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Molibdênio e nitrogênio no estímulo do feijoeiro

A combinação poderosa de molibdênio e nitrogênio é fundamental para o crescimento exuberante do feijoeiro.

Marco Aurélio Casari
Graduando em Engenharia Agronômica – Faculdade de Ensino Superior Santa Bárbara (FAESB)
110779@faesb.edu.br

Ana Paula Preczenhak
Doutora, Pós-Doutoranda em Fisiologia e Bioquímica de Plantas na ESALQ-USP, e professora – (FAESB) appreczenhak@gmail.com / prof.anapaula@faesb.edu.br

Dez entre dez brasileiros preferem feijão”, já dizia a letra da música. Esse queridinho dos pratos brasileiros, Phaseolus vulgaris, é a principal e mais acessível fonte de proteína consumida pela população e deve atingir produção de 2,96 milhões de toneladas na safra 2022/23, segundo a CONAB.

Crédito: Shutterstock

Por ser uma cultura de ciclo curto e podendo ser cultivada em três épocas (das águas, da seca e de inverno), o produtor tem o benefício de intercalar o plantio do feijão numa menor janela com outros grãos no mesmo ano safra.

Esta característica é substancial para o rendimento de pequenas propriedades, visto que a agricultura familiar ainda é a principal responsável pela produção de feijão no Brasil.

FBN

O feijão é uma espécie leguminosa, a qual realiza a fixação biológica de nitrogênio em associação com bactérias diazotróficas, assim, a necessidade de adubação mineral para fornecimento de N é reduzida.

No entanto, para pleno desenvolvimento é necessário o suprimento dos outros macros e micronutrientes. Entre os micronutrientes, o molibdênio (Mo) é um dos essenciais para a cultura.

A mobilidade deste elemento na planta é considerada moderada, em que essa translocação pode ocorrer para todas as partes, como folhas, flores, frutos e sementes. A utilização do Mo estimula o desenvolvimento do feijoeiro, proporcionando benefícios diretos e indiretos na aquisição de N atmosférico e, consequentemente, incremento de produção e biomassa.

A deficiência de Mo se assemelha à deficiência de N. A sua função específica na fixação biológica de N é devido ao elemento ser componente estrutural da enzima nitrogenase, a qual desempenha o papel de conversão do N atmosférico em amônio (NH4+) nos nódulos radiculares.

Neste sentido, com a falta de Mo a planta até desenvolve os nódulos, porém, estes não são viáveis ou são pouco ativos, afetando as concentrações de N assimilado pela planta.

Mais funções

Ainda temos o Mo como parte da enzima nitrato redutase, igualmente importante para a assimilação de nitrogênio no metabolismo da planta. Ao absorver o nitrato (NO3-), este não pode ser diretamente direcionado para a síntese de aminoácidos e proteínas.

Em geral, é necessário primeiro ocorrerem etapas de redução para NH4+. Esta redução do NO3- é catalisada pela enzima nitrato redutase, que apresenta Mo em sua estrutura. Ao absorver o NH4+, este será transportado e nos tecidos é direcionado para a síntese de aminoácidos, sendo a glutamina o primeiro aminoácido formado.

Os aminoácidos

A estrutura dos aminoácidos formados é utilizada em qualquer região de desenvolvimento da planta (raiz, folha, flor e semente). Entre outras funções, estes aminoácidos participam da estrutura de proteínas para desenvolvimento da planta, síntese de clorofila (fotossíntese), síntese de compostos de defesa, enchimento de grãos.

As funções enzimáticas são vitais para a planta que depende de N para a produção de proteínas para seu desenvolvimento e produtividade. Uma das mais importantes proteínas produzidas é a rubisco, uma enzima que catalisa a reação de captura de carbono inorgânico (CO2) para incorporá-lo na planta, na fase química da fotossíntese.

