Autores
Lucas Pereira da Silva // Éder Jr de Oliveira Zampar – eder.zampar1@gmail.com //Bruna Cristina de Andrade
Engenheiros agrônomos e mestrandos em Agronomia – Universidade Estadual de Maringá (UEM)
Priscila Angelotti Zampar – Engenheira agrônoma e doutoranda em Agronomia – UEM
Mylena Chaves Carvalho – Engenheira agrônoma – Universidade Federal de Lavras (UFLA)
A cotonicultura é uma das principais culturas exploradas no Brasil e no mundo, sendo o comércio mundial responsável por movimentar anualmente cerca de US$ 12 bilhões de dólares com produtos e subprodutos advindos deste cultivo.
Além disso, nosso país é responsável por movimentar mais de R$ 14 bilhões, sendo responsável por uma significativa parcela no produto interno bruto (PIB) do agronegócio brasileiro, desempenhando papel social e de grande importância, no qual emprega direta e indiretamente milhares de pessoas dentro da sua cadeia produtiva (Neves et al., 2018).
Existem diversas empregabilidades aos produtos finais da cultura do algodão, tornando-o assim uma cultura com diversos mercados finais disponíveis, por exemplo, a fibra, que é o principal produto da cultura, é destinado à indústria têxtil para confecção de tecidos, bem como a fabricação de películas fotográficas e chaves para radiografia.
Já o caroço de algodão é rico na concentração de óleo (18 – 25%), sendo destinado para a alimentação humana, a torta de algodão, que é o subproduto do caroço, é destinada para a alimentação animal, devido ao seu alto valor proteico (40% a 45%) e, além disso, é possível utilizar o tegumento para a fabricação de certos tipos de plásticos e borrachas sintéticas.
Já a fabrilha é uma fina penugem agarrada ao caroço, que pode ser empregada na indústria química de plásticos e explosivos (Borém & Freire, 2014).
Produção
Segundo dados da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), atualmente são cultivados mais de 1.671 hectares de algodão, valor este dobrado, se comparado com os 868,4 mil hectares plantados no início da década de 2000, o que mostra a relevância desta cultura no nosso País.
Atualmente, a produtividade média do algodão em caroço é de 4.305 kg/ha, da pluma de algodão é de 1.723 kg/ha e do caroço é de 2.582 kg/ha. Já a última produção anual registrada do algodão em caroço foi de 7.194 toneladas, o da pluma de algodão de 2.879 toneladas e o do caroço de 4.315 toneladas.
Quando observamos os números por regiões, atualmente a região centro-oeste é a que mais se destaca, possuindo 1.239,8 hectares plantados, sendo a produtividade média do algodão em caroço de 4.290 kg/ha, da pluma de algodão de 1.716 kg/ha e do caroço de 2.574 kg/ha, o primeiro com produção de 5.318,5 toneladas, enquanto de pluma de algodão de 2.127,9 toneladas e do caroço de 3.190,6 toneladas.
Diversos estados no território brasileiro realizam o cultivo do algodão, entretanto, é o Mato Grosso que se destaca como o maior produtor da cultura, com cerca de 1.169 hectares plantados, com a produtividade média do algodão em caroço de 4.289 kg/ha, da pluma de algodão de 1.716 kg/ha e do caroço de 2.573 kg/ha, o que torna este o Estado com maiores recursos tecnológicos para desenvolvimento da cultura.
Economia
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Segundo essa linha de alta produtividade em que o Brasil se estabeleceu, nos últimos anos o País tornou-se o segundo maior exportador de produtos e subprodutos oriundos da cotonicultura.
No último ano, 2019, segundo a ICAC (Internacional Cotton Advisory Committee), das 733.750,72 toneladas exportadas em todo o mundo, o Brasil foi responsável por 93.570,39 toneladas, ficando atrás apenas dos Estados Unidos, que foi responsável por exportar cerca de 259.792,29 toneladas. Dentre os diversos destinos das exportações brasileiras, grande maioria tem como rota países como Vietnã, China, Paquistão, Indonésia e Turquia.
