Túlio de Paula Pires
Engenheiro agrônomo, mestrando em Agricultura e Informações Geoespaciais – Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e pesquisador Fronterra
tuliopiresagro@gmail.com
Alisson André Vicente Campos
Engenheiro agrônomo, doutorando em Fitotecnia – Universidade Federal de Lavras (UFLA) e pesquisador Fronterra
alissonavcampos@yahoo.com.br
O cafeeiro é uma planta que responde bem ao uso da irrigação, pois aumenta a produtividade, a tolerância das plantas à seca, melhora a qualidade de bebida, dentre outros benefícios.
No cafeeiro, a água possui funções essenciais na fisiologia da planta, como manter a temperatura, pela transpiração nas folhas, absorção, transporte dos nutrientes e participação no processo de produção de energia, pela fotossíntese.
Estima-se que 85% da biomassa do cafeeiro é composta por água, e já nos frutos maduros aproximadamente 60% é água.
Sintomas de déficit hídrico
Quando se refere ao processo vegetativo do cafeeiro, a planta em déficit hídrico murcha, seca e perde folhas e ramos, assim diminuindo a produção de energia, cessando o crescimento e desenvolvimento vegetativo, além de tornar-se mais suscetível ao ataque de patógenos.
Quanto ao processo reprodutivo, a falta de água e a desfolha resultante causam redução na formação de gemas floríferas, queda de botões florais e chumbinhos, chochamento ou má granação de frutos e, por fim, diminuição da produção.
Além disso, para o desenvolvimento das plantas é essencial que as células encontrem-se turgidas para que haja a divisão celular e, consequentemente, seu crescimento.
Na medida certa
Durante o ano agrícola, o cafeeiro demanda de diferentes quantidades de água, destacando-se três períodos críticos, sendo eles: fevereiro a maio, que corresponde ao período de indução floral e formação das gemas.
De setembro a outubro o cafeeiro exige água, para quebrar a dormência e iniciar a pré-florada. No período de dezembro a janeiro ocorre a granação dos frutos.
Vale lembrar que no período de setembro a fevereiro há demanda de altos teores de água devido ao fato de ser o período em que ocorrem as adubações para o fornecimento de nutrientes que, por sua vez, estes somente estarão disponíveis às plantas se os nutrientes estiverem dissolvidos na solução do solo.
Sistemas de irrigação
A irrigação por gotejamento é um sistema que tem se mostrado muito adequado para a cultura do café, pois a água é aplicada de forma localizada, resultando na otimização do uso da água, além de facilitar a fertirrigação, quimigação e nematização (aplicação de fertilizantes, inseticida, fungicida, herbicida e nematicida via água de irrigação).
Vale ressaltar que outros métodos, como a aspersão com pivô central, podem resultar em um molhamento significativo das folhas, criando um ambiente propício ao surgimento do fungo.
Vantagens
A irrigação por gotejamento apresenta muitas vantagens, como permitir melhor controle da profundidade da água aplicada, ou seja, lâmina d’água e reduz perdas por evaporação, percolação e escoamento superficial.
Maior produtividade: de modo geral, a irrigação por gotejamento apresenta maior produtividade para culturas com maior umidade do solo; também é utilizada para culturas de alto valor econômico, pomares, plantações de café, hortaliças, etc.
Maior eficiência na fertilização: não interfere nas práticas culturais de diferentes culturas, porém, deve-se atentar às roçadas na área. Além disso, o gotejamento é adaptável a diferentes tipos de solo e terreno.
Economia de recursos
A irrigação pode economizar mão de obra, pois a irrigação e a fertilização (fertirrigação) podem ser automatizadas. Vale lembrar que apresentam vantagens econômicas relevantes em médio prazo, o que tornam a irrigação por gotejamento vantajosa para o produtor rural.
Além disso, um aspecto importante da adoção de sistemas, como o gotejamento, é a economia de água. Dessa maneira, a tecnologia gota a gota de aplicação de água e fertilizantes é ecologicamente correta e viável economicamente para os agricultores.
Desafios
Os principais desafios para a implementação da irrigação no cafeeiro estão relacionados ao uso racional de água e energia, verificação e manutenção dos equipamentos para evitar possíveis danos e problemas, alto investimento inicial, disponibilidade hídrica, conhecimento das legislações referentes à outorga e uso de água.
Não menos importante é saber manejar bem a irrigação que, de certa forma, é onde os cafeicultores mais pecam.
É importante ressaltar que a irrigação não é exclusividade dos grandes produtores. Os pequenos e médios produtores também se beneficiam dessa tecnologia, podendo aproveitar pacotes tecnológicos desenvolvidos por empresas do setor, como por exemplo linhas de financiamentos para condições de pagamento e programas sociais.
Vale lembrar que o uso do kit de irrigação familiar tem ajudado muitos produtores familiares de café a ter altas produtividades.
Viabilidade
Uma irrigação bem gerenciada também pode aumentar a resistência das plantas a doenças e estresses ambientais. Além dos benefícios diretos à planta, a irrigação adequada também pode ter efeitos positivos na comunidade agrícola como um todo.
Uma colheita saudável e produtiva pode melhorar a renda dos agricultores e fortalecer a economia local. Dessa forma, ao adotar práticas sustentáveis de irrigação, os produtores podem contribuir para a preservação dos recursos naturais e para a saúde a longo prazo do ecossistema.