Fábio Oseias dos Reis Silva
fabio.silva@epamig.br
Ramon Ivo Soares Avelar
ramon.avelar@epamig.br
Ana Flávia Freitas
Pesquisadores da Epamig, doutores e professores – Instituto Tecnológico de Agropecuária de Pitangui (ITAP)
Atualmente, a expansão dos produtos conhecidos como fosfitos tem ocorrido fortemente no mercado de frutíferas, e todos os dias tem-se verificado uma demanda muito alta por eles, dada sua importância para as culturas.
Uma nutrição bem-feita e equilibrada, associada a bioestimuladores e indutores de resistência, é preconizada para a prevenção de pragas e doenças. Assim, essa tecnologia passa a ser uma grande inovação para a obtenção de frutas de qualidade e altas produtividades.
Os solos brasileiros são conhecidos pela elevada acidez e baixo teor de fósforo, dois parâmetros muito importantes para o desenvolvimento das plantas. Dessa forma, os fosfitos surgem como uma ferramenta de extrema importância para o produtor agrícola.
Combinação
Os fosfitos são compostos derivados do ácido fosforoso que podem se combinar com íons como potássio, sódio, cálcio ou amônio. O fosfito é uma forma reduzida dos fosfatos, no qual um átomo de oxigênio é substituído por um hidrogênio.
Eles possuem em sua composição o fósforo, um elemento químico essencial para os vegetais, responsável pelo fornecimento de energia e pelo crescimento radicular. Além disso, estimulam a produção de fitoalexinas no metabolismo secundário, substâncias que aumentam a eficiência do sistema de defesa das plantas contra fatores bióticos e abióticos e ação direta contra fitopatógenos.
Hora de escolher
No mercado existem diversos produtos à base de fosfitos e que podem ser disponibilizados enriquecidos com outros nutrientes, como cálcio, zinco, cobre, entre outros, mas aqui merece destaque o fosfito de potássio (K), que tem sido bem aceito e bastante utilizado como uma alternativa para as diversas culturas agrícolas e mostrando resultados muito relevantes, tanto em produtividade quanto em qualidade de frutas.
Pesquisas demonstram resultados positivos, principalmente com relação à aplicação foliar de fosfito de potássio em abacateiro. Uma delas verificou que as aplicações de fosfito de potássio via foliar em outubro, novembro, dezembro, janeiro e fevereiro, combinados ou não com gesso ou calcário nos meses de outubro, novembro e março aumentaram a massa fresca do sistema radicular do abacateiro variedade Hass.
Combinações com outros corretivos podem ser alternativas bastante plausíveis, sobretudo o calcário, pois um dos principais patógenos responsáveis por severos danos nas raízes e parte aérea de abacateiro, o Phytophthora cinanomi Rands se desenvolve e multiplica em solos mal drenados com pH baixo e excesso de umidade.
Dessa forma, quando se corrige a acidez do solo e aplica-se o fosfito de potássio, as possibilidades de controle do patógeno nessa cultura aumentam.
Dosagens de fosfito de potássio
A aplicação dos insumos ocorreu da seguinte forma: 2,25 kg/ha de gesso agrícola divididos em três aplicações sobre a projeção da copa nos meses outubro, janeiro e março; 2,25 kg/ha de calcário calcifico divididos em três aplicações sobre a projeção da copa nos meses outubro, janeiro e março; e a pulverização de fosfito de potássio na dosagem de 400 mL/100L em outubro, novembro, janeiro e fevereiro.
O produtor deve atentar-se para que as recomendações das dosagens de calcário e de gesso sigam as análises de solo da área de cultivo.
Resultados mostram que em abacateiro ‘Margarida’ o emprego do fosfito via aplicação foliar pode oferecer bons resultados, com aumento da fixação de frutos. No mesmo ensaio, pôde-se verificar que houve um incremento no número de frutos por planta, quando comparado ao tratamento testemunha, onde não houve a aplicação do fosfito.
