Regina Maria Quintão Lana – Professora de Fertilidade e Nutrição de Plantas – Universidade Federal de Uberlândia (UFU)
Luciana Nunes Gontijo – Doutoranda em Produção Vegetal – UFU
Mara Lúcia Martins Magela – Doutoranda em Fitotecnia – UFU
Rosana Aline Ribeiro da Mota – Mestranda em Produção Vegetal – UFU
O milho é uma cultura muito importante para a economia brasileira, sendo um dos cereais mais produzidos e consumidos no mundo. Segundo o levantamento da CONAB de 2019/20, a área plantada de milho no Brasil foi de 18.525,8 hectares, com uma produção total de aproximadamente 102.503,0 toneladas e produtividade 5.53 kg ha-1, representando um acréscimo de 2,5% na produção em relação à safra anterior.
A produção de milho de segunda safra, ou milho safrinha, tem maior importância nesse cenário, sendo que a safra 2019/20 apresentou incrementos de aproximadamente de 2,6% em relação à safra 2018/19, com valores estimados em 75.054,5 toneladas (CONAB, 2020).
O Centro-Oeste é a principal região produtora do milho safrinha, com uma área plantada atingindo 8.926,2 hectares, contra 8.179,2 hectares alcançados na safra anterior (incremento de 9,1%,). A produção atingiu 53.917,5 toneladas, representando incremento de 7,4%, comparada ao exercício passado (CONAB, 2020).
Novas tecnologias
Grande parte dessa região está localizada no Bioma Cerrado, que se caracteriza por apresentar características naturais limitantes de solo e clima para a obtenção de altas produtividades, como solos altamente intemperizados, de baixa fertilidade natural, alta saturação por alumínio, baixa quantidade de matéria orgânica, além de escassez de água em determinadas épocas do ano.
Nesse cenário, a obtenção de altas produtividades requer uma série de práticas fundamentais para a expressão máxima do potencial produtivo dos híbridos atualmente utilizados. A exemplo, a inclusão de novas tecnologias em fertilizantes que priorizem, principalmente, a ação da matéria orgânica dentro dos seus processos, como os fertilizantes organominerais.
Devido às suas caraterísticas (associação de uma matriz orgânica bioestabilizada juntamente com fontes minerais), os organominerais representam uma excelente fonte para o manejo da adubação de diferentes culturas, incluindo cereais.
Estes fertilizantes são capazes de mitigar estresses abióticos e bióticos, como oscilações climáticas e incidência de pragas e doenças, ao modular a eficiência dos processos fisiológicos na planta, induzir respostas de defesa, potencializar a produtividade, vigor e qualidade das culturas (Stadnik et al., 2017, 2018).
Resultados na safrinha
Os fertilizantes organominerais no cultivo de milho safrinha têm aumentado devido aos diversos benefícios que a sua aplicação tem proporcionado ao sistema solo-planta, como aumento da taxa de mineralização e da CTC através da retenção e liberação de maiores teores de macro e micronutrientes; redução dos processos de perdas, como lixiviação de N e K, volatilização de NH3 e adsorção do P, bem como promoção do efeito tampão através da matéria orgânica.
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Além disso, os fertilizantes organominerais promovem aumento da estabilidade de agregados melhorando a estrutura, aeração do solo e aumento da capacidade de retenção de água. Também contribuem para a proliferação de microrganismos responsáveis por solubilizar os fertilizantes minerais e aumentam a população de microrganismos benéficos ao solo e às plantas.
Assim, a matéria orgânica bioestabilizada presente nos fertilizantes organominerais confere a esse insumo uma atuação como condicionador de solo capaz de potencializar todos esses efeitos benéficos para as propriedades químicas, físicas e microbiológicas do mesmo, bem como no metabolismo das plantas, favorecendo fatores fisiológicos e bioquímicos essenciais para obtenção de altas produtividades.
Tais resultados positivos relacionados aos fertilizantes organominerais estão intimamente ligados à ação das substâncias húmicas (ácido húmico, ácido fúlvico e huminas) presentes na fração orgânica do fertilizante.
Pesquisas
Para a produção de milho, os benefícios do fertilizante organomineral podem ser confirmados por meio de trabalhos científicos, como o de Fernandes e colaboradores (2020), que avaliaram o uso de fertilizantes oraganominerais fosfatados no cultivo da alface e de milho em sucessão, e verificaram que os tratamentos com fertilizantes organomineral farelado e peletizado apresentaram maiores peso de espiga, peso de grãos e produtividade (Tabela 1).
Tabela 1. Peso de espigas, grãos, massa de 100 grãos e produtividade de plantas de milho (Zea mays), cultivar híbrido Feroz Viptera 3, plantadas em sucessão, sem adubação, para análise do efeito residual dos fertilizantes fosfatados, colhidas 120 dias após semeadura.
