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Manejo contra resistência de pragas

Matheus Fernandes de Limamatheus123w@gmail.com

Marcio Luiz Moura Santomarcio.luiz253@gmail.com

Michael Patrick Ferreira Althmanmichael.althman@unesp.brEngenheiros agrônomos

Milho – Fotos: Shutterstock

O cultivo de grãos é um dos setores mais importantes da economia brasileira. Dentro desse setor destaca-se cada vez mais a cultura do milho, sendo uma cultura de suma importância para o agronegócio brasileiro.

Muito do sucesso da cultura do milho se dá por conta da modalidade de plantio chamada de safrinha ou segunda safra, que tem crescido muito nos últimos anos, com rendimentos iguais ou superiores aos obtidos nos plantios de verão. Porém, esses ganhos que esse modelo de produção traz nem sempre são alcançados, devido aos riscos que a cultura está sujeita, principalmente relacionados à distribuição e à frequência de chuvas, pragas e doenças.

Segundo dados da CONAB, esperara-se uma produção total de 108,1 milhões de toneladas na safra 2020/2021, gerando um incremento de 5,4% em relação à safra 2019/20, destacando todo seu potencial produtivo e tecnológico.

Fitossanidade em dia

Para manter esses bons números de produção, o ideal é que a cultura do milho esteja livre do ataque de pragas e doenças, o qual pode interferir de forma significativa na produtividade final da cultura, chegando à redução de até 30% do potencial de produção.

Essas pragas e doenças geralmente disseminam com grande facilidade a partir de sementes, raízes e plântulas, podendo diminuir o estande por unidade de área, atacar a parte comercial ou reduzir a área fotossintética, como no caso das doenças de parte aérea. Muitas vezes, esses problemas podem passar despercebidos pelo produtor, que acaba perdendo o tempo correto de controle, ocasionando perdas irreversíveis durante o ciclo da cultura.

No milho safrinha, a incidência de pragas tende a ser maior, necessitando de um cuidado redobrado. Na época de cultivo do milho safrinha, as condições climáticas tendem a ser mais favoráveis para proliferação de problemas fitossanitários. Junto desse fator, a pressão de campo por conta da ininterrupta permanência de algum tipo de cultivo no campo favorece a maior incidência de pragas.

Danos

Os danos causados pelas pragas na fase vegetativa e reprodutiva do milho variam de acordo com o estádio fenológico da planta, condições edafoclimáticas, sistemas de cultivo e fatores bióticos. Nessas fases, a cultura é atacada por várias espécies-praga. A importância desses insetos varia de acordo com o local, ano e sistema de cultivo.

As mesmas pragas da safra de verão podem atacar o milho safrinha, porém, podem ocorrer com intensidades diferentes, isto é, pragas consideradas secundárias na safra de verão podem constituir-se em pragas-chave na safrinha e vice-versa.

As pragas atacam o milho safrinha logo após a emergência da plântula, especialmente os insetos mastigadores, como a lagarta-do-cartucho, a lagarta-elasmo e várias espécies de insetos sugadores, como o percevejo barriga-verde, o tripes, a cigarrinha-verde e a cigarrinha-das-pastagens.

A principal praga da cultura do milho é a lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda). Sua importância se dá pelo seu potencial de danos diretamente ao produto comercial, atacando o cartucho, além de poder atacar em outra fase sensível da cultura, no período de plântula. Associado isso, ainda não existe nenhuma tecnologia transgênica que seja eficaz contra essa praga, tornando o seu monitoramento ainda mais importante durante o ciclo da cultura. 

 Outros organismos que podem causar prejuízos durante o ciclo da cultura do milho são os causadores de doenças. No milho, as doenças podem ser provocadas por fungos, bactérias e vírus, sendo intensificadas por fatores ambientais, como temperatura, luz e umidade.

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As principais doenças no milho são as que atacam a parte aérea, como cercosporiose (Cercospora zeae-maydis), mancha branca (Phaeosphaeria maydis), ferrugem (Puccinia polysora) e antracnose (Colletotrichum graminicola). Essas doenças podem atuar na parte foliar da planta, diminuindo assim a área fotossintética e prejudicando o desenvolvimento correto da cultura.

