Paula Almeida Nascimento – Engenheira agrônoma e doutoranda em Agronomia – Universidade Federal de Lavras (UFLA) – paula.alna@yahoo.com.br
Felipe Jhonatan Alessio – Mestre e assistente de Programas da Unidade de Coordenação de Projetos da FAO/ONU no Sul do Brasil
O morango é considerado uma das espécies de maior sensibilidade a pragas e doenças. A exigência em práticas culturais desde o plantio até a pós-colheita é essencial para a maior produtividade.
O morangueiro é uma planta herbácea estolonífera, perene, com caule semi-subterrâneo. A cultura é muito sensível à falta de água, baixa umidade relativa, alta temperatura, intensidade e duração da luz, e responde de forma diferente às combinações de temperatura e de comprimento do dia.
Assim, a formação de estolões e o desenvolvimento de folhas são favorecidos sob condições de dias longos e temperatura elevada. A indução floral ocorre com temperatura baixa e dias curtos e a frutificação, em dias longos e temperaturas amenas.
Ciclo
O ciclo para a produção dos frutos do morango dura entre 60 e 90 dias. O início da colheita acontece quando o morango apresentar de 50 a 75% da superfície avermelhada. Cada muda pode produzir um quilo de morangos por ano e cada flor do pé se tornará uma fruta.
Além disso, para que fosse possível cultivar o morango durante o ano todo, precisa de investimento na climatização do ambiente, colocar estrutura de nebulização e de ventilação no alto da estufa, que diminuem a temperatura do local.
O morangueiro é cultivado, no Brasil, em várias formas: no solo, com ou sem cobertura plástica (mulching), em túneis baixos ou em estufas, ou no sistema hidropônico, com ou sem substrato. O sistema hidropônico conduzido em substrato é conhecido no País como semi-hidropônico.
A cultura do morango é desenvolvida por agricultores familiares que possuem pequenas áreas de cultivo. Uma alternativa para aumentar a produtividade é produzir morangos em ambiente protegido onde é limitado o ataque de pragas e doenças da parte aérea.
Neste caso, o morango é produzido em substrato artificial sem contaminação por fungos fitopatogênicos e com fertirrigação (sistema semi-hidropônico). Além disso, reduz a demanda de agrotóxicos na cultura, controla a ocorrência de chuvas, geadas e em locais com invernos rigorosos evita a neve sobre as plantas.
Semi-hidroponia
O sistema semi-hidropônico apresenta vantagens em relação ao sistema convencional: nas prateleiras otimiza a área de produção; manejo da cultura pode ser realizado em pé, o que favorece a contratação de mão de obra; o sistema protege as plantas do efeito da chuva e facilita a ventilação, condições que impedem o estabelecimento de doenças; redução de agrotóxicos na cultura; melhor produção de frutas, com maior qualidade e menor perda por podridão.
O sistema semi-hidropônico utiliza prateleiras em diferentes níveis em várias alturas, até bancadas com um nível e altura de 1,0 m do solo. As bancadas em um nível são construídas sobre palanques de sustentação, a 1,0 m de altura acima do solo espaçadas entre si em 3,0 m.
Sobre estes palanques são fixadas travessas e ripas, que sustentarão as embalagens com os substratos e o sistema de irrigação. Entre as bancadas deve haver um espaço que permita que sejam feitos manejos, tratos culturais e a colheita das frutas, com distância de pelo menos 0,80 m.
Também deve-se deixar um espaço de 1,0 m para circulação, no início e no final da estufa. Assim, o sistema de bancada oferece uma distribuição de energia solar mais uniforme às plantas, o que pode levar os frutos a terem excelente sabor, quando maduros.
Substrato
O substrato serve como suporte, onde as plantas fixarão suas raízes e fazem retenção da solução da fertirrigação. O substrato ideal deve apresentar elevada capacidade de retenção de água e aeração.
Existem vários tipos de compostos que podem ser utilizados para a formulação de substratos para o cultivo semi-hidropônico: casca de arroz carbonizada, casca de pinus, turfa + vermiculita.
O plantio das mudas deve ser feito nas embalagens (sacos) com o substrato localizado em cima das bancadas. Nas embalagens são feitos orifícios onde serão inseridas as mudas e o espaçamento entre as plantas é de 0,20 m. No cultivo protegido do morangueiro semi-hidropônico, em substrato artificial, utiliza-se a irrigação por gotejamento.
A irrigação localizada tem como vantagens: alta eficiência de aplicação, economia de água, energia e mão de obra, permite automatização, fertirrigação e não interfere nos tratos fitossanitários. Assim, este sistema aplica água diretamente na região das raízes.