Tratamentos | Peso de espigas (g) | Peso de grãos (g) | Massa de 100 grãos (g) | Produtividade (kg ha-1) |
Ausência de adubação* | 446,49 c | 387, 27 c | 28,86 a | 4840,93 c |
MAP protegido | 866,52 ab | 668,21 ab | 30,24 a | 8352,72 ab |
07-30-00 OMP | 941,50 a | 748,20 a | 32,08 a | 9352,48 a |
04-15-00 OMF | 879,68 ab | 716,24 a | 32,82 a | 8953,05 a |
Superfosfato simples | 747,08 ab | 580,16 b | 31,35 a | 7252,06 b |
CV(%) | 8,83 | 6,99 | 6,41 | 6,99 |
*Map protegido: Fosfato monoamônio revestido com polímero; OMP (07- 30-00): Organomineral peletizado; OMF (04-15-00): Organomineral farelado. Médias seguidas por mesmas letras na coluna não diferem entre si, pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. Adaptado de Fernandes et al., 2020.
Krenchinski et al. (2014), avaliando o efeito da aplicação do fertilizante organomineral e sua ausência no cultivo de milho na segunda safra no Oeste do Paraná, observaram que, para a variável altura de plantas (Figura 1), o organomineral proporcionou maior crescimento em relação a sua ausência.
Figura 1. Crescimento do milho sob ausência e presença do tratamento com bioestimulante organomineral Qualytus SCP ®, Marechal Cândido Rondon, 2012.
Fonte: Krenchinski et al. (2014).
De acordo com estudo realizado por Krenchinski et al. (2014), as substâncias húmicas e fúlvicas combinadas com nitrogênio, fósforo, potássio e zinco proporcionaram maior crescimento das plantas e maior peso de mil grãos, quando aplicadas durante o cultivo da segunda safra, favorecendo o aumento da produtividade.
No mesmo trabalho, avaliando outras características, os autores observaram que, em termos numéricos, as plantas de milho cultivadas com o organomineral apresentaram maior incremento de produtividade (10,47%) em relação a sua ausência. Para características de massa de mil grãos a diferença foi 3,75% (Tabela 2).
Tabela 2. Parâmetros agronômicos para a cultura do milho segunda safra cultivado com presença e ausência de bioestimulante, no município de Marechal Cândido Rondon (PR).
Milho com organomineral | Milho sem organomineral | CV(%) | |
Altura de plantas | 211,70 a* | 191, 90 b | 4,17 |
Área foliar | 6,37 a | 5,75 a | 5,61 |
Índice de área foliar | 9,10 a | 8,00 a | 7,35 |
Diâmetro de colmo | 20,65 a | 18,87 a | 1,90 |
Inserção da primeira espiga | 89,65 a | 85,60 a | 4,36 |
Índice de prolificidade | 1,00 a | 1,00 a | 0,00 |
Comprimento médio da espiga | 17,00 a | 16,75 a | 2,10 |
Número de fileiras de grãos | 14,25 a | 14,15 a | 1,00 |
Média de grãos por fileira | 33,12 a | 33,05 a | 4,90 |
Massa de mil grãos | 221,5 a | 213,50 a | 0,46 |
Produtividade | 4432,00 a | 4012,00 a | 6,22 |
*Letras minúsculas iguais na linha não diferem significativamente a 5% de probabilidade. Adaptado de Krenchinski et al. (2014).
Segundo Melo et al. (2017), os fertilizantes organominerais contendo nitrogênio, potássio e carbono orgânico proporcionaram maior produtividade de grãos de plantas de milho safrinha quando aplicados três dias após a cobertura da adubação nitrogenada na dose de 0,62 L ha-1.
Investigando o efeito do organomineral 07-18-00 sobre a produtividade de dois híbridos de milho em relação à aplicação de fonte mineral 13-33-00, Sousa et al (2012) observaram que a aplicação de 192 e 457 kg ha-1 do fertilizante organomineral 07-18-00 foi suficiente para atingir a mesma produtividade obtida com a aplicação de 400 kg ha-1 do fertilizante mineral 13-33-00 no híbrido A e B, respectivamente (Figura 2).
Figura 2. Produtividade de híbridos de milho em função da aplicação de doses de fertilizantes organomineral.
Fonte: Sousa et al (2012)
Em relação à característica de crescimento inicial da cultura do milho, Magela et al. (2019), constataram resultados semelhantes e/ou superiores com a aplicação do organomineral em relação a adubação exclusivamente mineral.
Comparativo
Neste mesmo sentido, de acordo com Franco (2019), os fertilizantes organomineral biochar, organomineral torta de filtro e o composto orgânico a base de torta de filtro apresentaram maior eficiência agronômica para crescimento e desenvolvimento de plantas de milho em relação à fonte mineral.
Este mesmo autor também constatou que o fertilizante organomineral torta + substâncias húmicas mostrou-se mais eficiente na cultura do milho, podendo substituir o fertilizante mineral e apresentar até 26% a mais de eficiência na produção de massa seca de plantas.
Assim, resultados como esses demonstram que a aplicação de fertilizantes organominerais no manejo da adubação do milho proporciona benefícios, tanto em âmbitos econômicos quanto em aspectos socioambientais. Isso porque essa tecnologia possibilita menor dependência de fertilizantes do mercado externo e o produtor consegue obter maior lucro devido à eficiência de aproveitamento do fertilizante, melhor condicionamento solo e consequente aumento na produtividade e da qualidade do produto final.
Trata-se de uma tecnologia que gera empregos, fomenta a economia e reutiliza resíduos orgânicos, favorecendo uma agricultura mais sustentável e um sistema produtivo mais equilibrado.