18.5 C
Uberlândia
domingo, novembro 24, 2024
- Publicidade -spot_img
InícioDestaquesFertilizante especial aumenta absorção de nitrogênio em cana

Fertilizante especial aumenta absorção de nitrogênio em cana

Fabrício Custódio de Moura Gonçalvesfabricio-moura-07@hotmail.com

Gean Charles Monteirogean.monteiro@yahoo.com.br

Doutores em Agronomia/Horticultura – UNESP/FCA, Botucatu

Cana – Foto: shurtterstock

No cultivo da cana-de-açúcar, o solo é o principal fornecedor de nitrogênio e a aplicação e utilização eficiente deste nutriente são fundamentais para o desenvolvimento de plantações saudáveis e de alta produtividade.

O uso de nitrogênio altamente concentrado e estabilizado com inibidor de uréase reduz perdas por volatilização e gera benefícios como: redução de custos com armazenagem, melhora no manejo operacional e diminuição do potencial de queima de folhas.

Adubação nitrogenada na cana-de-açúcar

A cana-de-açúcar é, sem dúvida, uma cultura de grande relevância e importância no cenário agrícola brasileiro. De acordo com a Conab, a área colhida na safra de 2020/21 foi de mais de 8,6 milhões de hectares gerando, pela conversão de mais de 654 milhões de toneladas de colmos colhidas, cerca de 41 milhões de toneladas de açúcar e 29 bilhões de litros de etanol para a economia nacional.

Apesar de todos os desafios e dificuldades enfrentados pela cana-de-açúcar nos últimos anos, o cenário produtivo vem mudando de forma positiva e consistente, impulsionado, principalmente, pela mudança de abordagem quanto à forma de fazer a adubação e nutrição das lavouras e de olhar para a eficiência dos produtos utilizados.

O nitrogênio é um macronutriente muito requerido durante o ciclo de produção da cana-de-açúcar, seja no estabelecimento inicial da cultura, na fase vegetativa, formação do sistema radicular, maior durabilidade e manutenção da soqueira ou produção de colmos.

Por se tratar de uma cultura extremamente exigente neste elemento, aplicações da ordem de 90 a 120 kg/ha de nitrogênio são habituais de serem encontradas em diversas situações. Mas, mais do que a dose, o entendimento sobre a melhor fonte para aportar o nitrogênio em adubações de soqueira de cana sempre foi alvo de questionamento pelos produtores.

E, neste tópico, a ureia foi considerada por algum tempo como uma fonte inferior às demais pela única razão de que, em algumas situações, se aplicada na superfície do solo, parte do seu nitrogênio poderia ser volatilizado, ou seja, perdido na forma de gás amônia e não ser utilizado pelas plantas.

Volatilização de NH3 no canavial

O desenvolvimento de fertilizantes nitrogenados de eficiência aumentada torna-se fator imperativo para o alcance de maiores produtividades em cana. Existem diferentes fertilizantes nitrogenados para a adubação dos canaviais.

No caso da ureia (fertilizante comumente usado pelos agricultores), quando aplicada em canaviais, as perdas por volatilização são bastante variáveis, chegando até 30 a 40% de N perdido na forma de NH3, ou seja, literalmente o adubo é vaporizado da lavoura, reduzindo produtividade e lucratividade.

Esse efeito é mais expressivo quando em presença da palhada, pelo fato de a atividade da urease ser maior em solos com resíduos e é esta enzima (proveniente de microrganismos, plantas e animais) a responsável por acelerar/catalisar a reação de “quebra” ou hidrólise da ureia.

Além disso, a temperatura, pH, umidade e a quantidade de resíduos orgânicos na superfície do solo têm influência na atividade da urease. Dessa forma, a interação desses fatores determina a variabilidade na eficiência de utilização de N da ureia pelas culturas. Após a aplicação de ureia, ocorre a formação de carbonato de amônio durante a sua hidrólise (equação 1).

Este é um processo rápido nos solos (três a sete dias após a aplicação da ureia) e envolve o consumo de prótons, aumentando o pH do solo ao redor do grânulo do fertilizante, proporcionando perdas por volatilização, independente do pH original do solo.

Figura 1 – Equação 1.

canaviais

O carbonato de amônio é instável e se decompõe em amônia (parte fica no solo) e gás carbônico, ambos facilmente vão para a atmosfera. Além da ureia, destacam-se também outras fontes de N, como o nitrato de amônio e o sulfato de amônio.

No entanto, em ambos a perda de nitrogênio ocorre por meio de lixiviação, sendo que o sulfato de amônio apresenta menor concentração do nutriente entre os dois e maior poder de acidificação do perfil do solo.

Atualmente, os fertilizantes nitrogenados de eficiência aumentada podem ser classificados em três categorias, conforme as tecnologias utilizadas nos seus processos de produção: (I) estabilizados; (II) de liberação lenta e (III) de liberação controlada (Figura 2).

