Fernanda Lourenço Dipple
Engenheira agrônoma, mestra e professora assistente – Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT)
fernanda.dipple@gmail.com
Franciely da Silva Ponce
Engenheira agrônoma e doutora em Agronomia/Horticultura – FCA/UNESP
francielyponce@gmail.com
Ana Cassia Possamai
Engenheira agrônoma, doutoranda e professora – UNEMAT
anacassiapossamai@unemat.br
Com a intensificação agrícola, a busca por alimentos mais saudáveis e com menor risco de contaminação, principalmente por agrotóxicos, o uso de microrganismos tem se tornado mais presente na agricultura brasileira. Além da alta nos insumos, alavancada pela crise energética na China e na Rússia, especialmente nos fertilizantes e defensivos agrícolas, aumentaram os custos que afetaram a oferta dos insumos no mercado mundial.
Desta forma, a busca por alternativas nunca ficou tão evidente, e muitas pesquisas identificaram que a rizosfera possui uma diversidade de microrganismos benéficos às plantas, dentre eles os fungos e as bactérias.
Estes microrganismos apresentam a capacidade de antagonizar patógenos, realizar a fixação biológica do nitrogênio, liberar no solo fósforo, carbono microbiano, bem como promover a saúde da planta, auxiliando no crescimento e, respectivamente, na produtividade agrícola. Além disso, reduzem os custos de controle de pragas e microrganismos fitopatogênicos em até 70%.
Tendência
O mercado de insumos biológicos cresceu 37% entre as safras 2019/20 para a safra 2020/21. Com o aumento no uso de produtos biológicos nas lavouras, muitos produtores realizam a multiplicação na própria fazenda visando reduzir os custos, método conhecido como produção on farm.
A multiplicação de microrganismos on farm é regulamentada pela legislação do Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), pelo Decreto n.º 6.913, de 2009, que determina que “ficam isentos de registro os produtos fitossanitários com uso aprovado para a agricultura orgânica produzidos exclusivamente para uso próprio”.
Em 2020 foi criado pelo MAPA o programa Nacional de Bioinsumos, cujo objetivo é ampliar e fortalecer a utilização de produtos biológicos na agricultura, garantindo um desenvolvimento sustentável da agropecuária brasileira por meio de estruturas de produção que se adéquam às normas estabelecidas.
Tecnologias
Aproveitando a diversidade biológica registrada no Brasil e o aumento da tecnologia, foi produzido também um aplicativo com 580 produtos biológicos disponíveis no País destinados a combater mais de 100 pragas e plantas invasoras e ampliar a absorção de nutrientes (o Bioinsumos, do MAPA), favorecendo o crescimento de inúmeras espécies vegetais, em que o produtor pode consultar na palma de sua mão, de onde quer que esteja.
O programa envolve cooperativas, pequenos e médios agricultores, startups e empresas de médio porte e disponibiliza um conjunto estratégico de ações, desenvolvendo alternativas que ampliam a oferta de matéria-prima para o setor e movimenta pilares importantes.
As biofábricas
Biofábricas são estruturas de produção e laboratório que, em conjunto, produzem microrganismos como mudas vegetais, bactérias ou fungos para controle biológico de pragas e doenças, indutores de resistência e estimuladores de plantas.
O que caracteriza fortemente uma biofábrica é a capacidade de produzir esses microrganismos de forma rápida e em larga escala. Uma biofábrica também tem a capacidade de produzir uma ampla gama de produtos biológicos agrícolas à base de bactérias, fungos e vírus, beneficiando ainda mais os produtores com um controle eficaz de pragas nas lavouras.
Por onde começar?
A implantação on farm pode ser artesanal ou semi-industrial, com a utilização de caixas d’água ou biorreatores, em que se adiciona um meio de cultura, água, antiespumante, açúcar ou melado e o inóculo microbiano.
Este, na maioria das vezes, provém de produtos comerciais registrados. O ideal é que nas biofábricas existam biorreatores, pois as artesanais possuem alto risco de contaminações por microrganismos indesejados e sem garantia de qualidade.
Atualmente, é possível adquirir o sistema por meio de empresas que oferecem desde a assistência técnica até os equipamentos e produtos necessários para a multiplicação na fazenda.
A demanda para atingir um ambiente em condições adequadas para a multiplicação é muito distinta e depende do tipo de microrganismo desejável, das técnicas utilizadas e das condições financeiras do produtor.
Porém, a qualidade da água utilizada, sem contaminantes, filtragem do ar incorporado ao sistema, temperatura ideal, assepsia dos equipamentos, ambiente e meios de cultura, pureza e qualidade do inóculo, além do controle da comunidade microbiana, são fundamentais.
Riscos envolvidos
Um dos maiores riscos da multiplicação on farm se dá pela contaminação do sistema, que é algo fácil de acontecer em qualquer uma das fases de produção. Descuidos na esterilização e desinfecção do sistema ou até mesmo a utilização de cepas e produtos de procedência duvidosa podem ser determinantes no desenvolvimento de microrganismos contaminantes.
Diversos trabalhos científicos mostraram a importância de realizar esse processo com biorreatores industriais e com a devida assistência técnica para evitar contaminações.
Alguns dos equipamentos utilizados nas biofábricas são: biorreatores de inox, agitadores, purificador de água por osmose reversa, incubadora, balança semi-analítica, pHmetro de bancada, micropipeta de volume variável, microscópio binocular óptico, bancada de fluxo laminar, autoclaves, entre outros equipamentos de laboratório.
Benefícios da multiplicação on farm
• Dentre os benefícios, temos redução dos custos com controle de pragas nas culturas, redução dos resíduos de agrotóxicos, dos riscos de contaminação nos alimentos e do ambiente (água, ar, solo);
• Maior segurança aos trabalhadores; aumento da fixação biológica de nitrogênio; disponibilização de fósforo retido ou não lábil e redução da adubação fosfatada;
• Proteção das plantas;
• Aumento do sistema radicular e, em consequência deste benefício, agrega crescimento vegetativo e produtivo;
• Redução dos custos com insumos;
• Controle de pragas sem contaminação;
• Produção de alimentos seguros.
Estrutura envolvida
As biofábricas são laboratórios funcionando nas próprias fazendas dos produtores. Para isso, é preciso uma estrutura mínima, uma vez que são conhecidos os riscos de se produzir em condições precárias, como a produção em caixas d’água, em locais inapropriados e sem controle sanitário.
Atualmente, há uma diversidade de empresas que comercializam contêineres e sistemas de tanques biorreatores de multiplicação de fungos e bactérias on farm. Existem biofábricas modulares e móveis, comercialização de uma estrutura complexa, bem como a aquisição de estruturas simples e até locação.
O produtor deve buscar uma empresa para realizar a instalação e o fornecimento da matéria-prima de multiplicação, bem como ter assistência técnica desde as instalações, treinamentos aos seus funcionários e averiguação dos bioprodutos multiplicados, evitando contaminações com microrganismos patogênicos.