Controle

O manejo dos problemas fitossanitários é de suma importância para garantir o máximo potencial produtivo da cultura. Porém, vários aspectos tem que ser levado em conta na hora da tomada de decisão.

O controle de pragas tem que seguir os princípios do manejo integrado (MIP), que prega a associação de vários métodos de controle, onde o organismo é considerado praga apenas quando ele causar prejuízo econômico. Para isso, é necessário realizar algumas ações que visam auxiliar esse método.

Primeiramente, além de conhecer as principais pragas da cultura e seu comportamento, é necessário realizar amostragens frequentes nos talhões a fim de observar se determinada praga atingiu o nível de controle, ou seja, se a densidade populacional dessa praga é suficiente para causar prejuízos econômicos para o produtor. Após constatar que o organismo de fato está ocasionando perdas, o controle se faz necessário.

O controle químico é o método mais utilizado para o manejo curativo de pragas na cultura do milho, porém, vale ressaltar a existência de outros métodos, como o controle biológico, por comportamento, mecânico e alguns controles preventivos, como a utilização de plantas geneticamente modificadas, em que cerca de 70% das cultivares disponíveis no País apresentam algum tipo de transgenia.

Manejo integrado

Outro ponto importante do MIP é levar em consideração o estádio fenológico da planta. Algumas fases das plantas são mais suscetíveis ao ataque de pragas, como por exemplo, no período logo após a germinação, em que as plantas ficam altamente sensíveis ao ataque de pragas de solo, então, um manejo adequado a se fazer é o tratamento de sementes com inseticidas recomendados para tal finalidade, que consiste em outra forma de controle preventivo, auxiliando a planta no controle de pragas iniciais e pragas do solo logo após a germinação.

Essa fase é crítica para a planta, pois é um dos pontos mais importantes que irá definir o estande de plantas na área. O ataque dessas pragas, em sua maioria, causa o tombamento da planta, reduzindo drasticamente a quantidade da cultura e consequentemente diminuindo a produtividade final.

Algumas pragas podem ser mais severas do que outras. Isso vai depender de alguns fatores, como a parte da cultura que ela ataca, podendo ser classificadas como pragas diretas ou indiretas, ou seja, se ataca diretamente a parte comercial ou ataca partes que possam comprometer o desenvolvimento ideal da cultura.

Outro aspecto é a velocidade e frequência com que essa praga atinge o nível de controle e a dificuldade desse controle, sendo um dos principais motivos para classificar a praga como chave ou praga secundária.

No caso do milho, uma praga-chave como a Spodoptera frugiperda exige maior rigor do nível de controle, se comparado com pragas secundárias. Pragas de solo e do desenvolvimento inicial da cultura, como o coró, também necessitam de um nível de controle mais rigoroso, na medida em que é um período crucial para o estabelecimento da cultura.

Na safrinha

As doenças estão presentes em boa parte do desenvolvimento da cultura e, no caso específico do milho safrinha, observa-se um aumento considerável na pressão de inóculo de patógenos na área por conta dos cultivos sucessivos.

O controle de doenças, assim como de pragas, é ideal contar com monitoramento, e para isso se faz necessário o conhecimento e comportamento das principais doenças dessa cultura no campo.

O controle eficiente das doenças ainda é um desafio, mas alguns cuidados podem ser tomados para amenizar esses problemas, como o plantio em épocas adequadas para que não coincida com o período em que as condições ambientais estejam mais favoráveis para o desenvolvimento do patógeno.

Normalmente, o patógeno se desenvolve melhor em condições de temperaturas mais amenas e com alta umidade. Outro ponto importante é a utilização de sementes de boa qualidade e ainda realizar a rotação de culturas de maneira adequada. Essas medidas visam reduzir o potencial de inóculo presente na lavoura. Quando necessário, também é possível realizar o controle químico.

Genética a favor do campo

Atualmente, os híbridos que estão disponíveis no mercado apresentam alto teto produtivo, porém, podem ter menor rusticidade, o que deixa a planta com menos capacidade de proteção quando é infestada por inóculos de determinado patógeno.

