Utilização de luzes artificiais no lúpulo

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Felipe Francisco

Engenheiro agrônomo, produtor de lúpulo e consultor

felipefrancisco@agronomo.eng.br

Renan Furlan Gonzaga

Engenheiro agrônomo – Lúpulo Tropical Consultoria e Pesquisa

contato@lupulotropical.com.br

Na cultura do lúpulo, são indicadas faixas de latitude de 35 a 55ºC. Então, a suplementação luminosa com LED vai servir para compensar a falta de luminosidade em determinadas épocas de cultivo, suplementando a diferença necessária para a cultura completar o ciclo, entre duas e quatro horas a mais por dia, dependendo da variedade.

No Brasil, mesmo os dias mais longos do verão ainda são muito curtos para estimular o desenvolvimento das plantas, sendo necessária suplementação luminosa. Assim, utiliza-se a iluminação apenas no período noturno, de quatro a cinco horas e meia por noite, dependendo da época do ano.

Diferencial

A diferença entre campos de produção iluminados e sem iluminação é enorme, especialmente na produtividade. Sem iluminação a planta não completa seu ciclo de forma apropriada, e a produtividade é muito baixa em comparação a campos iluminados.

Em termos gerais, as cultivares comerciais sem iluminação alcançam três a quatro metros de altura, emitem poucos ramos laterais e alcançam produtividade muito baixa, enquanto as iluminadas, já na primeira safra atingem os 6,0 m da estrutura, emitem extensos ramos laterais e formam grande área foliar bem distribuída, o que resulta em elevada produtividade.

Sem iluminação, conseguimos obter apenas uma safra por ano, no verão. Já com a iluminação, podemos produzir durante todo ano, basta fazer o estímulo luminoso que a planta inicia uma nova safra.

Assim, em regiões quentes podemos obter três safras por ano, enquanto em regiões frias apenas duas. Desta forma, a produtividade anual dos campos torna-se muito alta.

Ainda, com a iluminação alcançamos perfeita homogeneidade no campo. Nesta cultura, a planta é colhida inteira e levada para o beneficiamento e as flores precisam estar todas maduras neste momento.

Mas, não é o que ocorre na maioria das lavouras no Brasil, nas quais vemos na mesma planta ramos que ainda nem floresceram, ramos com flores abrindo até flores maduras, o que leva a uma perda substancial do potencial produtivo, tendo em vista que só as flores maduras são aproveitadas.

Também a homogeneidade entre as plantas é importante, para permitir uma colheita em escala.

Manejo

A iluminação é instalada no campo por meio de refletores ou lâmpadas. A quantidade depende da potência dos mesmos, cerca de 50 refletores por hectare ou 420 lâmpadas. Durante o período de desenvolvimento da cultura, da brotação até alcançar o topo da estrutura de 6,0 m, as luzes são utilizadas cerca de cinco horas por noite para aumentar o comprimento do dia.

Desta forma, as plantas se desenvolvem mais rapidamente e não florescem. Quando as plantas chegam no ponto de desenvolvimento que consideramos ótimo, encerra-se o fornecimento de luz e todas as plantas e seus ramos florescem de forma homogênea.

A iluminação ainda permite diversificar muito o manejo, sendo a principal ferramenta de manejo do campo. Pode-se agrupar o florescimento do campo em relação ao equipamento de beneficiamento disponível. Se temos baixa capacidade de beneficiamento, faremos os desligamentos de forma escalonada, para assim também ser a colheita.

Se temos uma grande capacidade de beneficiamento, desligamos as luzes do campo inteiro para concentrar a colheita. Pode-se, ainda, utilizar a iluminação para recuperar uma parte do campo que sofreu qualquer estresse, estimulando sobremaneira o seu desenvolvimento, estimular mais as cultivares de lúpulo de baixo vigor ou as plantas recém-plantadas (baby hops) de primeiro ano de produção, dentre muitas outras possibilidades.

Produtividade

A produtividade varia muito entre cultivares, manejo, estrutura, clima. Consideremos números médios de campo de lúpulo maduro. Sem iluminação a média de produção de cultivares comerciais é cerca de 300 kg/safra, podendo chegar a 500 kg/safra ou por ano, pois é possível apenas uma safra por ano.

