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quinta-feira, novembro 21, 2024
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Muita atenção às pragas do quiabeiro

Franscinely Aparecida de Assis
Doutora em Entomologia e professora de Agronomia – Centro Universitário de Goiatuba (UniCerrado)
franscinelyassis@unicerrado.edu.br
Vanessa Andaló
Doutora em Entomologia e professor de Agronomia – Universidade Federal de Uberlândia (UFU)
vanessaandalo@ufu.br
Flávio Lemes Fernandes
Doutor em Entomologia e professor de Agronomia – Universidade Federal de Viçosa (UFV)
flaviofernandes@ufv.br

O quiabeiro é infestada por diversas espécies de artrópodes-praga que podem causar injúrias, reduzir a produtividade e aumentar os prejuízos ao horticultor. Por se tratar de uma cultura de suporte fitossanitário insuficiente (“minor crops”), a redução da densidade populacional destes organismos deve ser realizada com a integração entre os métodos de controle, principalmente cultural e biológico, uma vez que para muitas pragas não há produtos registrados no Sistema de Agrotóxicos Fitossanitários (AGROFIT) do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA).

Pragas do quiabeiro

Na cultura do quiabeiro pode-se encontrar o ácaro-rajado Tetranychus urticae, o ácaro-vermelho T. ludeni, o ácaro-verde Mononychellus planki (Acari: Tetranychidae), o ácaro-branco Polyphagotarsonemus latus (Acari: Tarsonemidae) e o ácaro-da-erinose Aceria esculenti (Acari: Eriophyidae).

Ácaro-rajado

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A condição favorável ao desenvolvimento e ocorrência de ácaro-rajado T. urticae são temperaturas ao redor de 30ºC e períodos de estiagem. Esses ácaros alojam-se principalmente na face abaxial das folhas, onde depositam seus ovos e se alimentam. As injúrias caracterizam-se pela clorose generalizada das folhas (com a manutenção das nervuras verdes), presença de teia envolvendo uma ou várias folhas e queda acentuada e prematura de folhas, com consequente morte das plantas, mediante ataques intensos.

Ácaro-vermelho

A condição favorável ao desenvolvimento e reprodução do ácaro-vermelho T. ludeni são as temperaturas em torno de 30ºC, pois abaixo dos 14ºC o desenvolvimento desta espécie é prejudicado. Cada fêmea tem a capacidade de colocar de 43 a 77 ovos, dependendo da temperatura. Esses ácaros formam colônias na face abaxial das folhas, onde produzem teias, mas em menor intensidade que T. urticae. As injúrias e os sintomas de ataque são semelhantes aos provocados pelo ácaro-rajado.

Ácaro-verde

Quanto ao ácaro-verde M. planki, sua ocorrência é restrita aos países das Américas. A condição favorável ao desenvolvimento e, consequentemente, aumento das densidades populacionais são registradas nos períodos mais quentes e secos do ano. Com relação ao ataque, o mesmo acontece, preferencialmente, nas folhas mais novas da planta. Produzem pouca teia e ocorrem em ambas as faces das folhas, sendo mais facilmente lavado pelas chuvas.

Ácaro-branco

No que diz respeito ao P. latus, essa espécie é popularmente conhecida como ácaro-branco, mas também recebe outras denominações em função da planta hospedeira em que é encontrado e da injúria provocada, tais como ácaro-da-queda-do-chapéu-do- mamoeiro, ácaro-tropical, ácaro-da-rasgadura-das-folhas, ácaro-do-bronzeamento-das- folhas, ácaro-amarelo-do-chá.
A dispersão a maiores distâncias é feita pelo vento; por meio de estruturas vegetais infestadas e transportadas de uma área para outra; pelo contato entre a folhagem das plantas ou sobre os insetos (forésia), como a mosca-branca Bemisia tabaci (Hemiptera: Aleyrodidae).
O ataque do ácaro-branco ocorre nas bordaduras e/ou em reboleiras, sendo encontrado frequentemente na parte abaxial das folhas, alimentando-se das folhas mais novas, em função do tamanho reduzido das quelíceras, da parte superior das plantas.
As condições ideais ao seu desenvolvimento são temperatura e umidade relativa do ar elevadas, associadas à baixa luminosidade. Cada fêmea pode colocar durante sua vida, em média, de 48,3 a 52,4 ovos. Este ácaro não produz teia.
O ácaro-da-erinose A. esculenti injeta toxina nos tecidos que favorecem a proliferação celular e a formação de galhas. Quando estas se localizam na brotação terminal, ocorre a paralisação do crescimento da planta. Os frutos atacados tornam-se impróprios para comercialização.

Manejo

Para o manejo dos ácaros fitófagos associados à cultura do quiabeiro é recomendável a utilização de sementes sadias; variedades ou híbridos de ciclo curto; isolamento dos talhões; eliminação de hospedeiros silvestres e de plantas daninhas; rotação de culturas e destruição de restos culturais.
Quanto ao controle biológico, os ácaros predadores podem auxiliar na redução populacional dos fitófagos como, por exemplo, os da família Phytoseiidae (Euseius e Amblyseius).
No que diz respeito ao controle químico, atualmente há acaricidas registrados no Agrofit/Mapa somente para as espécies T. urticae e P. latus, sendo os ingredientes ativos (grupos químicos): fenpiroximato (pirazol) e piridabem (piridazinona) para o ácaro-rajado, e para o ácaro-branco enxofre (inorgânico) e espiromesifeno (cetoenol).
É importante salientar que pulverizações em excesso de piretroides ou de fungicidas cúpricos, no intuito de reduzir a incidência de insetos/patógenos que ocorrem no quiabeiro, podem aumentar a densidade populacional de ácaros pelo estímulo direto na reprodução.
O manejo dos ácaros também pode ser realizado mediante a pulverização com produtos alternativos, tais como a calda sulfocálcica, óleo mineral ou extrato de sementes de nim, dentre outros.