Figura 2 – Classificação dos fertilizantes nitrogenados de eficiência aumentada. Siglas: NA = nitrato de amônio; AS = sulfato de amônio; UF = ureia formaldeído; IBDU – isobultiraldeido diureia; CDU = ciclo diureia; NBPT = N-(n-butil) tiofosforico triamida; DMPP = 3,4 dimetilpirazol fosfato; SCU = ureia revestida com enxofre elementar (S0); PSCU = ureia revestida com polímeros e S0; URP = ureia revestida com polímeros.

Uso de fertilizantes estabilizados (com inibidores de urease)

A adição de inibidores de urease aos fertilizantes nitrogenados seria uma excelente estratégia, sobretudo em temperaturas amenas e solo seco, comuns no período de maio a setembro, a hidrólise da ureia é mais lenta, comparado ao que ocorre no verão, o pico de volatilização pode ocorrer já no primeiro dia, após a aplicação do fertilizante.

Os fertilizantes nitrogenados estabilizados são aqueles nos quais a ureia é tratada com aditivos para estabilização do N. Esse grupo é subdividido em aditivos para inibição da urease e aditivos para inibição da nitrificação (Figura 3).

Figura 3 – Modo de ação dos inibidores da urease e da nitrificação utilizados como aditivos em fertilizantes nitrogenados.

Os principais inibidores de urease são: NBPT, hidroquinona, cobre, boro e catecol. Entre os inibidores de nitrificação estão os compostos químicos: DMPP, DCD, tiossulfato de amônio e o nitrapyrin.

O inibidor de urease mais utilizado em produtos comerciais é o NBPT. Para adição à ureia, o NBPT é dissolvido em um solvente não aquoso (em geral propilenoglicol) acrescido de corantes que ajudam na observação da distribuição do aditivo no fertilizante.

A Mosaic Fertilizantes, em seu extenso portfólio possui a linha Excellen, que são produtos com ureia estabilizada que consiste no tratamento prévio do fertilizante nitrogenado com inibidor de urease, que atua sobre a molécula de ureia por um período pré determinado, minimizando a volatilização de amônia, como o inibidor de urease N-(n-butil) triamida tiofosfórica (NBPT).

Esse aditivo inibe a degradação enzimática da ureia por um período de até 14 dias, reduzindo as possíveis perdas de amônia, podendo representar mais uma opção de manejo do nitrogênio na cana.

Em cana-de-açúcar, a eficiência desse inibidor foi comprovada, proporcionando reduções de 15 a 78% nas perdas por volatilização de ureia aplicada sobre a palha, dependendo das condições climáticas nos dias subsequentes à aplicação de nitrogênio. Além da maior eficiência de uso do nitrogênio pela cana, a utilização de inibidores da urease gera ganhos com a redução de custos com armazenagem, tempo de aplicação e beneficia muito as adubações pela grande versatilidade de fórmulas e maior segurança no manejo e aplicação dos produtos.

De maneira em geral, a estabilização do N da ureia devido à adição de NBPT em cana tem como principal benefício o atraso no pico de volatilização, que proporciona: maior número de dias, após a adubação nitrogenada, para sua incorporação pelas águas das chuvas ou irrigação; redução das perdas de N por volatilização devidas à hidrólise excessiva da ureia na superfície do solo; aumento da absorção de N, da produtividade, da eficiência da adubação com N e da qualidade da cultura.

Resultados de pesquisa

Trabalhos revelam, em condição de campo com cana-de-açúcar, que o inibidor de urease NBPT (N-(n-butil) tiofosfórico triamida), foi eficiente em reduzir 50 a 60% as perdas por volatilização. Em época chuvosa, o efeito do inibidor da urease é de três a cinco dias, coincidindo com o intervalo de dias das maiores perdas. Além de favorecer o atraso de picos de volatilização, também ajuda a reduzir as perdas de N por emissão de N-NH3.

Em milho, a perda de N por volatilização da ureia + NBPT foi de 8% do N aplicado. Portanto, dos 150 kg ha-1 de N aplicados em cobertura, 12 kg ha-1 foram perdidos por volatilização.

A ureia tratada com NBPT promoveu 79% de redução nas perdas por volatilização em comparação à ureia convencional. Também promoveu redução e atraso nas perdas de N por volatilização, que começaram a aumentar no 5º dia após a adubação nitrogenada de cobertura, com valor máximo igual a 2,5% do N aplicado, 10 dias após a sua aplicação na superfície do solo.

Cuidados e recomendações

Deve-se planejar a adubação nitrogenada da cana-de-açúcar levando-se em consideração o ciclo da cultura, uma vez que essa adubação pode tanto beneficiar a formação do canavial em sua implantação quanto suprir a necessidade de nitrogênio da soqueira de cana, sendo que ambas as adubações devem ser feitas apoiadas em análises de solo e/ou foliares feitas corretamente.

Além disso, diversos fatores devem ser avaliados conjuntamente, como genética da planta, potencial do solo, condições de manejo, clima, fornecimento de água e controle de pragas e doenças.