Com iluminação, temos em média 1.250 kg/safra, podendo chegar a 1.900 kg na safra de verão. Com duas safras no ano obtemos 2.400 kg e com três safras 3.400 kg de lúpulo peletizado por ano em cada hectare.

Em campo

Os principais resultados da iluminação são campos de lúpulo bem formados, muito homogêneos já desde a primeira safra, com ótimo desenvolvimento, produção de cones desde a base da planta até o topo, com grande número de cones e alta produtividade em detrimento de plantas subdesenvolvidas com baixa produtividade sem iluminação.

São muito facilmente distinguíveis campos com e sem iluminação.

Sem errar

Os erros mais frequentes são o número errado de horas de iluminação noturna, a descontinuidade da iluminação, que resulta em florescimento precoce, a carência de adequações em nutrição e manejo, que são cruciais ao adequado desenvolvimento de uma lavoura iluminada e o principal – a escolha inadequada do momento da safra para desligar as luzes.

Este último precisa de uma avaliação qualificada e rigorosa. Interromper a iluminação muito cedo resulta em baixa produtividade em relação ao potencial máximo, e desligar tardiamente resulta em excesso de desenvolvimento das plantas, autossombreamento, excesso de peso sobre a estrutura de sustentação, redução de produtividade e queda da qualidade dos cones.

Para evitar estes erros, é necessário o desenvolvimento de um projeto de manejo de iluminação bem estruturado e, principalmente, o acompanhamento por profissional qualificado e com experiência.

Quanto custa?

O custo da iluminação fica entre R$ 18 mil e R$ 25 mil por hectare, ou R$ 8,00 a R$ 10,00 por planta. Isso significa 10 a 16% do investimento de implantação do campo de produção ou 5,0 a 7% do investimento total para implantação de um campo de produção e planta de beneficiamento.

Com 50 refletores/ha o custo fica em R$ 16 mil na aquisição dos equipamentos, sendo o gasto energético por refletor de 10 kWh, e de uma lavoura de 1,0 ha, 500 kWh.

Considero que, além do retorno do investimento, esta é uma estrutura essencial ao cultivo, como estrutura de sustentação, nutrição, irrigação e beneficiamento. Pensando em retorno, com investimento de 10 a 16% maior na implantação do campo de produção, obtém-se produtividade cinco vezes maior, além de homogeneidade, redução de atividades de manejo, redução de gastos com nutrição, dentre outros.

ARTE

Com o volume de investimento necessário para implantar 1,0 ha de lúpulo não iluminado, é possível plantar 0,85 ha iluminado e produzir quatro vezes mais, com maior facilidade e custo operacional menor.

Colheita

A colheita do lúpulo é o ponto central da atividade, que demanda muito trabalho e mão de obra. A possibilidade de manejar a maturação dos cones e de obter homogeneidade é importantíssima para viabilizar a colheita numa produção comercial com cultivares comerciais.

Há plantas de lúpulo que crescem bem no Brasil sem iluminação artificial, mas não são consideradas cultivares comerciais, apresentam baixa produtividade, componentes de rendimento ruins, dificuldade de manejo e, principalmente, possuem baixa qualidade para o mercado e difícil comercialização.

Outras alternativas à iluminação foram e ainda são extensamente pesquisadas no Brasil, como uso de reguladores vegetais e nutrição, mas os resultados ainda são muito inferiores e não são viáveis comercialmente.


Parceria Aprolúpulo

Marcos Paulo Stefanes Ribeiro

Presidente da Associação Brasileira de Produtores de Lúpulo – Aprolúpulo

Hermanus GAJ Wigman

Vice-presidente da Aprolúpulo

Os principais objetivos da Aprolúpulo são difundir, organizar e fomentar o cultivo, produção, processamento e comercialização de lúpulo no Brasil. As atividades consistem em buscar conhecimentos, treinamentos e profissionalização de todos os envolvidos, seja na área privada ou pública, pois, por se tratar de uma cultura nova no País, muitos não tinham ou têm conhecimento de como tudo funciona. Aprendemos mais todos os dias.

Formatamos uma parceria com a Lumina Agro, que fornecerá um desconto aos associados da Aprolúpulo, desta forma incentivando e facilitando a instalação de refletores na lavoura. Outro benefício é o financiamento dos equipamentos pelo Go Bank, fornecendo carência para pagamentos.

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