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Matéria orgânica é alternativa à falta de insumos

Renata Elisa Viol Engenheira agrônoma, mestra e doutora em Fitotecnia – Universidade Federal de Lavras (UFLA)renataviol@live.com

Matéria orgânica – Crédito: Maria Lígia de Souza

Com a falta de insumos e/ou o elevado preço no mercado agrícola, os agricultores estão apostando em produtos alternativos que possam fornecer nutrientes de maneira orgânica. Para isso, a fertilidade do solo deve ser tratada num contexto mais amplo, sendo consequência da ação dos ciclos naturais que se integram aos processos e transformações dos constituintes orgânicos e inorgânicos do solo.

A matéria orgânica do solo (MOS) tem um papel importante, já que compreende grupos de componentes com funções múltiplas na expressão dos processos químicos, físicos e biológicos do solo.

Uma característica importante da matéria orgânica é a manutenção de uma biomassa ativa, que é composta por comunidades diferentes de organismos, os quais atuam diretamente em numerosas transformações entre os constituintes orgânicos e inorgânicos do solo.

Portanto, o papel funcional dos diferentes compartimentos da MOS está relacionado aos processos do solo relativos à ciclagem (mineralização/imobilização) e disponibilidade (CTC) de nutrientes, agregação de partículas (proteção física da MOS) e complexação com metais (proteção química da MOS e controle da acidez – Al).

Portanto, técnicas que favoreçam o aporte de matéria orgânica – e sua manutenção – são estratégias que auxiliam o processo de viabilização de unidades orgânicas. Por exemplo, a utilização de fertilizante orgânico, com o emprego de técnicas como a compostagem, o uso de biofertilizantes líquidos e a adubação verde.

Alternativas

São opções para a fertilização orgânica, adubos e condicionadores de solos obtidos na própria unidade de produção, como compostos orgânicos, vermicomposto, restos orgânicos e estercos (sólidos ou líquidos).

Os resíduos utilizados como fontes de nutrientes são basicamente os de origem animal (estercos) e os compostos orgânicos. A composição dos estercos varia com a espécie e a idade do animal, tipo de cama utilizada, cuidados em sua manipulação antes da aplicação e alimento consumido.

Compostagem

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A compostagem é um processo de decomposição, durante o qual há desprendimento de gás carbônico, água (na forma de vapor) e energia, devido à ação dos microrganismos. O composto final, húmus, é constituído de partes dos resíduos orgânicos resistentes à decomposição, produtos decompostos e microrganismos mortos e vivos.

Em outras palavras, a partir de uma mistura de restos de alimentos, frutas, folhas, esterco, palhadas, etc., obtém-se, no final do processo, um adubo orgânico homogêneo, com cheiro característico, de cor escura, estável, solto, pronto para ser usado em qualquer cultura, sem causar dano, e proporcionando melhoria nas propriedades físicas, químicas e biológicas do solo.

É feito a partir do empilhamento dos resíduos por camadas. As pilhas devem ser preparadas diretamente no solo sendo constituídas por camadas de restos vegetais, intercaladas com camadas de estercos, numa proporção de 3:1, respectivamente.

O composto, se disponível, é a forma mais segura e eficaz de realizar a adubação orgânica, pois sua composição em bactérias, fungos, protozoários e leveduras proporciona ao solo o correto equilíbrio de nutrientes.

Os fertilizantes foliares oriundos da fermentação de esterco animal, enriquecidos ou não com sais minerais, proporcionam um fornecimento equilibrado de nutrientes (macro e micronutrientes) às plantas. Os biofertilizantes são preparados basicamente com esterco e água, podendo ser enriquecidos com outros materiais, como sais de micronutrientes, cinzas, farinha de ossos e plantas, que apresentam ação fertilizante, metabólica, fungicida e/ou inseticida, como cavalinha, urtiga, confrei, camomila, etc.

Benefícios

Acredita-se que os biofertilizantes possam influenciar positivamente na resistência das plantas ao ataque de pragas e de doenças, regulando e fortalecendo o metabolismo. Revelam potencial para controlar diretamente alguns fitoparasitas por meio de substâncias com ação fungicida, bactericida ou inseticida presentes em sua composição.

Podem ser aplicados via solo, via sistema de irrigação ou em pulverizações sobre as plantas. São fáceis de serem preparados na própria propriedade pelo produtor, a um custo muito baixo.

Adubação verde

A prática da adubação verde consiste em utilizar plantas cultivadas, crescidas espontaneamente no próprio local ou trazidas de outra área, deixadas preferencialmente na superfície do solo. Visa preservar e/ou melhorar a fertilidade do solo, pois a cobertura vegetal protege a superfície do solo contra a erosão, retém mais água no perfil, introduz nutrientes no sistema e ativa os processos biológicos do solo.

As leguminosas são as mais utilizadas como adubo verde pois, dentre todas as vantagens, incorporam quantidades significativas de nitrogênio via fixação biológica de N2 atmosférico e algumas apresentam raízes profundas que permitem melhor reciclagem de nutrientes para as camadas superficiais.

As leguminosas mais utilizadas são: mucuna preta (Styzolobium aterrimum), feijão-de-porco (Canavalia ensiformis), crotalárias (Crotalaria juncea, Crotalaria paulinea, etc.), tefrósia (Tephrosia candida), guandu (Cajanus cajan) e lab-lab (Dolichos lablab), além de centrosema (Centrosema pubescens), soja perene (Neotonia wightii) e amendoinzinho (Arachis prostrata), que têm como outros benefícios o controle das plantas invasoras.

A quantidade de biomassa verde produzida depende de fatores como época de plantio, disponibilidade de água, práticas culturais, fertilidade do solo e incidência de pragas e doenças. A leguminosa deve ser plantada entre as linhas, cobrindo a superfície e, no estádio de florescimento ou quando cessarem as chuvas (áreas não irrigadas), é cortada (ceifada) e deixada na superfície (preferencialmente) ou incorporada.

Várias leguminosas podem ser plantadas juntas, em pré-plantio, conhecendo-se essa prática como coquetel (5, 10 ou 15 espécies diferentes), que permite uma produção significativa de biomassa.

Nitrogênio

Na maioria das plantas, o nitrogênio é o nutriente mais absorvido. Assim, no programa de adubação, ele é considerado o nutriente-chave. Como fontes de nitrogênio têm-se os adubos verdes: leguminosas, como o feijão-de-porco com resultados promissores nas culturas da banana, citros, mamão e maracujá; coquetel vegetal (leguminosas e não leguminosas), bem como os estercos bovinos (1,8% a 2,3% de N), de aves (2,4% a 5,3% de N), caprinos (1,0% a 4,0% de N) e suínos (2,0% a 4,5% de N), curtidos, e resíduos agroindustriais, como tortas de oleaginosas, principalmente a de mamona (4,6% de N), com resultados favoráveis em cultivos de banana e abacaxi. O uso de compostos orgânicos (0,2% a 1,2% de N) também é recomendado.

Como fontes de potássio, podem ser utilizadas as cinzas de madeira (3,6% a 6,0% de K2O), rochas silicáticas moídas (5% a 8% de K2O) e coquetel vegetal (leguminosas e não leguminosas).

A utilização de fontes naturais de aporte da matéria orgânica é uma excelente opção, tanto para diminuição de custos de produção quanto para criar um ambiente de produção sustentável. A utilização de produtos que já são disponíveis na propriedade, como palhadas, estercos, restos vegetais, etc., torna a produção mais economicamente viável ao produtor, além de ambientalmente mais correta.

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