A pecuária brasileira tem como base as pastagens, por ser a forma mais econômica de se produzir alimentos, quando comparado a sistemas em confinamento, por exemplo. Estima-se que as áreas de pastagens cultivadas e nativas no Brasil ocupem aproximadamente 163,1 milhões de hectares, que correspondem a 21% do território nacional, sendo responsáveis por sustentar o maior rebanho comercial de bovinos do mundo com 196,4 milhões de cabeças, segundo a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec).
Apesar dos avanços no uso de tecnologias produtivas por parte dos produtores rurais, cerca de 50% das áreas de pastagens estão em algum estágio de degradação. Diante do cenário atual e perante as mudanças climáticas, o Brasil tem um grande desafio, que é produzir alimentos para atender a população crescente, sem abrir novas áreas.
Possibilidades da ILPF
De acordo com dados da FAO, até 2050 a população deve crescer cerca de 35% e a produção de alimentos terá que duplicar para sustentar essa demanda.
Neste contexto, a Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) traz a possibilidade de aumentar a produção de alimentos em uma mesma área e contribuir na recuperação de pastagens degradadas.
“Conceitualmente, a ILPF é uma estratégia de produção onde ocorre o cultivo em uma mesma área de espécies agrícolas, florestais e pecuária, seja em consórcio, sucessão ou rotação, buscando efeitos sinérgicos entre seus componentes, diz Marina Lima, Zootecnista e Técnica de Sementes e Sustentabilidade da SOESP.
Sistemas integrados
Entre os sistemas integrados que podem ser adotados pelos produtores, pode-se destacar quatro modalidades:
• Integração Lavoura-Pecuária (ILP) ou Agropastoril: este sistema de produção integra espécies agrícolas e pecuárias em consórcio, sucessão ou rotação em um mesmo ano agrícola ou por vários anos. Nessa modalidade, não há a presença do componente arbóreo e é a modalidade mais adotada pelos produtores rurais, com aproximadamente 83% de adoção, principalmente pela maior facilidade de cultivo e retorno econômico a curto prazo.
• Integração Lavoura-Floresta (ILF) ou Silviagrícola: com este sistema de produção há a integração de espécies florestais em consórcio com cultivos agrícolas anuais ou perenes. “Esta é mais adotada por pequenos produtores e pelo tempo em que o componente arbóreo está em crescimento e não pode ter a presença do animal. Cerca de 1% dos produtores adota essa modalidade”, destacou.
• Integração Pecuária-Floresta (IPF) ou Silvipastoril: um sistema de produção que integra pecuária (pastagem e animais) e espécies arbóreas, em consórcio. “Essa modalidade é adotada por cerca de 7% dos produtores rurais e é mais utilizada em áreas que não possuem aptidão agrícola ou com topografia que dificulte o uso de maquinários agrícolas”, acrescenta a especialista.
• Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) ou Agrossilvipastoril: um sistema de produção que integra espécies agrícolas, florestais e pecuária (pastagem e animais) em rotação, consórcio ou sucessão. “Essa modalidade é adotada por 9% dos produtores rurais. O componente agrícola restringe-se, ou não, à fase de implantação das árvores”, diz a zootecnista.
Escolha certa
Ainda segundo a especialista, é muito importante destacar que a escolha da modalidade mais adequada e das espécies para compor o sistema deve ser feita com base na análise das características da região, condições climáticas, ao mercado local e objetivos do produtor, podendo ser adotada por pequenos, médios e grandes produtores rurais.
Além disso, o tempo de utilização de cada componente na ILPF vai depender do sistema utilizado, como por exemplo, a pecuária pode ser utilizada por três meses a cinco anos e retornar com a lavoura, que pode ser utilizada por cinco meses ou até cinco anos.
Já o componente florestal pode ser utilizado por um período curto ou longo, dependendo da espécie e finalidade.
Com a utilização dos sistemas ILPF, além da intensificação e maior eficiência no uso da terra, diversos benefícios ambientais, econômicos e sociais são gerados. “A ILPF é uma tecnologia que contempla os três pilares da sustentabilidade. O futuro é integrado, e dificilmente um produtor que adota a ILPF voltará a utilizar sistemas em monocultivo”, finaliza a especialista.