Contudo, apesar do País se tornar, a cada ano que se passa, o segundo maior exportador e fornecedor de algodão para alguns países, ficando atrás apenas do EUA, é possível também focar parte da produção no mercado interno, uma vez que, segundo a Abit (Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção), o consumo interno de algodão vem tomando uma crescente, e se tornando economicamente competitivo em comparação com fibras concorrentes, tais como as sintéticas.
Lucro
Quando observamos quem produz a cultura, dedicar-se mais à cotonicultura vem se tornando mais lucrativo, uma vez que segundo a Abrapa (Associação Brasileira dos Produtores de Algodão), apesar do alto custo de produção, em média de R$ 7.000 a R$ 8.000 por hectare, a atividade possui uma boa remuneração, se comparado com outras culturas agrícolas.
Em média, o lucro líquido obtido com algodão, descontados todos os custos, inclusive financeiros e depreciações, é de, em média, R$ 2.900 por hectare. Além disso, grande parte da cultura é vendida antes mesmo do final do ciclo, em média dois terços.
Preparação do solo
Na cultura do algodão, o preparo do solo deve ser realizado com muita atenção, afim de garantir melhores condições de germinação e desenvolvimento da cultura. O sistema de produção do algodoeiro no Brasil é muito diverso.
Em Mato Grosso os produtores cultivam como segunda cultura após a soja, fazendo com o que a planta se desenvolva durante o período de redução do regime de chuvas, que ocorre apenas no mês de maio, o que se torna um grande desafio, pois o plantio é realizado no alto regime de chuvas. Desta forma, torna-se de grande importância trabalhar com cultivares com boas capacidades de enraizamento para um bom estabelecimento da cultura.
Já na Bahia os produtores preferem semear seus campos durante o verão, aproveitando o período de chuvas.
A água é de suma importância para o enchimento das maçãs, entretanto, caso haja altos regimes de chuva, após esse período resultará no apodrecimento da mesma. Além disso, um dos principais desafios durante o ciclo da cultura é a baixa luminosidade (tempo nublado), o que resulta na retardação da taxa fotossintética, decrescendo a disponibilidade de nutrientes orgânicos.
Para a preparação do solo, em glebas que anteriormente foram ocupadas por outras culturas, é recomendado, antes da aração, se passar um rolo-faca e/ou uma grade de disco, permitindo que os restos da cultura anterior se decomponham de forma mais rápida. Já a aração deve ser realizada a uma profundidade de 30 cm, pois a maioria das raízes do algodoeiro não ultrapassa essa profundidade, além de que, toda a adubação realizada para o estabelecimento da cultura fica em torno dos 20 cm superiores do solo.
É necessário frisar que, em áreas com altas incidências de plantas daninhas, é recomendado realizar duas arações, mais do que isso não é recomendado (Borém & Freire, 2014).
Semeadura e época de plantio
Uma das etapas mais importantes no plantio do algodão é a escolha das cultivares, pois existem no mercado diferentes tipos, por isso é ideal escolher aquela que mais se enquadra à necessidade do local a ser implementada a cultura, levando em conta que sejam tolerantes a pragas, doenças, nematoides e herbicidas (Neto & Freire, 2013).
O espaçamento utilizado na implementação da cultura é variável, sendo o melhor aquele em que a planta tem ótimo aproveitamento e pode expressar suas melhores características. Para isso, geralmente são indicados espaçamentos entre fileiras de 0,75 m a 0,90 m, ou então, quando é utilizado o plantio adensado de 0,45 m – 0,50 m, a densidade deve ser de 8,0 a 10 plantas por m² (Borém & Freire, 2014).
Segundo Aguiar et al. (2006), a semeadura é determinada principalmente pelo regime de chuvas regional, pelo ciclo do algodoeiro e pelas exigências hídricas e térmicas durante o seu desenvolvimento. Assim, os regimes pluvial e térmico, aliados à topografia plana, favorecem a fixação da cultura algodoeira em diversas áreas.
Desta forma, segundo estudos da Fundação Mato Grosso, por exemplo, a melhor época para plantio da cultura no Estado de Mato Grosso é entre o início de dezembro e começo de fevereiro.
