, em média, mulheres compõem mais de 40% da força de trabalho agrícola nos países em desenvolvimento. Uma contribuição relevante nesse setor.
No entanto, ganham significativamente menos do que os homens, pois não têm o mesmo nível de acesso a recursos produtivos e oportunidades. Essa lacuna de gênero é encontrada em muitos bens, insumos e serviços, como terra, gado, trabalho, educação, extensão, informação, serviços financeiros e tecnologia. As mulheres também estão subrepresentadas na maioria das instituições locais e nos mecanismos de governança e, portanto, têm menos oportunidades de influenciar os processos de tomada de decisão relevantes.
“Essa disparidade de gênero não afeta apenas o bem-estar das mulheres, mas o desempenho de todo o setor agrícola, bem como a economia em geral”, afirma a engenheira agrônoma Cynthia Moleta Cominesi. Em tempos de crise, por exemplo, essas desigualdades têm implicações exponencialmente negativas para as mulheres e para a sociedade e as colocam em uma posição extremamente volátil e vulnerável.
Cynthia acaba de lançar o livro “As donas da p**** toda – Cebration” com o capítulo “As, se eu fosse homem… não faria parte das ‘donas da p**** toda’”, que aborda a questão do empoderamento feminino e do poder de transformação da mulher, trazendo uma reflexão de que não podemos ficar de braços cruzados diante de nenhum tipo de preconceito e intolerância, “mesmo que nossa ação, no momento, pareça pequena, ela reverbera no universo e poderá, inclusive, salvar vidas”, enfatiza a agrônoma que foi uma das cinco mulheres entre 36 homens que se formaram em sua turma e durante os cinco anos de estudos sentiu a dificuldade de ocupar um espaço onde havia tão poucas mulheres.
Estudos da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) mostram que proporcionar às mulheres acesso igualitário a recursos e serviços contribuiria para aumentar a produtividade agrícola, aumentar a produção agrícola nos países em desenvolvimento e, por sua vez, ajudar a reduzir a fome e a desnutrição.
Um bom exemplo é o projeto “Mulheres no Campo”, idealizado em 2010 pela engenheira agrônoma, Cynthia Cominesi e desenvolvido pelo CAT- Sorriso enquanto trabalhava como coordenadora de projetos da instituição. O projeto foi pioneiro no agronegócio, iniciou com 30 mulheres, e está ativo até os dias de hoje. O grupo visa fortalecer a mulher na promoção da sustentabilidade no estado do Mato Grosso, ajudando na visibilidade dos talentos femininos na agricultura, promover diversas carreiras e desafiar os estereótipos tradicionais do setor.
As decisões na agricultura ainda são geralmente tomadas pelos homens e, portanto, as mulheres geralmente ficam com o trabalho manual. No entanto, capacitar as mulheres para liderar projetos e atividades agrícolas gera um efeito cascata em outras mulheres e no grupo mais amplo como um todo.
Para a engenheira agrônoma e empresária, é importante que a promoção da igualdade de gênero e o empoderamento socioeconômico das mulheres estejam no centro de qualquer intervenção com vista à promoção de uma agricultura sustentável. “A igualdade de gênero não é apenas uma questão de direitos humanos, mas uma pré-condição para garantir alimentação e agricultura sustentáveis”, finaliza Cynthia.