David Willis Freitas
Graduando em Agronomia ” Universidade Federal de Lavras (UFLA)
Guilherme Vieira Pimentel
Doutorando em Fitotecnia – UFLA
A ferrugem da soja (Phakopsorapachyrhizi) vem sendo a principal doença da soja, antes encarada como de fim de ciclo, e hoje já afetando estágios vegetativos que causam desfolha e perdas diretas na produtividade, podendo comprometer até 90% da produção de grãos.
Com um difícil controle, rápida disseminação, produção de milhares de esporos, quebra de resistência de cultivares e princÃpio ativo, pesquisadores já buscam manejos alternativos para um melhor controle da doença.
Sintomas
Os sintomas causados pela doença são pequenas lesões foliares, de coloração castanho a castanho escuro na face abaxial da folha, iniciando no terço inferior da planta. Cada lesão pode esporular até 15 semanas por meio do desenvolvimento de uredósporos secundárias.
Em casos mais severos, a ferrugem causa grande desfolha e pode antecipar até 25 dias o ciclo da soja, comprometendo a formação de vagens, o enchimento e o peso de grãos. A maior incidência inicia-se em estágios tardios do vegetativo ao reprodutivo.
No início da formação de vagens (R3) há um aumento da incidência, chegando a mais de 10%. Já na fase de enchimento de grãos (R5) a incidência chega a mais de 50%, tendo um declÃnio até a maturação plena (R8).
Condições para o ataque
Temperaturas baixas e alta umidade reativa são condições favoráveis ao desenvolvimento da ferrugem. No entanto, em locais de elevadas temperaturas e plantas adultas, onde a abundância de folhas fecha sua copa, ocorre uma diferença de temperatura, com redução de até 5°C em relação ao ambiente externo, e durante a noite se torna o ambiente ideal para o desenvolvimento da doença.
A ferrugem, no Brasil, é microcÃclica e biotrófica, ou seja, ciclo curto (apenas fase assexuada) e sobrevive apenas no hospedeiro. Isso ressalta a importância do controle de “pontes verdes“ ou tigueras de soja, e o plantio antecipado (respeitando o período de vazio sanitário) com curto prazo de semeadura e menos esporos no ambiente, ocasionando menor pressão do patógeno. Isso é válido na escolha de cultivares, dando preferência para ciclos mais precoces e cultivares de maior resistência.
Manejo
O manejo da ferrugem se torna mais complicado quando dependemos do clima para o planejamento de safra. Com chuvas irregulares, arriscar uma semeadura antecipada pode resultar em perdas pela falta de água. Já o excesso de chuvas durante o estádio reprodutivo pode resultar no atraso de aplicações de fungicidas, tendo uma incidência maior da ferrugem e baixa eficiência do fungicida.
Outro fator que dificulta o manejo da ferrugem é a baixa eficiência dos fungicidas devido a rápida resistência do patógeno aos princípios ativos. Dados da safra 2013/14 já mostravam a eficiência de azoxistrobina em apenas 50% de controle, ciproconazol em 30%, azoxistrobina + ciproconazol com 20% e tebuconazol abaixo dos 20% de controle.
Dessa forma, é essencial uma melhor eficiência de aplicação de fungicidas, combatendo na hora e na dose corretas, com um manejo de princípios ativos para evitar maiores resistências do patógeno. Isso nos mostra a importância de um manejo eficiente da doença, para maximizar o controle e ter maior rentabilidade da lavoura.
Para um manejo mais efetivo da ferrugem asiática devemos tomar diferentes medidas de controle, seja cultural (rotação de culturas, vazio sanitário), químico (fungicidas, adubação) ou genético (cultivares). No entanto, técnicas alternativas são importantes no controle da doença, e um manejo que vem trazendo resultados interessantes no controle da ferrugem é a indução de resistência.
Ação dos fosfitos
As plantas podem reagir a patógenos e doenças de forma estrutural e química, sendo estrutural ou pré-formada (cutÃcula, tricoma, estômatos), e químicos (fenóis, alcaloides, fitotoxinas, fitoalexinas) ou pós-formados, estruturais (papilas, halos, lignificação).
Nesse contexto,como indutor de resistência temos o fosfito, que estimula a planta à produção de fitoalexinas, substância formada a partir da interação do patógeno com a planta.
O fosfito é comercializado como um fertilizante de fósforo, e vem sendo estudado como um manejo alternativo, com função de indução de resistência em plantas e controle sobre doenças fúngicas do grupo dos oomicetos como o míldio e pythium.
O fosfito é um ácido fosforoso que se neutraliza com algum sal (potássio, cálcio, magnésio), portanto, não assume a mesma função bioquímica do fosfato, e age de duas formas: direta, sendo fungitóxico para os fungos inibindo a germinação e redução do crescimento micelial; e indireta, estimulando a produção de fitoalexinas.