Com relação à produção de frutos por planta, foi verificada uma produção de 502,56 kg com a aplicação de fosfito contra 199,66 para o tratamento testemunha, ou seja, uma diferença de aproximadamente 300 kg/planta.
No ano seguinte, não ocorreram diferenças significativas para as variáveis estudadas, contudo, pode-se verificar que, comparando-se os dois anos estudados, o número de frutos e a produtividade por planta no tratamento no qual foi aplicado o fosfito de potássio foram mais constantes.
A aplicação via solo também demonstrou ser eficiente na melhoria do sistema radicular do abacateiro. Nolasco (2021) relata que a aplicação de 1,0 mL/planta de fosfito de potássio proporcionou os melhores resultados no controle de P. cinnamomi e, consequentemente, maior recuperação do sistema radicular, maior peso e número de frutos por árvore e melhor recuperação de abacateiros da variedade Hass.
Controle fitossanitário no abacateiro
O míldio, cujo agente causal é o fungo Peronospora sp., bem como o oídio, agente causal Oidium perseae, são doenças que ocorrem geralmente em folhas do abacateiro. Contudo, as ocorrências de sintomas mais severos, tanto de míldio quanto oídio, não são muito comuns em abacateiro.
São escassas as pesquisas com fosfitos para o controle das doenças citadas em abacateiro, embora em outras culturas existam trabalhos com o objetivo de redução da fonte de inóculo, tanto de míldio quanto de oídio.
Pesquisas demonstram que ambos têm sido bem controlados com a aplicação foliar utilizando fosfito de potássio em culturas como videira, amoreira, além de outras doenças, como antracnose em goiaba e maracujazeiro.
Para as diferentes variedades de abacateiros, as pesquisas se restringem ao uso do fosfito de potássio no combate da podridão das raízes. Atenção especial tem sido dada a esta doença, que tem causado grandes prejuízos nesta cultura.
A maioria dos resultados demonstra a ação positiva dos fosfitos no desenvolvimento das frutíferas e no aumento de sua produtividade. Assim, é comum a “confusão” de que os fosfitos podem ser utilizados como fertilizantes, no entanto, eles agem indiretamente restringindo o desenvolvimento de microrganismos maléficos ao abacateiro e, dessa forma, a restituição da sanidade da planta garante o melhor aproveitamento de nutrientes, principalmente aqueles oriundos dos fertilizantes fosfatados.
Manejo adequado
O fosfito de potássio é um produto que pode trazer resultados muito satisfatórios aos produtores de abacate, no entanto, sabe-se que a agricultura moderna preconiza que em um manejo adequado deve-se considerar não somente um, mas vários fatores que afetam o desenvolvimento das plantas.
Assim, é preciso considerar, principalmente, a adubação bem equilibrada a fim de se alcançar altas produtividades e boa qualidade de frutos.
Partindo desse princípio, é preciso compreender que, embora o uso do fosfito de potássio possa oferecer excelentes resultados, uma análise criteriosa deve ser feita pois, embora ele ofereça às plantas características indutoras de resistência a pragas e doenças, a adubação com fósforo não deve se restringir somente ao fosfito, sendo necessário fazer também as adubações convencionais com fertilizantes fosfatados.
A aplicação de fosfito de potássio pode ser feita via solo, foliar ou injetando o produto no caule do abacateiro, com o auxílio de uma seringa, sendo possível verificar resultados promissores nos três métodos de aplicação.
Esse fato ocorre devido à rápida absorção que o produto propicia à planta e pode-se pressupor que esse seja um diferencial do fosfito de potássio em relação a outros produtos à base de fósforo.
Porém, vale lembrar que os fertilizantes fosfatados também devem ser utilizados em concomitância, uma vez que os fosfitos agem sobre os organismos maléficos e os fosfatos disponibilizam o fósforo às plantas.