A importância da calagem e da adubação
A acidez do solo é um fator intimamente relacionado à baixa produtividade do algodoeiro. Essa relação é devido à elevada sensibilidade da cultura ao alumínio tóxico. Além disso, a baixa disponibilidade de alguns outros nutrientes diminui o potencial produtivo da cultura (Borém & Freire, 2014).
O intuito da calagem é elevar a saturação por bases do solo a 60% na camada arável, entre os 0 – 20 cm próximos Pa superfície do solo (Francisco & Hoogerheide, 2013). A utilização de calcário é também recomendada afim de permitir a manutenção dos teores de Mg acima de 0,7 cmolc dm-3 ou de forma mais próxima a 1 cmolc dm-3 (Carvalho et al., 2007).
Deste modo, é de suma importância avaliar a acidez do solo no qual será implementado o cultivo, afim de garantir melhores números produtivos, pois a utilização ordinária de fertilizantes nitrogenados propicia elevados teores de acidez no ambiente.
As recomendações de adubação são singulares para cada área a ser plantada, sendo necessárias análises laboratoriais para determinações de possíveis recomendações de macro e micronutrientes. Por esse motivo, é sempre necessário solicitar as análises de solo a um engenheiro agrônomo de confiança.
De modo geral, o algodoeiro tem uma alta demanda de nitrogênio (N), potássio (K), cálcio (Ca) e boro (B). O nitrogênio prolonga o desenvolvimento da planta e está relacionado com o desenvolvimento do número de capulhos.
Já o K está integralmente envolvido no metabolismo e nas relações entre a água e a planta, sendo um ativador enzimático essencial para ocorrência da fotossíntese, bem como o desenvolvimento das fibras, de modo que a sua escassez resultará em uma qualidade inferior e uma produtividade menor.
O Ca fortalece as paredes celulares e melhora a integridade da membrana, além de estar relacionado com a atividade de frutificação e tolerância ao sal, e por fim o boro, que é um elemento essencial que o algodão precisa durante todas as fases de crescimento e frutificação, estando relacionado com o desenvolvimento e retenção dos botões, aumento da polinização, transporte de nutrientes e açúcares das folhas para os frutos, produção de fibras fortes e bem desenvolvidas, além de acelerar a maturidade (Carvalho et al., 2011).
Além disso, vale ressaltar que, de acordo com a dinâmica de formação de estruturas e modulações ambientais, no terço superior (ponteiro), um dos maiores desafios é o peso das maçãs e qualidade de fibra, fatores estes que estão diretamente ligados à nutrição de plantas, de forma que ela já possui as estruturas do terço médio e inferior formadas, faz-se necessário a aplicação principalmente de K para o enchimento.
Também ocorre a competição por nutrientes orgânicos (fotoassimilados) e inorgânicos, fazendo com o que haja o abortamento e podridão do baixeiro.
Colheita
A colheita do algodoeiro é variada, tornando-se dependente ao material genético que é utilizado, mas, de modo geral, é colhido em média 130 dias após a implantação da cultura, porém, podendo chegar a 170 dias em cultivares mais tardias.
O uso de desfolhantes, maturadores e dessecantes é essencial no cultivo do algodoeiro. A principal diferença entre eles é que os dois primeiros grupos de insumos provocam a queda das folhas, enquanto os dessecantes causam o secamento, mas sem a queda das mesmas, proporcionando a obtenção de produtos com alto grau de impurezas, o que eleva o custo do processo de beneficiamento e exige que os beneficiadores estejam preparados para beneficiar este tipo de algodão. Desta forma, sempre que possível deve-se dar preferência para o uso de desfolhantes (Ferreira & Lamas, 2006).
Por fim, a colheita pode ser realizada tanto manual quanto mecanizada, entretanto, uma colheitadeira moderna é capaz de trabalhar 2.000 a 3.000 arrobas/dia, enquanto uma pessoa dificilmente será capaz do mesmo. As colheitadeiras mais utilizadas para essa cultura são as do tipo Picker, que extraem o algodão da cápsula sem mexer com as cascas, e do tipo Stripper, capazes de arrancar as cápsulas inteiras da planta (Sofiatti et al., 2011).