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Influência da alta do dólar na agricultura

Autores

Rodrigo Vieira da SilvaEngenheiro agrônomo, doutor em Fitopatologia e professor – Instituto Federal Goiano – Campus Morrinhos (GO)

Ana Paula Gonçalves Ferreira ana.goncalves@estudante.ifgoiano.edu.br   

Gabriela Araújo Martins gabriela.martins@estudante.ifgoiano.edu.br

Graduandas em Agronomia – IF Goiano – Campus Morrinhos

João Pedro Elias Gondim Engenheiro agrônomo e doutorando em Fitopatologia – Universidade Federal de Lavras (UFLA)joaopedro.pba@hotmail.com

Ilustrativa – Fotos: Shutterstock

Em 2020 o dólar já teve valorização cambial de cerca de 45% sobre o real, chegando a ser cotado em R$ 5,94, trazendo incertezas ao agronegócio brasileiro. Outro impacto indireto, mas muito importante, é o aumento no preço dos alimentos no mercado interno, que afeta negativamente toda a população, em especial a mais vulnerável financeiramente

Devido à pandemia da Covid 19, a economia mundial sofreu grandes impactos negativos. Como consequência imediata ocorreu a valorização das moedas mais fortes, a exemplo do dólar.

Assim, em 2020 o dólar já teve valorização cambial de cerca de 45% sobre o real, chegando a ser cotado em R$ 5,94, trazendo incertezas ao agronegócio brasileiro. Outro impacto indireto, mas muito importante, é o aumento no preço dos alimentos no mercado interno, que afeta negativamente toda a população, em especial a mais vulnerável financeiramente.

Além disso, o preço atrativo da soja e do milho no mercado internacional incentiva aumentar a área de plantio para a próxima safra e assim, pode ocorrer uma maior taxa de desmatamento no Cerrado e na Amazônia.

Impactos no setor agrícola

A alta da moeda americana sobre o real impacta diretamente nos diversos setores da indústria agrícola. Dessa forma, o produtor rural precisa monitorar as flutuações do câmbio, bem como os preços das commodities no mercado internacional, pois será por meio dessas observações que os produtores poderão escolher o momento certo para negociações e investimentos, a fim de reduzir os custos de produção e realizarem melhores transações na venda dos produtos agrícolas.

Pesquisas têm revelado que a alta do dólar tende a favorecer o agronegócio brasileiro, especialmente para os produtores que exportam a sua produção. Geralmente, os produtos agrícolas, em sua maioria commodities, são comercializados pela atual cotação do dólar, e devido à sua valorização trarão mais lucros para o Brasil.

Uma vez que o nosso país se constitui num dos maiores exportadores de grãos do mundo, em que as exportações agrícolas representam cerca de 50% do total das exportações brasileiras.

Culturas que apresentam alto índice de exportação foram beneficiadas pela supervalorização do dólar. Exemplos de cultivos que estão sendo comercializados com melhores preços são o algodão, café, os derivados da cana-de-açúcar (etanol e açúcar), suco de laranja, milho e soja.


Pontos negativos do aumento do dólar

Embora tenhamos melhores preços para a exportação, os custos de produção também se elevam, uma vez que a maioria dos insumos e máquinas agrícolas são importados. Os custos de produção variam de acordo com o nível de tecnologia e de escala do empresário rural. Além disso, dependem de uma boa gestão de negócios.

A valorização da moeda americana também provocou um aumento dos combustíveis, pois os seus valores são cotados em dólar, consequentemente, houve uma elevação nos preços da gasolina e diesel no País.

O transporte rodoviário possui grande predominância na matriz brasileira. Portanto, a alta desses combustíveis interfere diretamente no valor do transporte de cargas, uma vez que a maioria dos caminhões são movidos a diesel. Assim, o produto acaba saindo com um valor mais elevado para o consumidor.

A depreciação da moeda brasileira frente ao dólar incentiva os agricultores a exportarem seus produtos, devido ao lucro muito atrativo. Devido à pandemia da Covid-19, vários países, a exemplo da China, passaram a importar mais soja, milho e proteína animal, o que ocasionou maior competitividade do Brasil para suprir a demanda de alimentos destes países, acarretando, como consequência, em aumento dos preços dentro do próprio País.


Antes e depois do aumento dólar

Neste cenário destaca-se o arroz, um dos principais alimentos produzido e consumido no Brasil. Nos últimos meses, o preço do arroz assustou os brasileiros, tendo um aumento de até 120%.

O pacote do produto, que custava em média R$ 12,00, passou a custar mais de R$ 30,00 em algumas regiões do País em função da pandemia. Entre as causas do aumento, a supervalorização do dólar nos últimos meses influenciou diretamente as commodities brasileiras.

