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Carlos Reisser Júnior
Doutor e pesquisador Embrapa Clima Temperado
Rodrigo Motta Azevedo
Engenheiro agrônomo e professor do IFSul
Eduardo Teixeira da Silva
Mestre, pós-graduando UFB
Clênio R. K. Böhmer
Doutor e professor do IFSul
O trabalho humano, juntamente com os recursos naturais da propriedade rural, é o sustentáculo do grande crescimento da população mundial. Apesar dos problemas de distribuição, a agricultura tem produzido alimentos suficientes para abastecer a população mundial, mostrando a capacidade dos nossos produtores e a grande disponibilidade de recursos naturais existentes em nosso meio rural.
Especialmente no Brasil, a produção da agricultura tem mostrado que este é um país de vocação agrícola, com uma participação próxima a 23% do seu PIB nos últimos 10 anos (CEPEA/ESALQ). Porém, sabe-se que, enquanto alguns países já esgotaram sua possibilidade de expansão da agricultura, o potencial de nosso país está longe de ser atingido.
Para manter e expandir este patamar produtivo, a pequena propriedade, protagonista importante no negócio agrícola, necessita buscar alternativas para seguir um rumo eficiente, visto que esta é uma parcela importante da produção de alimentos, que, no entanto, vem sofrendo com a tendência de urbanização de sua população, determinando uma redução de 7% entre 1995 e 2006 (IBGE) na sua mão de obra devido ao êxodo rural, além do envelhecimento de sua população.
Inovação
Uma alternativa de produção está sendo criada baseada na Resolução Normativa 482 da ANEEL, a qual permite a todo consumidor de energia elétrica, ligado ao sistema de distribuição, gerar energia até o total da carga instalada.
A norma permite conectar o sistema de geração de energia elétrica à rede de distribuição, não havendo necessidade de armazenamento de energia (em baterias) junto ao produtor, e que todo o excedente produzido seja compensado durante três anos. O sistema de geração chama-se mini ou microgeração distribuÃda.
Como a propriedade agrícola possui recursos naturais abundantes, como vento, espaço, radiação solar, resíduos e quedas d’água, todos estes podem ser transformados em energia elétrica e comercializados junto às distribuidoras de energia. Este comércio cria um produto comercializável, permitindo que a propriedade rural aumente sua produtividade e fonte de renda sem a necessidade de envolver e consumir a carente mão de obra ainda existente.
Solução
Uma pergunta que surge e foi feita pelo Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) é: “são viáveis economicamente estes sistemas de geração de energia renovável para a pequena propriedade agrícola de base familiar?“ Para responder, criamos um grupo de trabalho com técnicos da Embrapa Clima Temperado, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Sul Rio-grandense (IFSul), Universidade Católica de Pelotas (UCPel) e Fundação Estadual de Pesquisa Agropecuária do Rio Grande do Sul (FEPAGRO) financiados pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA).
O trabalho, iniciado no fim de 2013, focou inicialmente a produção eólica e a fotovoltaica, buscando determinar a eficiência e o rendimento dos equipamentos conectados à rede (grid-tie) disponíveis no mercado brasileiro, em propriedades rurais de base familiar.
Para isso, foram instalados conjuntos geradores de energia renovável em seis locais do Rio Grande do Sul: em uma instituição de pesquisa; em uma instituição de ensino e pesquisa; em um produtor de leite assentado da reforma agrária; em uma comunidade rural quilombola; e outros dois em cooperativas de pequenos agricultores.
Os quatro primeiros locais no Sul do Estado são abastecidos pela Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE) e os outros, no Centro e no Norte, são abastecidos pela AESSul e pela Rio Grande Energia (RGE), sendo estas três as maiores distribuidoras do Estado.
Após a instalação dos equipamentos nos diversos locais, compostos por um gerador eólico de 1.000 W de potência, um gerador fotovoltaico composto por quatro placas de 250 W, dois inversores elétricos, um relógio contador da energia gerada pelos dois sistemas e uma estação meteorológica automática, a conexão foi feita em todos juntos à CEEE, e estão em andamento os projetos de conexão a serem feitos nas outras distribuidoras.
Os equipamentos e componentes utilizados, encontrados no mercado brasileiro, são na maioria importados. Os geradores eólicos testados são de fabricação nacional.