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Gesso agrícola: efeitos e critérios do uso na agricultura

Crédito: Shutterstock

Leandro José Grava de Godoy
Doutor e professor – Unesp
leandro.godoy@unesp.br

O gesso agrícola é um sulfato de cálcio di-hidratado (CaSO4 2H2O), contendo em média de 20 a 23% de cálcio e 15 a 18% de S. Tem moderada solubilidade de 2,4 g/litro e a solubilização, em geral, é rápida.

No Brasil, o gesso agrícola é comercializado como condicionador de solo (produtos que promovem a melhoria das propriedades físicas, físico-químicas ou biológicas do solo) ou corretivo de sodicidade (excesso de sódio no solo), que é o seu principal uso no mundo.

O gesso agrícola é um subproduto da reação do ácido sulfúrico com uma rocha fosfatada, para produzir o ácido fosfórico e, por isso, é chamado fosfogesso, e não porque contenha quantidades significativas de fósforo.

Características específicas

No Brasil, considerando que a cada tonelada de ácido fosfórico são geradas 4,7 toneladas de fosfogesso, a produção anual estimada do produto chega a 5,6 milhões de toneladas.

Um detalhe importante é a umidade deste gesso. Em algumas fábricas, ele pode conter mais de 15 a 30% de água. Algumas empresas compram o fosfogesso e deixam para secar, peneirando, e reduzindo a umidade para menos de 5% (gesso pré-seco), o que facilita o transporte e a aplicação.

Além do fosfogesso, no Brasil existem jazidas de gipsitas que podem ser extraídas e beneficiadas para o uso, sendo chamado de gesso natural, e geralmente é mais rica em cálcio que o fosfogesso.

Quando dissolvido em água, o gesso agrícola dissocia no cátion Ca2+ e no ânion SO42-, na solução do solo. A boa solubilidade do gesso agrícola e a dissociação do seu ânion sulfato, que é móvel no perfil do solo, permite que este produto seja aplicado em superfície e tenha uma boa distribuição no perfil do solo, levando junto os cátions que estejam em maior concentração na solução, como o cálcio, por exemplo.

Vantagens

O uso do gesso agrícola aumenta o teor de cálcio, principalmente na camada mais subsuperficial (abaixo de 20 cm). Este aumento de cálcio aumenta a saturação por bases do solo em subsuperfície. Este cálcio, vindo do gesso, desloca outros cátions nos coloides do solo, principalmente o alumínio, que geralmente estará em maior teor.

Assim, como aumenta o teor de cálcio em maiores profundidades, o teor de sulfato também aumenta desde a camada mais superficial, sendo ótima fonte de S para a planta. A lixiviação de Mg no perfil do solo, promovida pelo gesso, só ocorrerá quando a dose de gesso for muito alta, e o teor de Mg na camada mais superficial também ser alto.

Entenda melhor

O gesso agrícola não altera o pH do solo, pois não possui uma base para neutralizar o H+, principal responsável pela acidez do solo, como o calcário.

O gesso possui um pH de 2,0 a 3,0, devido ao residual ácido envolvido na sua produção e, por este motivo, pode ser utilizado na mistura de adubos orgânicos, ou até mesmo com ureia para reduzir as perdas por volatilização de amônia destes adubos.

A definição da necessidade de uso do gesso agrícola no talhão deve ser embasada no laudo da análise de solo, principalmente da camada subsuperficial (20 a 40 ou 25 a 50 cm). Os indicadores da necessidade da aplicação do gesso agrícola são: saturação por alumínio maior que 30% (vai depender da tolerância da cultura), teor de cálcio menor que 4,0 mmolc dm-3, teor de alumínio maior que 5,0 mmolc dm-3 e saturação por bases menor que 25%.

Na dose certa

A recomendação da quantidade de gesso agrícola é calculada em função do teor de argila na camada subsuperficial (20 a 40 ou 25 a 50 cm) e se a cultura é anual ou perene. Para culturas anuais, multiplica-se o teor de argila (em %) por 50.

Para culturas de médio porte, multiplica por 60 e para culturas de grande porte (frutíferas perenes) multiplica-se por 75. Assim, para um solo arenoso, com 15% de argila, para a cultura do milho, deveria ser utilizado no máximo 750 kg/ha de gesso agrícola.

Para plantio direto foi definida uma nova fórmula para o cálculo da dose de gesso baseada no teor de Ca, e na CTC efetiva da camada subsuperficial do solo.

Doses muito altas de gesso agrícola (> 6,0 t/ha) podem favorecer a lixiviação de Mg e K (se estes elementos estiverem altos na camada superficial do solo), e consequentemente, reduzir a produtividade.

A técnica

A aplicação do gesso agrícola juntamente com o calcário, em superfície, é uma técnica interessante porque economiza uma operação, além de que a umidade do gesso, pode diminuir a deriva do calcário.

Contudo, esta mistura não deve ultrapassar a taxa de 30% de gesso para 70% de calcário. Como o gesso é muito mais solúvel que o calcário, a aplicação conjunta, em altas doses, pode elevar muito os teores de Ca no solo, reduzindo a solubilidade do calcário, reduzindo a sua velocidade de reação.

O cálcio fornecido pelo gesso agrícola tem grande impacto no desenvolvimento das culturas e na produtividade destas, principalmente em ocasiões em que ocorre o déficit hídrico. Uma das principais funções do cálcio é na estruturação do tecido vegetal, formando o pectato de cálcio que une as paredes das células vegetais.

Na formação de um tecido novo, em crescimento, como por exemplo, uma raiz, este elemento deve estar presente na solução do solo para ser absorvido e transportado pelo xilema, pois é imóvel pelo floema da planta.

Essencialidade

O enxofre é um elemento estrutural na planta, fazendo parte de aminoácidos, proteínas, enzimas e outros compostos, influenciando não somente no crescimento e na produtividade das plantas, como na qualidade dos produtos agrícolas, como a farinha de trigo, ou no sabor e odor.

Além disso, o enxofre também é importante para o maior rendimento de óleo, nas plantas oleaginosas, influencia na nodulação na soja, e pode tornar as plantas mais tolerantes a condições de altos teores de metais pesados.

Em sistema plantio direto, as pesquisas têm demonstrado ganhos médios de produtividade de grãos em torno de 15% para a cultura do milho e 19% em cereais de inverno, quando a camada subsuperficial do solo apresenta alta acidez.

Na cultura da soja, o aumento da produtividade de grãos que pode chegar, em média, até 27%, com a aplicação de gesso, somente ocorreu quando havia alta acidez na camada subsuperficial e deficiência hídrica no ciclo.

Logo, com uma boa disponibilidade no Brasil, custo relativamente baixo, e várias influências positivas no solo e nas principais culturas, o uso do gesso agrícola é ótima alternativa para a agricultura brasileira, mas deve ser recomendado sempre com critério.

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