Isso significa que exportar o grão passou a ser mais lucrativo aos produtores do que mantê-lo no País, devido à alta demanda pelo produto, o que também acarretou em elevação de seu preço.

O consumidor brasileiro também está sofrendo com o aumento do valor do óleo de soja. Segundo dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), este produto quase que triplicou o seu valor, ou seja, o óleo que antes custava em média, no mercado, R$ 3,80, passou a custar aproximadamente R$ 10,00 em algumas regiões do País.

O gráfico da figura 1 evidencia a elevação do preço do óleo de soja no atacado no Estado de São Paulo.

Figura 1. Elevação do preço do óleo de soja no atacado em São Paulo, no período de janeiro a outubro de 2022.

Fonte: Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), com elaboração do Canal Rural. Disponível em: https://www.canalrural.com.br/programas/informacao/mercado-e-cia/entenda-alta-dos-precos-do-oleo-de-soja-e-o-que-esperar-nos-proximos-meses/

A soja em grão também sofreu com a alta desses preços nos portos e no próprio País, registrando uma alta de 70% neste ano. Portanto, a soja que custava em média R$ 80,00 a saca de 60 kg, passou a custar R$ 150,00 nos portos, segundo o Cepea.

Estratégias para driblar essa situação e garantir rentabilidade

Dos fertilizantes utilizados na agricultura nacional, cerca de 70% são importados de outros países. Em função da atual valorização da moeda norte-americana, a título de exemplo, o valor da tonelada da ureia e do super simples (fertilizante com base em fosforo) tiveram reajustes de 10 e 5%, respectivamente.

Para a safra de 2020/21, as expectativas é que se tenha crescimento no consumo e necessidade de aquisição de mais insumos. Portanto, alternativas econômicas e sustentáveis devem ser recomendadas e implementadas.

Para atender as demandas nutricionais das culturas e de modo a garantir boa rentabilidade e maiores lucros, muitos agricultores estão usando fertilizantes de produção nacional, a exemplo do calcário, gesso, silício, nutrientes orgânicos e remineralizadores de solo.

Como escapar

Uma maneira de reduzir a influência da supervalorização do dólar no custo de produção do empresário rural seria a realização de um planejamento e uma gestão mais eficaz na compra dos insumos e maquinários.

A primeira atitude seria aprender a trabalhar com insumos alternativos, como citado anteriormente, e outra seria lidar com o risco cambial. Para tanto, é recomendado que se faça compras antecipadas e estoques, quando for possível, além de vendas simultâneas, de modo a adquirir os insumos no mesmo dia que for realizada a venda da produção.

Vale ressaltar, ainda, que é necessário que se façam vendas futuras, planejamentos de curto, médio e longo prazos dos recursos nesse momento de instabilidade. Quando bem elaborados e executados, tais aspectos definirão o sucesso do produtor rural.

Considerações

Realizando uma análise mais profunda da valorização do dólar frente ao real, podemos concluir que, no caso da agricultura nacional, é preciso ganhar mais do que perder com a atual situação, mas a falta de gestão e planejamento pode transformar um cenário promissor em uma crise.

Todavia, este cenário deve ser analisado com cautela, pois fez aumentar o preço dos alimentos da cesta básica, de modo que pode trazer reflexos negativos na sociedade referentes à segurança alimentar, em especial às pessoas mais vulneráveis de baixa renda.


Câmbio, competitividade e oportunidades

“O câmbio é uma criação de Deus para tornar os economistas humildes”

Benito Salomão Doutorando em Economia – Universidade Federal de Uberlândia (UFU)basalomao@benitosalomao.com.br

Benito Salomão, doutorando em Economia – Universidade Federal de Uberlândia (UFU)
Crédito: Arquivo pessoal

A sentença colocada na linha fina é atribuída ao brilhante economista e ex presidente do Federal Reserve (Banco Central Americano) Alan Greenspan. A intenção de Greenspan ao proferi-la era mostrar o quão complexas são as previsões relacionadas ao câmbio.

Mais recentemente, em 2019, o Ministro da Economia Paulo Guedes disse que o câmbio só chegaria a R$ 5,00 se “o governo fizesse muita besteira”. O fato é que o câmbio, neste artigo tratado como o preço do real frente ao dólar americano, foi uma das moedas que mais se desvalorizou nos últimos 12 meses.

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A cotação da moeda operada em outubro de 2019 era de R$ 4,00 para US$ 1,00, de forma que um ano depois, em outubro de 2020, foi trabalhada a R$ 5,77. Com uma desvalorização de 44,25% do real neste período, esta foi uma das moedas que mais se desvalorizou internacionalmente frente ao dólar.

Como tudo em economia, uma desvalorização desta magnitude tem efeitos positivos e negativos. Começando pelos primeiros, um câmbio mais desvalorizado estimula as exportações da produção doméstica. Em outras palavras, os preços nominais em dólar dos produtos nacionais ficam mais baratos em relação aos de outros países e, com isto, os produtos nacionais ganham market share internacional, passando a ser demandados por outros mercados.