A capacidade de inibição da atividade da urease é influenciada por diversos fatores relacionados ao processo de produção, formulação e armazenamento da ureia tratada com NBPT. O tipo de solvente, seu tamponamento, a concentração de NBPT e a forma de sua aplicação à ureia, bem como as condições climáticas no local de armazenamento estão diretamente relacionados à qualidade do produto.

Por exemplo, quando a ureia é tratada com NBPT + solvente propilenoglicol após o seu processo de granulação ocorre 81% de degradação do NBPT após nove meses e em temperatura de armazenamento de 25ºC. Quando o NBPT é adicionado antes do acabamento do grânulo de ureia (new melt) a sua degradação diminui para 25%. À temperatura de 25ºC, o tempo de meia vida do NBPT é de 74 dias. 

Os fatores edafoclimáticos, como pH, textura e matéria orgânica do solo, evapotranspiração, temperatura, umidade relativa do ar e velocidade do vento também influenciam a eficiência da ureia tratada com NBPT.

A quantidade de chuvas no período posterior à adubação, a temperatura e a acidez do solo são fatores determinantes para a eficiência do NBPT na redução da atividade da urease. Precipitações pluviométricas em um intervalo de três a sete dias após a adubação com ureia + NBPT ajudam a reduzir as perdas por volatilização de NH3. Já quando sua aplicação é realizada em solos ácidos e com temperatura elevada, ocorre aumento na degradabilidade do NBPT.

Na busca pela maximização da eficiência no campo, os fertilizantes especiais podem ser utilizados em substituição aos fertilizantes minerais convencionais, ou associados aos mesmos, com o objetivo de fornecer de forma eficaz e equilibrada nutrientes às culturas.

No entanto, o acompanhamento de um técnico especializado e o conhecimento da cana, desde o planejamento, é essencial para maximizar os resultados.

Tecnologia

Para auxiliar o produtor na tomada de decisão sobre a adubação, a Mosaic Fertilizantes conta o aplicativo “Nutrição de Safras” (https://www.nutricaodesafras.com.br/), desenvolvido para facilitar as análises de solo feitas por agricultores e profissionais agrônomos. Disponível gratuitamente em versões web, IOS e Android, a plataforma faz recomendação dos nutrientes necessários e, com base nesse dado, os fertilizantes que devem ser utilizados para garantir lavouras mais eficientes, produtivas e sustentáveis.

Custo-benefício

A incorporação de compostos químicos, em pequenas quantidades, à ureia com o objetivo de estabilizar o nitrogênio é uma das tecnologias mais eficientes para aumentar sua eficiência e de custo recompensável.

Os fertilizantes nitrogenados estabilizados, de liberação lenta ou controlada são uma realidade no mundo. Existem diferentes tipos de tecnologias de produção que influenciam no seu custo. Em função da tecnologia de produção, os preços dos fertilizantes aumentam na seguinte ordem: convencionais < estabilizados < blends < liberação lenta < liberação controlada.

O custo da ureia com inibidor de urease é 10 a 30% maior em comparação ao custo da ureia convencional, sem aditivos.

Fica claro que, com os novos patamares de produtividade e a necessidade de aumento de longevidade do canavial, deve-se aumentar a atenção quanto ao balanço e eficiência das adubações das soqueiras da cana-de-açúcar.

A avaliação criteriosa das condições do solo e expectativa de produtividade e o uso de produtos com performance comprovada são fatores determinantes para que a lavoura possa converter, com maior eficiência, os nutrientes aportados nas adubações, transformando-os em maior produção e melhor qualidade de cana-de-açúcar.

Esses fertilizantes são produtos altamente concentrados e estabilizados com inibidor de urease, que reduzem perdas por volatilização. E, no final, isso se traduz em redução de custos com armazenagem, melhora no manejo operacional e diminuição do potencial de queima de folhas e, consequentemente maior rentabilidade, sem dúvida, incrementando a sustentabilidade produtiva da cultura.

Artigo anterior
Próximo artigo
ARTIGOS RELACIONADOS

Calagem, gessagem e nutrição da goiabeira

Talita de Santana Matos Doutora em Agronomia Elisamara Caldeira do Nascimento Doutora em Agronomia e professora - Sesitec - MT Rafael Campagnol Professor de Olericultura " Universidade Federal...

Como realizar o plantio da cana-de-açúcar?

AutoresCibele Nataliane Medeiros Gerente Técnica do Mercado da Biovalens Renato Passos Brandão Gerente do Deptº Agronômico Raphael Bianco Roxo Rodrigues Gerente Técnico Regional Conforme...

Controle da primeira geração da cigarrinha-da-raiz pode erradicar praga

Para definir rapidamente os locais que exigem ações prioritárias de controle, a Cyan Agroanalytics possui uma ferramenta denominada "Balanço Hidríco"

Hérnia das crucíferas é sério problema em repolho

  Hélcio Costa José Aires Ventura Pesquisadores do Incaper A hérnia das crucíferas é uma doença causada pelo fungo de solo Plasmodiophora brassicae, que sobrevive por muitos anos...

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui
Captcha verification failed!
Falha na pontuação do usuário captcha. Por favor, entre em contato conosco!