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Estudo da USP pode ajudar no controle e prevenção da ferrugem do cafeeiro

 

Fernando Dill Hinnah

Engenheiro agrônomo, doutor em Engenharia de Sistemas Agrícolas – ESALQ/USP

fhinnah@usp.br

Paulo Cesar Sentelhas

Professor do Departamento de Engenharia de Biossistemas – ESALQ – USP

 

Fotos Fernando Dill Hinnah
Fotos Fernando Dill Hinnah

Em 1970 o fungo da ferrugem – denominado Hemileia vastatrix – foi reportado em cafezais na Bahia, rapidamente se expandindo para todas as regiões produtoras do Brasil. Desde então, tornou-se necessária a utilização de defensivos agrícolas para manter as epidemias sob controle,modificando os cuidados necessários na lavoura cafeeira, e elevando custos. A doença ocasiona danos todos os anos na maior parte dos 1,5 milhão de hectares cultivados com cafezais da espécie arábica. As plantas da espécie arábica geralmente apresentam maior sensibilidade à doença, sendo os mais afetados.

Controle

Atualmente o controle da ferrugem do cafeeiro é realizado com aplicação de fungicidas, sendo o método mais eficiente no combate a doença em cultivares suscetíveis.

Os fungicidas sistêmicos, que se movem na planta ou nas folhas, aplicados para a ferrugem possuem três princípios ativos distintos: triazóis, estrobilurinas e carboxamidas. Os triazóis são a base do controle, utilizados na aplicação realizada no solo, geralmente no início das chuvas, que ocorre de outubro a novembro. Os fungicidas deste princípio ativo são absorvidos pelas raízes, e se movem em direção a parte áerea, protegendo a área foliar. As estrobilurinas se movem apenas nas folhas, então são sempre pulverizadas pela parte aérea, tendo sido o segundo princípio ativo a ser utilizado no combate a doença. As carboxamidas são o princípio ativo mais recente, com comportamento na planta semelhante as estrobilurinas, e usada nos fungicidas mais modernos para o combate a ferrugem.

O número de aplicações de fungicidas sistêmicos é variável por cada região de cultivo do cafeeiro. No geral, de duas a três aplicações são realizadas, com período residual de 60 dias. Fungicidas a base de cobre também são utilizados no controle, porém possuem um período residual menor, por vezes sendo aplicado intercaladamente com os sistêmicos.

Àesquerda, Fernando Dill Hinnah, doutorando em Engenharia de Sistemas Agrícolas, e Paulo Cesar Sentelhas , professor da ESALQ
Àesquerda, Fernando Dill Hinnah, doutorando em Engenharia de Sistemas Agrícolas, e Paulo Cesar Sentelhas , professor da ESALQ ” USP – Fotos:Fernando Dill Hinnah

Estudos

As doenças de plantas ocorrem quando três condições do triângulo epidemiológico são satisfeitas: hospedeiro suscetível, patógeno presente na área e ambiente favorável. Pensando no terceiro item deste triângulo epidemiológico, pesquisadores desenvolveram um modelo de previsão da ferrugem do cafeeiro que, baseado em muitos anos de ocorrência da doença e a dados meteorológicos, consegue antecipar a ocorrência da doença, possibilitando indicar aos produtores a necessidade do controle químico para combater o fungo.

Após o desenvolvimento do modelo, o mesmo foi testado em condições de campo, próximasdo que o produtor encontra no dia a dia. Dessa forma, foi possível analisar a eficiência do modelopara o manejo da doença, avaliando-se sua praticidade e eficiência.

Para isso, sete experimentos foram realizados em lavouras comerciais de Varginha, Boa Esperança, Buritizal, Uberlândia, todas no interior de Minas Gerais, e em uma área em Campinas (SP). Os experimentos em Varginha e Boa Esperança foram conduzidos nas safras 2015-16 e 2016-17. Desta forma, além da boa diversidade de ambientes, obteve-se uma representatividade de mais de uma safra. Assim, os objetivos destes experimentos foram conhecer como o controle da doença com este modelo se dá nos diferentes locais em que o cafeeiro é cultivado em larga escala.

Com a compreensão de como a doença se desenvolve, o modelo para o manejo da doença pode prever com 30 dias de antecedência se a ferrugem irá evoluir ou não. Desta forma, os avisos relacionados a evolução prevista da doença são dados com uma boa antecedência, o que permite aos produtores o planejamento da aplicação dos fungicidas. Além disso, o modelo não requerobservações da doença realizadas no campo pelos produtores, nem que eles possuam estações meteorológicas instaladas em suas propriedades. Os dados meteorológicos usados no modelo são apenas a umidade relativa do ar e a temperatura mínima, duas variáveisobtidas na maioria das estações meteorológicas.

Sintomas da ferrugem na lavoura cafeeira - FotosFernando Dill Hinnah
Sintomas da ferrugem na lavoura cafeeira – FotosFernando Dill Hinnah

Detalhes

No estudo também foi verificado que a temperatura mínima diária é altamente relacionada com a temperatura durante o período de molhamento foliar. E a umidade relativa diária é altamente relacionada a duração do período de molhamento foliar, ou seja, quantas horas por dia a folha ficou molhada. Estes dois fatores são essenciais para a infecção de Hemileia vastatrix, pois os esporos do fungo têm um funcionamento semelhante ao de uma semente -precisam de água e temperatura para germinar. Após a germinação, se o patógeno obter êxito em penetrar a folha, irá ocorrer a infecção, e a posterior colonização pelo fungo dentro do tecido hospedeiro. Todos estes processos irão culminar nas lesões alaranjadas da ferrugem que acabam reduzindo a produtividade das lavouras.

E quando os experimentos foram realizados, o resultado foi promissor. Em todos eles, com exceção da área em Campinas, as parcelas pulverizadas de acordo com a favorabilidade ambiental tiveram o melhor controle da ferrugem. Na área de Campinas, devido às altas quantidades de esporos no ambiente de lavouras ao redor sem o devido controle da doença, houve maior incidência da ferrugem, ou seja, um fator externo e fora de controle. Este local foi, inclusive, um dos que apresentou maiores quantidade de ferrugem durante a safra, demonstrando que os esporos do fungo vindos de talhões muito próximos resulta em alto impacto nas lavoura vizinhas.

Já em Uberlândia e Buritizal a ferrugem foi muito bem controlada, mesmo o modelo tendo sido desenvolvido na área do Sul de Minas. E para Varginha e Boa Esperança, o modelo também resultou no melhor controle da doença, sempre com menores valores de incidência do que com os métodos tradicionais, que não levam à favorabilidade do ambiente em consideração.

 

Essa matéria completa você encontra na edição de julho de 2018 da Revista Campo & Negócios Grãos. Adquira o seu exemplar para leitura completa.

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