Fitossanidade
Algumas pragas do morangueiro são: ácaros fitófagos (rajado, vermelhos), insetos (broca-dos-frutos, besouros, lagartas, pulgões, tripes), lemas e caracóis, e algumas doenças de importância, como a bactéria que causa mancha angular bacteriana, Xanthomonas fragariae, e doenças como a murcha, o declínio, a podridão de raízes e a morte das plantas são causadas pelos fungos Verticillium spp., Phythophtora spp., Fusarium spp., Pythium spp. e Rhizoctonia spp.
A antracnose é uma doença fúngica causada por Colletothichum fragariae e o oídio do morangueiro é uma das doenças mais graves nas estufas, sendo seu agente causal Sphaerotheca maculata f. sp. fragariae.
Mais produtividade
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Cultivar morango em sistema semi-hidropônico é uma alternativa para produzir um fruto com boas propriedades nutricionais e de grande aceite e procura pela população, uma vez que a forma mais consumida do fruto é in natura.
Quando cultivado em sistema protegido, se mostra uma alternativa rentável, de modo que o fruto tem sua produção ampliada para qualquer época do ano, pois fornece temperatura ideal para o cultivo, com proteção contra as intempéries e os demais fatores climáticos, como chuvas e ventos.
A semi-hidroponia oferece uma produção sem contato com o solo, diminuindo a utilização de agrotóxicos nas culturas e proporcionando um sistema ideal de desenvolvimento, aumentando a produtividade de maneira orgânica.
Desta forma, a utilização de irrigação por gotejamento, fertirrigação, túneis plásticos e coberturas de solo, novas variedades modernas e direcionadas ao mercado de mesa, fazem com que o morangueiro atinja produtividades de mais de 1,0 kg/ano/planta. O uso de químicos menos tóxicos e com maior controle e rastreabilidade permitiu produção de produtos de melhor qualidade.
Porteira adentro
A cidade de Monte Alegre do Sul (SP), Circuito das Águas Paulista, possui famílias que cultivam o morango e alguns produtores adotaram a produção suspensa. Essa técnica foi um sucesso com as plantas de morango, resultando em maior resistência e redução do uso de agrotóxicos em até 80%.
“Esse sistema tem diferenciais importantes, como a proteção da planta contra a adversidade climática, principalmente a chuva, o que gera menos doenças fúngicas e, consequentemente, diminui o uso de agrotóxicos em até 80%”, diz o agricultor Ivan Marques, que desenvolve a cultura junto como o filho Tiago e o irmão Acácio. Eles ressaltam que com o método suspenso, semi-hidropônico, é possível trabalhar em pé em qualquer época do ano, porque as plantações são protegidas por estufas.
A maioria dos agricultores de Monte Alegre do Sul usa como base a agricultura familiar e o gasto de se ter uma plantação de morango suspenso pode passar dos R$ 20 mil.
A técnica já é utilizada por produtores italianos (cime radicate) e americanos (plug plant) e também por viveiristas de hortaliças em alguns locais do Brasil. E no Rio Grande do Sul vem ganhando as propriedades de pequenos agricultores.
O cultivo de morangos em sistema semi-hidropônico suspenso tem conquistado muitos adeptos. A escolha é justificada pela melhor utilização do espaço na pequena propriedade com bons resultados econômicos, adaptação à realidade da mão de obra disponível na propriedade, produção em períodos diferenciados das épocas tradicionais e pela oportunidade de produzir alimentos de maior qualidade com menor risco de contaminação.
De Bastiane iniciou o cultivo de morangos no sistema semi-hidropônico, com a implantação de um abrigo de cultivo de 105 m2 onde são cultivadas 1.500 plantas de morango. Os principais resultados estão na produtividade e rentabilidade do sistema.
A produtividade média é de 1,0 kg por planta/ciclo, totalizando uma produção de 1.500 kg/ciclo/ano. Já os valores de rentabilidade indicam que para cada R$ 1,00 empregado na atividade existe um retorno da ordem de R$ 1,04 no primeiro ano e R$ 3,44 no segundo.
Além do aspecto econômico, a qualidade de vida da família foi beneficiada pela otimização de mão de obra e a ergonomia das pessoas que realizam o manejo diário.
Custo e benefícios
A produção de morangos em sistema semi-hidropônico suspenso é uma tecnologia pesquisada pela Epagri- Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina. Assim, o sistema difundido pela Epagri tem várias vantagens, como melhor utilização do espaço na pequena propriedade com bons resultados econômicos, adaptação à realidade da mão-de-obra disponível na propriedade e produção em períodos diferenciados das épocas tradicionais. Outro grande diferencial é a produção de morangos com maior qualidade e menor risco de contaminação.
O investimento no sistema semi-hidropônico de produção de morangos pode custar em torno de R$ 35 mil, mas pode ocorrer variabilidade do preço de custo dependendo das instalações usadas para a construção de estufas, sistema de irrigação, substratos, seleção de mudas morangos de qualidade e etc.