Douglas José Marques
Professor de Olericultura e Melhoramento Vegetal da Universidade José do Rosário Vellano (Unifenas)
Hudson Carvalho Bianchini
Professor de Fertilidade do Solo da Unifenas
Danos causados por estresses abióticos são, normalmente, ocasionados por seca, salinidade, elementos tóxicos (como metais pesados) e reduzem a produtividade das culturas. Os estresses abióticos ocorrem, com maior intensidade, em praticamente todas as áreas agrícolas do Brasil, sendo que, em algumas áreas, os estresses por seca e calor podem não estar presentes em determinado ano, mas em anos subsequentes. As regiões de clima tropical têm sido bastante afetadas pelas mudanças climáticas, o que intensifica o estresse abiótico das plantas cultivadas nestas regiões.
As mudanças climáticas estão interagindo com a agricultura em duas frentes principais: a demanda crescente por alimentos e o cenário de aquecimento global e alteração dos padrões de precipitação pluviométrica.
Muitas tecnologias de manejo têm sido desenvolvidas para atenuar os estresses, principalmente o estresse hídrico. No Brasil, por exemplo, nas últimas décadas intensificou-se o plantio direto, que favorece a retenção de água no solo, ajuda na formação de agregados e diminui a erosão.
Atualmente, as empresas de fertilizantes têm criado produtos para reduzir os efeitos adversos dos estresses nas plantas, como por exemplo, fosfitos, produtos à base de silício e extrato de algas marinhas.
Os fosfitos
O fosfito é rapidamente absorvido pelas raízes, folhas e caule, sendo assimilado na sua totalidade, o que não acontece com os fosfatos. Para ser absorvido, ele exige menos energia da planta, favorecendo a absorção de cálcio, boro, zinco, molibdênio, potássio e outros elementos. Sua ação na planta é sistêmica, sendo translocado pelo xilema e pelo floema.
Dependendo da cultura, a translocação das folhas para as raízes pode ocorrer num prazo de até 24 horas, permanecendo ativo por até 160 dias, já que os fosfitos não são metabolizados pelas plantas.
A utilização do fosfito também amplia a chance de recuperação da lavoura quando algum tipo de estresse abiótico está afetando o desenvolvimento. Além disso, ele proporciona vários efeitos positivos às culturas:
â–º Aumenta o teor de clorofila na planta;
â–º Estimula a fotossíntese;
â–º Favorece o desenvolvimento radicular.
O silício
Apesar de o silício ser um dos elementos químicos mais abundantes na crosta terrestre, os teores solúveis e disponíveis no solo são baixos. Por isso, a aplicação de produtos à base de Si ameniza os efeitos de estresses de natureza abiótica e biótica, como o aumento da resistência das plantas a pragas e doenças.
O Si é depositado, com maior frequência, nas regiões da epiderme foliar junto às células-guarda dos estômatos e outras células epidérmicas. O acúmulo de sÃlica nos órgãos de transpiração leva à formação de uma dupla camada de sÃlica, logo abaixo da epiderme, agindo como barreira mecânica contra a invasão de fungos e insetos.
Na redução dos efeitos de estresse abiótico, os mecanismos envolvidos ainda são pouco compreendidos e variam nas diferentes culturas e solos, porém, resultados positivos de vários trabalhos comprovam esta eficiência.
Fertilizantes e corretivos à base de silício estão entre os produtos citados na literatura como indutores desta resistência. A indução de resistência nas plantas é uma estratégia de manejo que pode provocar mudanças tanto na qualidade como na quantidade de compostos que atuam no metabolismo secundário, tais como as proteínas de defesa, acúmulo de oxigênio reativo, além de favorecer a qualidade nutricional do alimento e reforçar as barreiras estruturais da planta.
A indução de resistência envolve a ativação de mecanismos de defesa latentes existentes nas plantas em resposta ao efeito de agentes bióticos ou abióticos.
Na prática
Em plantas de arroz, o Si estimula a produção de compostos que dificultam a colonização das plantas por fungos, além de formar uma camada de sÃlica na epiderme, o que reduz a incidência de brusone, entre outros trabalhos. Portanto, a absorção de Si proporciona vários benefícios para as plantas.
Algas marinhas
Outro produto que tem propiciado benefícios para as plantas é o extrato de alga da espécie Ascophyllumnodosum (L.), popularmente conhecida como alga parda ou marrom, devido à coloração marrom amarelada que apresenta quando viva. A alga é colhidas nas águas do Atlântico Norte, na costa do Canadá, sendo uma fonte natural de macro e micronutrientes (N, P, K, Ca, Mg, S, B, Fe, Mn, Cu e Zn), aminoácidos (alanina, ácido aspártico e glutâmico, glicina, isoleucina, leucina, lisina, metionina, fenilalanina, prolina, tirosina, triptofano e valina), citocininas, auxinas, e ácido abscÃsico, que são substâncias que afetam o metabolismo celular das plantas e conduzem ao aumento do crescimento, bem como ao incremento da produtividade.