Os fungicidas utilizados para o controle podem ser sistêmicos ou protetores. Esses últimos não possuíam a tradição de serem muito utilizados em culturas de larga escala, porém, têm se mostrado bastante eficientes como fungicidas protetores, na medida em que os fungicidas sistêmicos possuem maior vulnerabilidade em perder a eficiência por conta de resistência dos patógenos.

Então, a associação desses dois tipos de produtos pode ser bastante positiva em áreas em que a pressão de inóculo é mais alta, reduzindo a evolução de doenças nessas áreas. Com a redução do desenvolvimento precoce das doenças nessas condições, mantém-se a sanidade das plantas e, consequentemente, aumenta-se a produtividade, além de aumentar a qualidade dos grãos, gerando assim produtos com maior valor agregado, pois cada vez mais se busca, além de produtividade, uma maior qualidade do produto final.

Cuidados

Ao falar de culturas subsequentes, como o milho safrinha, fala-se em cuidados que vêm desde a primeira cultura plantada na área, pois por mais cuidados que se realize durante o cultivo da segunda safra, se o histórico da primeira safra não for favorável, a condução dos problemas fitossanitários será cada vez mais difícil.

Então, alguns pontos são cruciais para o desenvolvimento correto do milho safrinha. Pesquisas realizadas pela Embrapa Milho e Sorgo indicam, por exemplo, que pragas iniciais influenciam diretamente no número de plantas finais e seus danos podem chegar a até 80% no estande de plantas.

Culturas como o milho são extremamente sensíveis à perda de população de plantas, sendo um período chave para garantir o sucesso da lavoura.

Além do período de estabelecimento da cultura, outros pontos são determinantes para garantir uma lavoura sem esses problemas fitossanitários. Saber identificar e quantificar populações de insetos-praga e suas injúrias é essencial, caso contrário, pode ocasionar um manejo de pragas não eficiente.

Equívocos e soluções

Alguns pontos que costumam ser seguidos pelos produtores e que prejudicam a sanidade da lavoura, como por exemplo, a utilização de produtos fitossanitários do mesmo grupo químico e princípios ativos, gerando o surgimento de pragas resistentes e uma explosão de pragas secundárias.

Muitos desses problemas podem ser mitigados no início do plantio da cultura, com a escolha de materiais de milho que sejam menos suscetíveis às pragas de maior relevância na região e controle de plantas daninhas, que podem ser possíveis hospedeiras dessas pragas e servir como fonte de alimento.

A realização de tratamento de sementes eficiente e bom manejo, seguindo as boas práticas, na cultura anterior plantada na área do milho safrinha, reduzirá a população de pragas iniciais e subterrâneas.

Buscar a utilização de tecnologias que já estão no mercado é favorável para ajudar no controle de pragas. Muitos materiais de milho transgênicos detêm biotecnologias que auxiliam nesse controle, e com a utilização correta da área de refúgio se tornam uma das principais ferramentas para evitar a perda de eficiência dessas tecnologias.

Com o monitoramento de pragas de acordo com o desenvolvimento da cultura, definindo a praga primária, a secundária e qual que é o inimigo natural, é possível saber o que e quando aplicar, buscando sempre fazer uso de produtos seletivos aos inimigos naturais e evitar aplicações de amplo espectro, para que não ocorra supressão na área aplicada.

Fazer a escolha de produtos que façam o controle da praga e dentre os produtos, fazer as aplicações seguindo as doses recomendas pelas bulas vai auxiliar no manejo de resistência, assim como verificar a possibilidade de substituir produtos químicos por biológicos, de maneira que possibilite a diversificação do método de controle.

Viabilidade

O custo-benefício de fazer um manejo integralizando diversas formas de controle não é visto apenas em curto prazo, como também a médio e longo prazos. Ao utilizar as técnicas adequadas de manejo dos problemas fitossanitários, o produtor irá reduzir os custos de aplicação e otimizar esse trabalho no campo.

Além disso, a médio e longo prazos, irá garantir uma maior permanência de tecnologia disponível no campo, como plantas resistentes a determinadas pragas e moléculas eficazes no controle de pragas que irão durar mais tempo no mercado, ainda mais quando se observa todo o tempo de estudo para o desenvolvimento de uma nova formulação ou tecnologia, fazendo com que se torne cada vez mais viável a utilização do manejo adequado da cultura.

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