Walleska Silva Torsian
Engenheira agrônoma e doutoranda em Fitotecnia – ESALQ/USP
walleskatorsian@usp.br
Alasse Oliveira da Silva
Engenheira agrônomo e mestrando em Fitotecnia – ESALQ/USP
alasse.oliveira77@usp.br
Liliane Marques de Sousa
Engenheira agrônoma e mestranda em Fitotecnia – Universidade Federal de Viçosa (UFV)
liliane.engenheira007@gmail.com
Quando se fala em espécies frutíferas, a maioria é classificada como alógama, ou seja, de polinização cruzada, com capacidade de transferir seus alelos para as gerações seguintes, porém, o sistema ideal é o de multiplicação, com o objetivo de manter as características desejáveis das plantas superiores, ou simplesmente planta-mãe.
Nesse caso, podemos ressaltar a estaquia, que é um método de reprodução onde se destacam partes da planta-mãe e são colocadas para enraizar. Além disso, existe a alporquia ou mergulhia, que é semelhante à estaquia, onde as partes destacadas não são necessariamente da planta-mãe.
Mas, infelizmente, para a reprodução das frutíferas esses métodos de reprodução podem não ser viáveis, pelo simples fato de apresentarem dificuldades no enraizamento natural, sendo necessário, às vezes, aplicações de hormônios vegetais para que o enraizamento se torne possível.
Enquanto a estaquia ou a alporquia não se destacam nos métodos assexuados, a enxertia vem ganhando espaço devido à multiplicação adequada das frutíferas com as características agronômicas desejadas.
Mas, o que é a enxertia?
A enxertia se caracteriza por ser a união de duas partes de diferentes plantas que continuam o crescimento como um novo ser. As duas partes unidas são denominadas de cavalo, ou também porta-enxerto, que seria o sistema radicular da planta, garantindo a absorção de água e nutrientes e o cavaleiro, que apresenta as características desejáveis que se quer reproduzir, ficando responsável por realizar a fotossíntese, que é essencial à planta.
Pode-se notar que os tecidos não se juntam completamente, sempre ficando uma linha visível onde se mostra a separação das mesmas. Com isso, cada planta consegue conservar sua individualidade, entretanto, a seiva existente na planta consegue circular em todas as direções, o que permite a vida em comum.
Potencial
Atualmente, o uso de mudas enxertadas apresenta grande interesse comercial, principalmente em frutíferas. Ressaltam-se as seguintes razões para seu uso em larga escala: precocidade na produção, obtenção de características agronomicamente desejáveis, facilidade nos tratos culturais, renovação de pomares em declínio, evitam segregações que não são desejáveis e formação de mudas mais sadias, livres de patógenos. A enxertia é principalmente realizada entre as mesmas espécies e de mesma classificação botânica.
Enxertia na prática
Para realizar a enxertia, primeiramente é necessário verificar o viveiro onde as mudas ficarão alocadas. O mesmo deve estar localizado em terreno com pouca declividade e muito bem drenado, afastado de ventos fortes e estradas, e próximo de água de boa qualidade. Esses são fatores importantes durante o processo de produção das mudas enxertadas.
A utilização de solos de boa fertilidade natural também é o ideal, sendo recomendada a seguinte proporção 3:1:3, ou seja, três partes de solo de boa qualidade para uma parte de esterco bovino bem curtido para três quilos de superfosfato simples, além de 500 gramas de cloreto de potássio por metro cúbico.
Após essa mistura da proporção, o solo adubado é colocado em sacos plásticos para que as mudas apresentem condições ideais de crescimento, sendo as medidas de 20 cm diâmetro e 30 cm de altura, com perfurações nas laterais e no fundo, onde ocorrerá o escoamento do excesso de água, se houver.
Para a escolha e preparo das sementes do porta-enxerto (cavalo), é ideal utilizar plantas fornecedoras de “garfos” para enxertia, garantindo assim qualidades como tolerância a pragas e doenças, pequeno porte, facilitando os tratos culturais e adaptação a diversas condições hídricas.
É comum o uso da variedade como a “Espada” e “Espadinha” como porta-enxerto. É importante colher frutos maduros e sadios de plantas vigorosas e livres de doenças e pragas. Após a colheita, a polpa deve ser retirada cuidadosamente para não ferir e estragar a semente.
Então, a lavagem das mesmas com água limpa é realizada. Deve-se manter as sementes secando em local seco e arejado por até 10 dias, após isso, é realizada a eliminação do endocarpo e com uma tesoura de poda a amêndoa (semente) é removida cuidadosamente para não prejudicar a germinação.
Benefícios
Apenas com a retirada da casca já aumenta a porcentagem de germinação das sementes em até 80% e a germinação fica até 20 dias mais rápida, obtendo plantas eretas em menor espaço de tempo.
Ao selecionar as amêndoas, o ideal é que sejam aquelas bem formadas, sem manchas ou ataque de pragas e doenças. Após a retirada, a semeadura deve ser feita no mesmo instante, evitando que a germinação diminua.
Com a face ventral da semente voltada para baixo, a semente é colocada para germinar a uma profundidade de 4,0 cm, sendo que a germinação pode ocorrer até 20 dias após a semeadura.
Após a germinação, o desbaste é realizado quando o porta-enxerto estiver bem ereto e com 20 cm de altura, com o objetivo de crescer apenas uma planta por saco plástico. É recomendada uma adubação de cobertura após 50 dias de semeadura, utilizando 55 gramas de ureia e 55 gramas de superfosfato simples.