Annie Karoline de Lima Cavalcante – annie.karolinelima@gmail.com
Luana Candaten – luana_candaten@outlook.com
Engenheiras florestais e mestrandas do Programa de Pós-Graduação em Recursos Florestais – USP
Elias Costa de Souza – Engenheiro florestal, mestre em Ciências Florestais e doutorando do Programa de Pós-Graduação em Recursos Florestais – USP – eliasrem@hotmail.com
As madeiras com melhores propriedades físicas, mecânicas, biológicas e químicas, chamadas de madeiras nobres, ou ainda popularmente conhecidas como “madeiras de lei”, em sua maioria, as madeiras nativas do Brasil, principalmente da região norte do País, apresentam um desempenho elevado nos mais variados ambientes em que podem ser empregadas, devido às suas propriedades diferenciadas.
Tal material se sobressai, quando comparado a madeiras de reflorestamento, por exemplo, em função da altíssima durabilidade natural, ou seja, é mais resistente ao ataque de organismos xilófagos, como fungos, cupins, brocas marinhas, entre outros.
Essa diferença é resultante das propriedades já citadas, as quais intervêm na estrutura interna da madeira, conferindo à mesma maiores teores extrativos que impedem o desenvolvimento desses organismos biológicos.
Outras propriedades, como massa específica elevada, por exemplo, causada pelo menor volume do lúmen das células da parede celular da madeira, conferem ao material maior dureza e rigidez, apresentando um excelente desempenho mecânico.
As madeiras de fácil acesso, normalmente utilizadas no cotidiano da propriedade rural para a confecção de cercas e outras atividades, precisam receber tratamentos, em sua maioria químicos, afim de agregar uma maior durabilidade às mesmas, pois, diferente das madeiras nobres, materiais como o pinus e eucalipto não apresentam propriedades biológicas elevadas, sendo facilmente consumidos por fungos e cupins.
Desafios para as madeiras nobres
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Apresentadas as vantagens da utilização de madeiras nobres, é necessário abordar as dificuldades encontradas no seu uso. A primeira delas é que, por se tratar de espécies nativas, são necessárias licenças para que as mesmas possam ser extraídas, e também, devido ao seu crescimento lento, quando comparadas às madeiras provenientes de reflorestamento, os plantios são escassos ou quase inexistentes com essas espécies, as quais poderiam levar de 30 até 50 anos para fazer a colheita das mesmas.
Além do crescimento lento, existem vários obstáculos para a exploração e comercialização das madeiras de lei. Os principais equívocos relacionados à produção e comércio dessas espécies, que dificultam sua cadeia produtiva, são a realização inadequada do manejo florestal e a ausência da documentação necessária para o comércio das mesmas. No caso, estamos falando do Documento de Origem Florestal (DOF), que certifica que a madeira tem origem legal, ou seja, todos os processos que envolvem desde a colheita até sua venda nas madeireiras estão em conformidade com a legislação vigente.
O manejo florestal inadequado, a longo prazo, irá diminuir o estoque disponível, ou seja, a quantidade de madeira que pode ser extraída sofrerá uma redução significativa do seu volume, aumentando ainda mais o valor de comercialização dessas espécies, que, atrelado ao desmatamento ilegal, poderá ocasionar o colapso desse setor florestal, ou até mesmo a extinção dessas espécies.
Principais espécies cultivadas e mercado
Hoje em dia no país, as principais madeiras nobres disponíveis no mercado são mogno africano, jacarandá, ipê, jatobá e cedro. Essas, além das excelentes propriedades tecnológicas discutidas anteriormente, também apresentam elevado padrão estético, por sua cor e desenhos possíveis de visualizar em seu lenho.
Uma outra espécie muito cultivada no Brasil é a teca, também considerada de uso nobre, devido às suas excelentes características tecnológicas. Devido à forte exploração da espécie na Ásia, o mercado vem sendo abastecido principalmente pela América Latina, em destaque o Brasil. Diferente das espécies tropicais mais comercializadas, a teca apresenta rápido crescimento, podendo ser colhida entre 16 e 20 anos.
Valor agregado
Essas espécies, por serem consideradas de uso nobre, isto é, são empregadas nos setores de movelaria, pisos, construção civil e naval. Além de objetos em madeira, são comercializadas a elevados valores, iniciando em R$ 1.000,00/m³ e podendo ultrapassar o valor de R$ 2.500,00 por m³ de madeira serrada.
Além do valor elevado da madeira por si só, o comércio de madeiras de lei envolve transporte por longos percursos, feitos majoritariamente por rodovias, e posteriormente a secagem desse material para que atenda os mais elevados padrões do mercado consumidor, o que irá encarecer o produto final.
Diante de tudo isso, se faz importante maiores investimentos no setor, de forma a otimizar e modernizar os processos, para garantir a continuidade da exploração e comércio dessas espécies sem gerar agravantes ao meio ambiente, produtores e consumidores.