Devido a isso, muito N é gasto para a produção da rubisco, quantidade que pode representar até 50% do total de enzimas solúveis de uma folha. Este gasto é justificado, afinal, é pelo processo fotossintético que a planta adquire os substratos de carbono (açúcares) para seu desenvolvimento e enchimento de grãos.

Funcionamento metabólico

Os macro e micronutrientes trabalham juntos para o funcionamento metabólico da planta, por isso é tão importante o balanço nutricional ser direcionado para cada espécie, a fim de obter o máximo de seu potencial genético.

A correção prévia do solo é indispensável, e o pH do solo muito abaixo de 4,5 e a quantidade de óxidos de Al e Fe são os fatores que mais interferem na disponibilidade de Mo. Em termos gerais, quanto mais ácido o solo, menor sua disponibilidade.

Assim, a calagem já é suficiente para manter o Mo disponível para as plantas, de modo que esta correção da acidez é mais importante ainda se houver aplicação de Mo via tratamento de sementes.

Além disso, o tratamento de sementes de feijão com inoculantes é habitual e a junção de molibdênio, por exemplo, como ocorre na cultura da soja, é um aumento do potencial de desenvolvimento da simbiose e da formação de nódulos ativos (com a enzima nitrogenase ativa).

Por muitas vezes, ocorre a simbiose e a formação de nódulos, porém, os nódulos não apresentam atividade, e por isso não ocorre o processo de fixação biológica de N. Entretanto, como a formação de nódulos não ocorre nos primeiros estádios de plântula, a aplicação de Mo via foliar é muito utilizada e apresenta bons resultados para o incremento de produtividade. Isso ocorre porque mesmo que seja aplicado na folha, o Mo se desloca até o caule e raízes da planta.

Via foliar

A aplicação via foliar de aminoácidos e Mo é recomendada no período de nodulação do feijoeiro, ou por volta dos 20 a 25 dias após plantio. Porém, trabalhos em campo mostram que a aplicação foliar juntamente com Mo não é recomendada na fase de enchimento de vagens.

A aplicação de N em cobertura também é relacionada ao aumento Mo assimilado pela planta, uma vez que o N promove o desenvolvimento radicular e aumenta a porção de solo explorada para absorção dos minerais.

O mais recomendado é seguir as orientações do produto e acompanhamento do ciclo da variedade, o qual pode oscilar.

Detalhes importantes

O que se sabe sobre a fisiologia do desenvolvimento do feijoeiro é que a espécie não tem uma sincronia perfeita entre o esgotamento de reservas dos cotilédones no estádio vegetativo, para o início da formação dos nódulos radiculares (V4 e pico no início da floração).

Assim, a cultura necessita de suplementação e a aplicação foliar de aminoácidos é uma alternativa para fornecimento do N. A aplicação de aminoácidos em plantas de feijão ajuda na resiliência da cultura exposta ao estresse, auxiliando na recuperação do seu vigor.

Produtos à base aminoácidos são fontes de nitrogênio, pois os aminoácidos são os transportadores de N da planta e os constituintes das proteínas. O feijoeiro, em particular, é uma das espécies que tem facilidade de exportar N entre seus órgãos, podendo transportar o elemento pelo xilema em diferentes formas (aminoácidos, amidas, nitrato, etc.).

Com tal possibilidade, torna a cultura mais responsiva aos tratamentos com aminoácidos e Mo, sobretudo em casos em que o desenvolvimento das plantas esteja abaixo do esperado.

Custo-benefício

Ao escolher fornecer Mo e aminoácidos para as plantas, o custo-benefício estará relacionado com a escolha do fornecedor, que além dos preços devem ser produtos certificados pelo Ministério da Agricultura (MAPA).

Produtos com baixa dosagem, mas com alta eficiência, sempre são a melhor escolha. O preço varia de região para região, mas os benefícios trazidos pela aplicação da associação de aminoácidos e Mo acabam sendo irrisórios junto à produtividade e lucratividade. 

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