Pulgões

Os afídeos que incidem na cultura do quiabeiro pertencem às espécies Aphis gossypii e Smynthurodes betae (Hemiptera: Aphididae), sendo conhecidos popularmente como pulgão-do-algodoeiro e pulgão-da-raiz, respectivamente.
Os fatores que contribuem para o seu desenvolvimento são as temperaturas em torno de 24-27ºC, pois nessa condição o ciclo de vida tem duração média de 15 dias e a reprodução é favorecida. Já as temperaturas iguais ou inferiores a 10ºC e iguais ou superiores a 30ºC provocam elevada mortalidade, especialmente das ninfas.
O monitoramento deste afídeo pode ser realizado por meio da contagem dos adultos presentes em uma folha do terço mediano da planta. Deve-se avaliar 20 pontos amostrais por talhão e cinco plantas por ponto, totalizando 100 plantas amostradas.
Para o manejo de A. gossypii no quiabeiro recomenda-se o uso de sementes sadias; variedades ou híbridos de ciclo curto; adequação da época de plantio para cada região, a fim de promover o escape da cultura aos picos populacionais; realizar o plantio dos talhões no sentido contrário à direção predominante do vento para desfavorecer o deslocamento da praga pelos talhões; eliminação de plantas hospedeiras (silvestres e daninhas); rotação de culturas; destruição de restos culturais e implantação de barreiras vivas com sorgo, capim-elefante, milheto ou cana-de-açúcar. Para repelir os insetos alados, pode-se utilizar palha de arroz, capim seco ou plástico como cobertura de solo.

Controle biológico x químico

Quanto ao controle biológico, as espécies de predadores Harmonia axyridis, Cycloneda sanguinea, Hippodamia convergens, Eriopis connexa e Scymnus sp. (Coleoptera: Coccinellidae) são relatadas como de ocorrência comum nos cultivos de quiabeiro. Essas joaninhas auxiliam na redução da densidade populacional das pragas, tais como o pulgão-do-algodoeiro A. gossypii, tripes, dentre outras.
No que diz respeito ao controle químico, para a espécie A. gossypii tem-se o registro do ingrediente ativo (grupo químico): flupiradifurona (butenolida) e da mistura acetamiprido (neonicotinoide) + etofenproxi (éter difenílico). Quanto aos produtos alternativos, a calda de fumo pode ser usada, já que a nicotina apresenta efeito inseticida.

Tripes

Frankliniella schultzei (Thysanoptera: Thripidae) possui ciclo de vida curto, alto potencial reprodutivo e elevada capacidade de dispersão. São insetos, na maioria, fitófagos que têm causado injúrias a órgãos mais tenros, e são atraídos pelas flores do quiabeiro.
As principais delas estão relacionadas à raspagem de hastes, folhas, flores e frutos, que proporcionam prateamento, esbranquiçamento, enrolamento e seca de ponteiros das partes atacadas. Estas injúrias podem provocar perdas na produção, afetar a qualidade e a comercialização da cultura.
Esta espécie tem causado prejuízos em outras culturas agrícolas, como tomateiro, batateira, pimentão e soja. Ocorre em todas as regiões brasileiras, no entanto, as que apresentam climas mais secos e quentes são as preferidas por esta espécie.
Regiões do Brasil com temperaturas médias acima de 26ºC e baixa precipitação pluviométrica proporcionam ciclo mais curto, maior intensidade de ataque e elevado número de pulverizações em quiabeiro. Áreas de irrigação têm reduzido a população desta praga, mas os métodos de controle mais eficientes têm sido o químico e o biológico.
O controle biológico pode ser realizado com os crisopídeos. Chrysoperla externa (Neuroptera: Chrysopidae) é um predador que tem se alimentado desta espécie de tripes. Pesquisas realizadas pelo Grupo de Pesquisas em Manejo Integrado de Pragas (GPMIP) da Universidade Federal de Viçosa, Campus Rio Paranaíba, demonstraram que este predador se alimenta de 50 a 60 tripes/dia. Esta quantidade de tripes consumidos ao longo de 10 dias (período que o predador se alimenta) poderia reduzir até 600 tripes.
Por outro lado, o controle químico se dá pelo uso de inseticidas neonicotinoides associados a piretroides e espinosinas. As aplicações precisam ser realizadas a cada sete dias, com doses registradas pelo Agrofit/Mapa. Os neonicotinoides vão atuar por ingestão e os piretroides por contato.
Aplicações realizadas no início da infestação são mais eficientes. Assim, se forem encontrados de três a cinco tripes por batida de bandeja, deve-se efetuar o controle. A batida de bandeja consiste em direcionar as partes mais tenras do quiabo em uma bandeja plástica e bater a estrutura na bandeja. As amostragens devem ser realizadas a cada três dias na fase de florescimento e nas épocas secas.

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