Recomendações específicas para o abacateiro
De acordo com Morales-Morales et al. (2022), as pesquisas reportam que atualmente o uso de fosfitos é bem aceito, por agir como um bioestimulante em plantas de abacateiros, bem como por sua ação no controle de oomicetos, protozoários, fungos, bactérias e nematoides.
Porém, seu uso como fonte de fósforo para nutrição de plantas ainda é debatido. Ainda de acordo com os mesmos autores, os fosfitos e fosfatos podem ser absorvidos pelas plantas através das folhas ou raízes.
Entretanto, os fosfitos não podem ser reduzidos dentro da célula vegetal a um estado de oxidação inferior, mas, por outro lado, eles podem ser oxidados a fosfatos, se aplicados diretamente no solo.
Contudo, é preciso ter muita cautela ao analisar a afirmativa de que os fosfitos podem ser utilizados no solo como fertilizantes, pois muitos trabalhos demonstram que eles não são capazes de substituir os fertilizantes fosfatados.
Isso ocorre porque há a necessidade de oxidação dos fosfitos a fosfatos e, para isso, é necessário que alguns microrganismos estejam presentes no solo e que tenham a capacidade e habilidade de realizar o processo de oxidação do fosfito a fosfato, processo esse que geralmente demanda um longo período.
Assim, existem algumas recomendações específicas para o uso dos fosfitos para a cultura do abacateiro:
1) Evitar solos compactados: cultivar em solos não compactados, bem aerados, favorece a ação de microrganismos benéficos, o desenvolvimento de raízes, aumenta a taxa de oxigenação do solo, ou seja, fatores que contribuem para o desenvolvimento da cultura. Além disso, esses manejos reduzem a taxa de desenvolvimento de microrganismos indesejáveis, como Phytophthora.
2) Correção da acidez do solo: corrigir o pH do solo é uma outra forma de reduzir a incidência de Phytophthora. Assim, é importante fazer a correção aplicando-se o calcário quando o pH estiver abaixo da faixa recomendada para a cultura.
3) Aplicar gesso agrícola: esse manejo pode contribuir muito para o crescimento radicular da cultura, uma vez que o gesso tem a capacidade de disponibilizar cálcio para as camadas subsuperficiais do solo, permitindo um bom desenvolvimento do sistema radicular das plantas.
4) Fazer uso de microrganismos capazes de oxidar fosfito a fosfatos: como dito, esta última é uma molécula capaz de ficar prontamente disponível para as plantas e servir indiretamente como aporte nutricional, porém, vale salientar que este ainda é um tema um pouco controverso, sendo necessário ser muito criterioso para utilizar o fosfito com o objetivo de disponibilizar fósforo para o abacateiro.
5) Aplicação de fosfito de potássio via foliar: trabalhos têm demonstrado que a aplicação de fosfito via foliar é uma excelente forma de trazer benefícios às plantas de abacateiro. Porém, é preciso fazer um bom posicionamento do produto, levando em consideração a melhor época de aplicação, abortos fisiológicos, fenologia e aplicação em conjunto com outros corretivos, por exemplo, calcário e gesso.
6) Aplicação de fosfito via solo: trabalhos demonstram excelentes resultados com a aplicação de fosfito de potássio via solo, contribuindo para a redução da fonte de inóculo, principalmente de patógenos como Phytophthora cinnamomi e favorecendo o desenvolvimento do sistema radicular. De forma indireta, também contribuiu com o aporte nutricional, visto que as novas raízes produzidas após o controle do patógeno foram capazes de absorver nutrientes e melhorar a produtividade de abacateiros.
7) Monitoramento frequente de pragas e doenças: o monitoramento de pragas e doenças é fundamental para alcançar bons resultados em campo. Pesquisas demonstram que a aplicação de fosfito de potássio nas fases iniciais de doenças como podridão das raízes foi mais eficaz que nas plantas que já estavam depauperadas pelo ataque de Phytophthora cinnamomi Rands. Assim, é importante, sempre que possível, manter o monitoramento, sobretudo desse patógeno, que é a principal doença do abacateiro.