Autor
Aldeir Ronaldo Silva
Doutorando em Fisiologia e Bioquímica de Plantas – ESALQ/USP
aldeironaldo@usp.br
Nos últimos anos a agricultura vem aumentando sua contribuição na balança comercial e do produto interno brasileiro (PIB), provocado pelo o contínuo aumento de produtividade no sistema agrícola, como por exemplo a produção de soja no ano de 2019, que atingiu 114.843 milhões de toneladas de grãos (Conab 2019).
Todavia, novos desafios estão sendo colocados para a agricultura brasileira, como aumentar a produtividade com menor impacto no meio ambiente, além de um crescimento na demanda de alimentos em função do crescimento populacional, tudo isso frente cada vez mais à diminuição de solos agricultáveis.
Uma das maneiras de elevar a produção agrícola é o uso de nutrientes, em destaque os micronutrientes, de maneira eficiente, que pode contribuir para o aumento da produtividade e redução nos impactos no meio ambiente.
Evolução
O uso da adubação vem evoluindo com o passar dos anos. Nesse segmento de evolução do manejo nutricional, surgiram os micronutrientes de quarta geração, que são elemento minerais catiônicos como zinco, ferro, cobre, cobalto, manganês, entre outros que estão ligados a moléculas orgânicas, geralmente aminoácidos.
São bastante solúveis em solução, entretanto, dissociam pouco, comparados aos fertilizantes na forma de sais, pois os nutrientes quelatizados são facilmente absorvidos pela raiz das plantas e folhas em comparação ao nutriente na forma não quelatizada.
Quando os nutrientes estão na forma de quelatos, ocorre o aumento na capacidade de penetração na membrana cuticular devido à ligação com as moléculas orgânicas (aminoácidos).
Atuação
O principal objetivo dessa técnica é promover a absorção de maneira mais rápida para a planta, por meio do aumento da solubilidade desses elementos, de maneira que, na forma de quelatado, propicia ao elemento se manter inerte à ligação com outros íons dentro do tanque, não reagindo com outro elemento ou pesticidas.
Como benefício, os nutrientes de quarta geração facilitam a correção da deficiência nutricional e atenuam os efeitos dos estresses abióticos, como déficit hídrico, temperatura, luminosidade e salinidade. Outra ação benéfica é que essas moléculas orgânicas, em geral, são aminoácidos.
Tais aminoácidos contribuem para o crescimento e desenvolvimento das plantas, exercendo efeito sobre a biossíntese de fitohormônio, de compostos fenólicos e de lignina, além de ser muito importante para a diminuição dos efeitos de condições adversas de cultivo.
Em geral, esse tipo de fertilizante apresenta grandes vantagens, como aumento na concentração e disponibilidade do nutriente e também maior eficiência operacional, reduzindo os custos com relação à aquisição, armazenamento e aplicação.
Em experimento realizado com feijão, foi relatado aumento na concentração de cobre na folha em plantas com aplicação de quelatos, todavia, esse efeito pode variar de acordo com a forma de aplicação ou aumento da dose (Silva et al., 2014).
Demostrou-se também efeito benéfico em plantas de lichia, com a aplicação de ferro na forma de quelato e comum. Em plantas de azeitonas, parâmetros como produção de frutos, percentagem de frutificação e o crescimento vegetativo melhoraram com a aplicação de boro na forma de quelato (Vishekaii, et al., 2019).
Manejo
O manejo dos micronutrientes de quarta geração deve se iniciar com a escolha do fertilizante comercial de quelato, pois cada composto disponibiliza quantidade e íons diferentes, com efeito em diferentes níveis e pH, bem como tempo de liberação.
Deve sempre ser levada em consideração a necessidade de aplicação: cada vez que houver deficiência de algum micronutriente, com redução na produtividade e qualidade agrícola; a existência de uma ampla variedade de micronutrientes na forma de quelato faz com que o produtor sempre escolha o fertilizante mais adequado para cada cultura, tipo de solo, tecnologia utilizada e tipo de micronutriente.
Produtividade
Em termos de produtividade, o uso de micronutrientes de quarta geração leva ao aumento do rendimento das culturas, bem como melhorias na qualidade nutricional e pós-colheita dos frutos, como teor de ácido ascórbico, acidez titulável, sólidos solúveis totais (SST), carotenoides e antioxidantes, relatado em trabalhos Keutgen & Pawelzik ( 2008) e Fahimi et al. 2016).
Tal característica está relacionada à presença de outros íons na formulação, como íons de potássio, cálcio, nitrogênio, boro, ferro e zinco, os quais desempenham papel importante no crescimento e desenvolvimento da planta.
Custo
Apesar de ter baixo custo de aplicação devido à possibilidade de aplicação em mistura com grande espectro de defensivos agrícolas, é importante ressaltar a importância da qualidade do fertilizante. Em geral, seu custo é mais elevado do que os fertilizantes simples, o que é retornado coma maior produtividade e qualidade final da produção.