Autores
José Braz Matiello – Engenheiro agrônomo do MAPA/Procafé – jb.matiello@gmail.com
Celio Landi Pereira – Engenheiro agrônomo – Fazenda Santa Helena
A erradicação dos cafeeiros da lavoura velha, visando a liberação da área para o novo plantio, pode ser feita por diversos processos, em todos eles sendo indicado preservar ao máximo o material fino, folhas e ramos que repõem nutrientes ao solo.
Um dos sistemas em uso, para eliminação dos cafeeiros, consiste no seu arranquio, por trator ou pá carregadeira, seguido da amontoa ou enleiramento do material mais grosso e sua queima, para deixar a área limpa e facilitar, em seguida, o preparo do solo.
Como funciona
Nas fazendas de café, frequentemente torna-se necessária a substituição de cafezais, os quais, por diferentes razões, se tornaram improdutivos. Nessa substituição, seja com novo cafezal ou com outra cultura, a primeira etapa consta da eliminação da lavoura antiga, ou seja, a erradicação dos cafeeiros velhos, para deixar a área livre para início da preparação do terreno, para receber o novo cultivo.
Existem diferentes sistemas de erradicação de cafeeiros, seja mediante arranquio e amontoa, seja por poda de esqueletamento prévio, seguida de arranquio e aproveitamento de lenha, sempre com o uso de maquinário munido de lâmina ou de corrente, com dificuldades no manuseio do material erradicado.
Um sistema mais novo consta do uso de um tipo de trincha pesada, para triturar todo o material dos pés de café, deixando esses resíduos como uma forma de adubo orgânico, para melhorar a fertilidade do solo.
É fácil entender que quanto mais se puder aproveitar o material vegetal dos cafeeiros, maior será o fornecimento de nutrientes existentes nesse material. Então, devem ser priorizados os sistemas que resultem nesse aproveitamento, seja no todo ou admitindo-se, no máximo, a retirada, para fora, de apenas a lenha grossa, do tronco dos cafeeiros.
O material de uma lavoura adulta pode representar mais de 500 kg/ha de NK e de outros macro e micronutrientes que serão incorporados ao solo e numa forma orgânica, com esses nutrientes sendo lentamente liberados, portanto, com o melhor aproveitamento, sem perdas.
Isso corresponde a, pelo menos, 2.500 kg/ha de uma fórmula 20-05-20, a um preço referência de cerca de R$ 2 mil por tonelada, que seria um valor de cerca de R$ 5 mil/ha de ganho com a prática de aproveitamento do material.
Manejo
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Um exemplo da prática de aproveitamento dos resíduos dos cafeeiros erradicados pode ser observado pelo trabalho realizado com o uso na erradicação de cafeeiros de um equipamento na forma de uma trincha pesada, munida de lâminas cortantes, chamada de Ecotritus, de fabricação da empresa Himev.
O estudo foi feito na Fazenda Sta Helena, em Areado (MG), sobre dois tipos de lavouras, a primeira da cultivar Mundo Novo, com 24 anos de idade, e a segunda da cultivar Icatu Vermelho, com 28 anos de idade, ambas no espaçamento de 3,7 x 0,8 m.
Foram erradicados 14 ha de lavouras. O equipamento Ecotritus utilizado foi do modelo HP 240, tendo 2,10 m de largura, sendo usado acoplado em um trator de 110 CV de potência, com redutor de velocidade, que operou em marcha a ré, com velocidades variadas.
Na lavoura de 24 anos e diâmetro do tronco menor, até 15 cm, a operação ocorreu a 700 m por hora e o equipamento operou sobre o pé de café inteiro, fazendo um bom serviço, deixando todo o material completamente triturado, cortando o pé quase rente ao solo.
Na lavoura com troncos mais grossos e com grande massa, na lavoura de Icatu, com mais de 28 anos de idade, foram observadas dificuldades de operação com esse equipamento, no modelo e potência de trator utilizados. O equipamento era capaz de triturar os cafeeiros, porém, com a grande massa de ramos, o caminhamento do trator, de ré, ficava embolado, provavelmente pela pequena distância entre pés de cafeeiros nas linhas, não dando tempo para a trituração no curto espaço entre um pé e outro.
Foi, então, feita uma adaptação de manejo na erradicação, a qual mostrou bons resultados. Colocou-se um trator cafeeiro comum decotando os cafeeiros (a cerca de 1,5 m de altura) e logo trinchando o material fino. Em seguida, vinha a operação com o Ecotritus, triturando toda a parte grossa, pesada, do cafeeiro, nesse caso ganhando-se em rendimento, podendo-se, nessa condição, operar com maior velocidade, de até 1,5 km/h.
Resultados
Com base nos resultados obtidos, foi possível alcançar o rendimento, respectivamente, nas duas condições de operação teórica, de 3,8 horas e de 1,9 h/ha, o que deve ser acrescido de cerca de 10 – 15% para manobras e paradas de abastecimento. O custo aproximado, por hectare, ficou em R$ 1.500,00.
No final do trabalho ficavam somente pequenos tocos, com menos de 5 cm de altura, para fora do solo. No preparo, para aproveitamento da área, em seguida no caso de plantios de café, quando observado o mesmo espaçamento de rua, bastaria sulcar e plantar no espaço entre duas linhas antigas de café.
Deste modo, os pequenos tocos, e algumas brotações que neles aparecem, seriam cortados, por roçadeiras ou trinchas normais até morrerem, isto ao mesmo tempo em que se faz o controle do mato. Então, os tocos e suas raízes ali apodrecem rapidamente.
No caso de mudança de espaçamento no novo cafezal ou cultivo, em rotação, de um cereal, como deve ocorrer no caso em estudo, será dado um descanso de um ano na área, aproveitando com cultivo de soja/milho. Assim, foi possível arrancar os tocos, facilmente, com o uso de um subsolador, fazendo-se catação e amontoa dos tocos com seu sistema radicular primário.
Alternativa
Um sistema alternativo para aproveitamento do material vegetal dos cafeeiros, para quem não puder contar com o equipamento pesado, consta do seguinte: começar pelo esqueletamento e decote baixo da lavoura, baixando todo esse material fino ao solo.
Então, passar uma trincha triturando esse material. Ficam em pé apenas a parte mais grossa dos troncos, que será arrancada, ou puxada por corrente por dois tratores, ou com trator comum ou pá carregadeira com lâminas.
Então, esse material grosso pode ser amontoado e queimado, ou pode ser retirado e aproveitado como lenha nos secadores de café.
Com o aproveitamento dos resíduos da lavoura de café erradicada é feita uma boa melhoria na fertilidade do solo, então, as culturas que sucederão o cafezal erradicado, seja novo, seja cultivo de grãos, serão beneficiadas com um melhor desenvolvimento e produtividade, além da possibilidade de economia nas adubações desses cultivos em seguida, logicamente observando a análise prévia do solo.
Os possíveis erros na prática de erradicação de cafeeiros, com o aproveitamento dos resíduos dos cafeeiros, são aqueles vinculados à eficiência operacional do maquinário, devendo-se utilizar tratores e equipamentos apropriados e mão de obra (operadores) treinada.
Viabilidade
O custo-benefício da técnica de aproveitamento de resíduos do cafezal erradicado pode ser avaliado da seguinte forma: no exemplo da fazenda onde se efetuou a erradicação, teríamos um custo da prática de cerca de R$ 1.500,00/ha, fazendo um bom serviço e este custo.
Com sobra, seria compensado pelo retorno, na forma de uma adubação, como especificado anteriormente, ao equivalente a cerca de R$ 5.000,00, portanto, com um bom benefício.