Qual o problema?
Matheus de Jesus Morais – Graduando em Engenharia Agronômica – ESALQ-USP e bolsista FAPESP – Laboratório de Fisiologia e Bioquímica Pós-Colheita – matheusmorais@usp.br
Ana Paula Preczenhak – Doutora, pós-doutoranda na ESALQ-USP e professora – Faculdade de Ensino Superior Santa Bárbara (FAESB) – appreczenhak@gmail.com
Ricardo Alfredo Kluge – Doutor e professor – ESALQ-USP, Departamento de Ciências Biológicas – Laboratório de Fisiologia e Bioquímica Pós-Colheita – rakluge@usp.br
O jiló (Solanum aethiopicum) é uma planta da família das solanáceas produzida principalmente na região sudeste do Brasil. O maior Estado produtor é o Rio de Janeiro, responsável por cerca de 30% da produção nacional, seguido por Minas Gerais e São Paulo.
Apesar de a cultura preferir temperaturas entre 26 – 28°C e não tolerar temperaturas baixas, a disponibilidade de jiló é regular o ano todo em regiões com invernos amenos. A hortaliça é uma planta herbácea, cultivada como anual, tem crescimento indeterminado, podendo atingir mais de 1,0 metro e seus frutos são conhecidos pelo sabor amargo e coloração verde da casca. A colheita ocorre quando os frutos estão em estádio imaturo.
Dentre os fatores que afetam sua qualidade está a presença de doenças no fruto, murchamento e amarelecimento. Mas, o que causa o amarelecimento dos frutos? Este amarelecimento nada mais é do que a degradação de clorofila, responsável pela coloração verde e a síntese de carotenoides (pigmentos amarelos e/ou vermelhos).
O jiló começa a mudança de cor antes de completar sua fase de crescimento total. Os frutos que são consumidos no estádio verde ainda não completaram seu desenvolvimento – as mudanças de cor (amadurecimento) têm início por meio de mudanças fisiológicas e bioquímicas.
Sintomas
O início do amadurecimento é visível pelo princípio da perda de cor verde da casca: de verde brilhante passa para verde opaco, verde claro, até manchas amarelas, por fim, começa a produzir os pigmentos vermelhos, que caracterizam o fruto maduro.
Este processo é inevitável e faz parte do ciclo da cultura. Esta mudança de verde para amarelo se inicia por volta de 30 dias após antese e aos 40 dias após antese a cor vermelha já é predominante no fruto. O tempo exato destas mudanças depende do genótipo, podendo ser de ciclo longo ou curto.
A perda de clorofila, durante o crescimento e amadurecimento, pode chegar a 10 vezes seu conteúdo inicial. Com a redução de clorofila os carotenoides passam a ser majoritários, e como estes pigmentos são os responsáveis pela coloração amarela e vermelha da casca dos frutos, a coloração verde é perdida. Assim como no tomate, o carotenoide que confere a coloração vermelha ao jiló é o licopeno.
O que fazer?
Para reduzir o amarelecimento, que é comercialmente indesejável para o jiló, a colheita no estádio correto é o principal cuidado a ser tomado, antes do aparecimento de qualquer resquício da cor amarela. Devido a estas mudanças serem metabolicamente controladas, o processo não pode ser freado, assim, uma vez colhido no momento incorreto, o amarelecimento é inevitável.
O armazenamento refrigerado e embalagem em polímeros, como PVC, podem ser uma estratégia para reduzir as taxas metabólicas e atrasar estas mudanças. O PVC é capaz também de reduzir a perda de água dos frutos e aliado ao armazenamento refrigerado (10°C) mostrou ser eficaz no aumento da vida útil de frutos de jiló, porém, não foi capaz de impedir o início do amarelecimento dos frutos.
Além disso, o pré-resfriamento dos frutos após a colheita é uma estratégia para reduzir o seu metabolismo e atrasar o início das mudanças fisiológicas e bioquímicas.
Pesquisas
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Para garantir plantas com bom rendimento e frutos de qualidade são necessários cuidados com o manejo da cultura desde o campo. Em estudo realizado em Jaboticabal (SP), foi constatado que a adubação nitrogenada suplementar acarreta maior produtividade da cultura do jiloeiro.
O desempenho em produtividade aumentou cerca de 35% nos jilós adubados suplementarmente em relação ao jiló que não sofreu tal tratamento (tratamento controle). Utilizando-se adubação foliar com biofertilizantes à base de aminoácidos, um estudo conduzido em Lavras (MG) constatou aumento na faixa de 40% de produtividade em relação às plantas sem aplicação.
Estes resultados são ligados às propriedades dos aminoácidos, responsáveis pela produção de enzimas que retêm melhor o nitrogênio aplicado via nitrato no solo. Sendo a deficiência nutricional um dos fatores que podem levar ao amarelecimento das folhas de jiloeiro, a suplementação da adubação pode ajudar a reduzir a incidência desse sintoma e, ainda assim, contribuir para o aumento de produtividade.
Prevenção
Cuidados no cultivo de jiló devem ser tomados. Áreas produtoras de hortaliças usualmente não adotam algumas medidas, como a rotação de culturas. Sendo assim, o plantio de plantas que pertencem à mesma família botânica pode acarretar em maior incidência de pragas e problemas fitossanitários, incitando maior área de amarelecimento foliar por planta.
Também é importante salientar a importância das doses de fertilizantes aplicadas. Em excesso, podem ocasionar queda no número de frutos e doses muito elevadas de fósforo podem reduzir o crescimento das raízes do jiloeiro.
Custos
Segundo a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Distrito Federal (EMATER-DF), o custo total para a implantação de um hectare de jiló sob o sistema de gotejamento é em torno de R$ 26.000,00. De acordo com a cotação mais recente do CEAGESP-SP, o preço do quilo do jiló (jiló redondo Extra A) está em R$ 2,87.
Um hectare de jiló pode produzir de 20 a 60 toneladas de jiló (Embrapa, 2012). Tomando como referência o valor médio (40 ton/ha), um hectare de jiló produz R$ 114.800,00 de retorno ao produtor. Se aplicados os tratamentos de aumento de produtividade citados anteriormente nesta matéria, este valor pode aumentar entre 35 a 40%.
É importante citar que os preços do jiló são flutuantes e dependem da oferta do produto, bem como do local onde está sendo comercializado. Além disso, apesar do retorno significativo, grande parte é direcionada ao pagamento de mão de obra, manutenção de maquinário e compra de adubos, sendo estes suplementares ou não.
Lembrando que o planejamento antes da implementação da cultura é muito importante.