Competitividade

O câmbio é, portanto, um fator importante de competitividade da economia nacional, entretanto, os efeitos positivos da supracitada desvalorização não são distribuídos de forma homogênea entre os setores da economia.

Basicamente, os setores afetados positivamente pela desvalorização cambial são os chamados tradebles, que são focados na produção de bens e serviços comercializáveis. Dentre estes, o setor que deve sentir os reflexos positivos a curto prazo é o de commodities, de forma mais geral, e a agropecuária de forma mais específica.

Diante deste dado, as exportações da agricultura brasileira devem continuar mantendo um bom desempenho e, mais do que isto, os negócios do campo devem apresentar, no curto prazo, maior lucratividade. Isto porque a desvalorização do câmbio promove uma redução do preço em dólar do produto nacional, mas simultaneamente uma elevação do preço em real desta mesma produção.

Portanto, no curto prazo, as receitas em Real do produtor exportador devem aumentar. Este, no entanto, é um efeito que deve durar apenas no curto prazo. Isto porque a desvalorização do câmbio deve afetar, no médio prazo, também os custos de produção no campo. Insumos agrícolas, fertilizantes, vacinas, máquinas e ferramentas, entre outros, são produzidos com grande participação de componentes importados que fatalmente incidirão sobre os custos.

De olho na volatilidade

É preciso estar atento, no entanto, à volatilidade da taxa de câmbio. Entende-se por volatilidade a dispersão do valor do câmbio em relação à sua média, o que significa que seria demasiadamente custoso prever o comportamento futuro do câmbio e, portanto, tanto as receitas quanto os custos em dólar envolvidos na produção acabam oscilando demasiadamente.

É preciso estar atento também aos fatores negativos de um câmbio muito desvalorizado. O primeiro deles consiste no efeito sobre a inflação oriundo de um choque de custos cambiais. Em outras palavras, os preços dos produtos importados no mercado doméstico tendem a subir. Eles consistem em 1/3 do total de preços ponderados no IPCA, logo a desvalorização do câmbio irá repercutir na inflação e, posteriormente, nos juros.

Em grande medida já se espera que o Banco Central deva elevar a taxa de juros em algum momento de 2021 para tentar manter a inflação na meta e impedir que o câmbio se desvalorize mais. Isto é ruim, porque torna o crédito mais caro e dificulta a recuperação da economia brasileira. Tempos desafiadores nos esperam pela frente.


A escolha de Joe Biden e os impactos no agronegócio brasileiro

Os norte-americanos elegeram o democrata para os próximos 4 anos. O Encontro de Analistas da Scot Consultoria, que aconteceu em 27 de novembro, debateu o atual cenário e as expectativas do setor após as eleições no Brasil e nos Estados Unidos

Após alguns dias de especulações e polêmicas, com 290 votos contra 214, o democrata Joe Biden foi eleito presidente dos Estados Unidos, desbancando Donald Trump. Diante desse cenário, quais os impactos dessa mudança para o agronegócio e para a economia brasileira? Essa e muitas outras questões sobre o pós-eleição, tanto nos EUA quanto no Brasil, foram discutidas no Encontro de Analistas da Scot Consultoria, realizado em 27 de novembro, em São Paulo.

O diretor-fundador da Scot Consultoria e mediador do evento, Alcides Torres (Scot), disse que, com relação ao agronegócio como um todo, a eleição de Biden não mudará muito o cenário neste primeiro momento, ou seja, nos próximos 12 meses. Mas, segundo ele, é importante lembrar que o último grande presidente democrata católico dos Estados Unidos foi John Fitzgerald Kennedy, que era pragmático, e o Biden, que foi vice de Barack Obama, tem perfil semelhante.

“Os presidentes democratas têm a característica de defender os agricultores norte-americanos e, nesse sentido, poderemos ter alguma surpresa.

DADOS

– Em 2020 o dólar já teve valorização cambial de cerca de 45% sobre o real, chegando a ser cotado em R$ 5,94

– Brasil – Um dos maiores exportadores de grãos do mundo, em que as exportações agrícolas representam cerca de 50% do total das exportações brasileiras.

– Culturas que apresentam alto índice de exportação foram beneficiadas pela supervalorização do dólar. Exemplos de cultivos que estão sendo comercializados com melhores preços são o algodão, café, os derivados da cana-de-açúcar (etanol e açúcar), suco de laranja, milho e soja.

Pontos negativos no mercado interno

– O preço do arroz subiu 120%  – R$ 12,00, passou a custar mais de R$ 30,00

– O óleo de soja triplicou –  R$ 3,80, passou a custar aproximadamente R$ 10,00 em algumas regiões do País.

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