Glaucio da Cruz Genuncio
Doutor e professor adjunto – Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT)
glauciogenuncio@gmail.com
A transição de um sistema convencional para orgânico requer investimentos em melhoria do sistema como um todo. Assim, a expectativa de lucros nos primeiros três anos deve ser baixa por parte do produtor.
O sistema orgânico requer melhoria das características edáficas, por exemplo, o aumento da biota do solo e, consequentemente, dos microrganismos presentes do solo, os quais, de forma equilibrada, possibilitam o controle de patógenos neste sistema complexo.
Não se engane
É um erro comum quando, em processo de transição, o foco se restringe ao monitoramento de pragas e doenças presentes no sistema orgânico e suas formas de controle biológico em detrimento ao controle químico do morangueiro.
Assim, o uso eficiente da água, além da aquisição de mudas saudáveis, a adição de matéria orgânica no solo, o uso de adubação verde, de mulching, um excelente manejo nutricional, com o uso de produtos aceitos para o sistema orgânico de produção, dentre outros fatores agronômicos, são fundamentais para um equilíbrio no sistema, garantindo a adequada trofobiose ao sistema de produção.
Recomendações
O segredo principal do cultivo orgânico do morango é a garantia de um excelente estado nutricional das plantas, o que se consegue com um manejo agronômico eficiente.
As práticas e manejos de pulverizações permeiam um excelente monitoramento, que varia, dentre outros fatores, das condições edafoclimáticas regionais.
O sistema de condução de morango por três anos (fase de transição) possibilita o conhecimento de um histórico de pragas e doenças no cultivo do morangueiro. Assim, a presença de ácaros possibilita a decisão, por parte do produtor, do uso de ácaros predadores, com aplicações programadas e direcionadas.
Da mesma forma, a proteção contra Botrytis cinerea pode se dar pela aplicação de Bacillus subtilis linhagem QST 713. É bom lembrar que o monitoramento é a chave do sucesso para o controle de pragas e doenças no morangueiro.
Sem química
O controle de pragas e doenças na produção orgânica de morangos, sem o uso de agrotóxicos, é feito a partir de caldas, agentes biológicos, promotores de crescimento, barreiras físicas, equilíbrio nutricional, mudas saudáveis, melhoria das características físicas, químicas e biológicas do solo e, principalmente, pela busca incessante de uma planta que não possua atratividade excessiva a pragas e doenças, como por exemplo, aquelas com excesso de nitrogênio em seus diversos estádios de crescimento vegetativo.
Um fator importante é o conhecimento da fase de maior atratividade de uma praga ou doença. É sabido que a fase crítica de infecção de Botrytis cinerea do morangueiro reside no estádio reprodutivo. Assim, o manejo fitossanitário deve ser considerado para melhor controle efetivo desta doença na fase pré-floração.
O segredo é conhecer as fases de risco de ataque e infecção de pragas e doenças do morangueiro, respectivamente e, a partir disto, implantar um gerenciamento de risco, cujo monitoramento é a ferramenta efetiva para um manejo fitossanitário eficiente.
Benefícios para a saúde e a natureza
O menor uso de defensivos sempre é um bom caminho na busca da produção sustentável. Assim, a sua exclusão, apesar de ser de caráter dificílimo, é um caminho sustentável na produção do morango orgânico.
Ressalta-se que existem inúmeros protocolos, procedimentos e normas específicas para a certificação orgânica, assim, vale a pena consultar, por exemplo, o IBD ou outra certificadora próximo à sua região.
Inovações
Atualmente, o mercado possibilita uma vasta lista de biopromotores, e o cenário é promissor. Recomenda-se, primeiramente, o estudo da região quanto à climatologia, características do solo, uso de tecnologias como irrigação, cultivo protegido, mulching (dentre outras), adoção do melhor manejo nutricional, monitoramento e cultivar mais adaptada à região.
Assim, o conhecimento da fisiologia da planta é de extrema importância, dada a oferta de biopromotores que reduzem o estresse de morangueiro.
Faz-se lembrar que plantas menos estressadas ficam menor suscetíveis ao ataque de pragas e doenças, assim como acrescentam características que possibilitem uma maior produtividade e melhores características organolépticas, como produção, perpetuando-se em meses de entressafra.