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Nova citricultura revoluciona o cultivo

Os porta-enxertos ananicantes podem reduzir em cerca de 50% ou até mais o volume de copa da mesma variedade, comparados aos porta-enxertos vigorosos tradicionais, beneficiando os tratos culturais e a produção do pomar.

Créditos: Carlos Bornin

Eduardo Augusto Girardi
Pesquisador da Embrapa Mandioca e Fruticultura
eduardo.girardi@embrapa.br

Avanços tecnológicos recentes prometem trazer mudanças significativas para a indústria citrícola. Pesquisadores têm explorado novas abordagens de cultivo, incluindo o desenvolvimento de plantas nanicas, que apresentam menor porte e facilitam processos como colheita mecânica e manutenção diária.

Esses avanços são resultado do uso de porta-enxertos semi-nanicos ou nanicos, juntamente com técnicas de poda. Experimentos com máquinas especializadas já estão em curso na Espanha e nos Estados Unidos, com a introdução dessas tecnologias agora também no Brasil.

Tecnologias envolvidas

Para viabilizar pomares de citros compactos, intensivos ou pedestres, ou seja, em que as plantas são cultivadas abaixo de 3,0 m de altura em geral, algumas tecnologias são fundamentais:

1. Uso de porta-enxertos ananicantes ou semi;

2. Adensamento de plantio;

3. Boas práticas de manejo como poda, irrigação/nutrição e manejo integrado de pragas/doenças.

4. Mecanização das operações, potencialmente da colheita.

Plantas ananicantes

Os porta-enxertos ananicantes podem reduzir em cerca de 50% ou até mais o volume de copa da mesma variedade, comparados aos porta-enxertos vigorosos tradicionais. Já os semi-ananicantes reduzem em torno de 25%. Esses valores mudam conforme o clima, solo, manejo e variedade combinados.

Créditos: Carlos Bornin

Basicamente, as plantas redutoras de porte apresentam um crescimento mais lento ao longo da sua vida, alocando mais fotoassimilados para a frutificação do que para a vegetação. Por isso, resultam em maior eficiência produtiva, ou seja, quilogramas de frutos por metro cúbico de copa, se bem manejados.

Em geral, suas raízes são menos extensas e profundas. Por isso, dependem de irrigação onde necessário, e suas brotações são, em média, menores e em menor número médio por metro quadrado ao longo do tempo. Assim, a planta é menor ao final do ciclo de vida.

Prós e contras

Para os citricultores, as vantagens incluem maior facilidade e agilidade na colheita manual da planta mais baixa; maior viabilidade de colher mecanicamente plantas menores; menor necessidade de podas, especialmente nos cultivos mais adensados; melhorias na qualidade de frutos e suco, em geral associadas a esse tipo de porta-enxerto; menor cubicagem (volume total) de copa por hectare, que facilita as operações de pulverização e reduz o volume de calda necessário para cobertura das plantas.

Entre as desvantagens, citamos a necessidade de mais mudas para estabelecer maior densidade de plantio, pois com menos de 1.000 plantas/hectare é difícil alcançar boas produtividades devido ao menor tamanho das plantas, especialmente nas safras iniciais.

Há, ainda, necessidade de investir em irrigação na maioria das localidades; maiores cuidados no estabelecimento do pomar, como controle de plantas daninhas e trepadeiras, etc. Em geral, é um sistema de produção que exige mais tecnificação do citricultor.

Porta-enxertos

Créditos: Carlos Bornin

Atualmente, já em sistema comercial, há alguns semi-ananicantes, como o IAC 1711 e o San Diego. O ananicante mais conhecido é o trifoliata Flying Dragon, mais usado para limas-ácidas e limões.

Nos próximos anos, mais cultivares serão recomendadas no Brasil com a característica de redução de tamanho, ampliando muito a oferta e diversidade de porta-enxertos.

É muito importante que os citricultores busquem informações técnicas atualizadas com os pesquisadores e agrônomos, pois esse tipo de porta-enxerto tem uso recente no país e no mundo e é necessário validar seu desempenho em diferentes situações.

Produção das mudas

As mudas podem ser produzidas da forma tradicional ou com porta-enxertos micropropagados, que têm como vantagem a uniformidade e possibilidade de oferta em caso de variedades com poucas, sem sementes ou com muita variação (chamados de machinhos).

Os estudos indicam que mudas mais bem desenvolvidas em recipientes maiores favorecerão as mudas nanicas, por permitirem um estabelecimento mais rápido no pós-plantio.

Principais desafios

No geral, penso que o maior desafio seja obter maior conhecimento sobre as novas variedades e práticas de cultivo, além de um maior investimento inicial.

Mas, é difícil vislumbrar uma citricultura no futuro que não precise ser mais sustentável e menos dependente de mão de obra. Por isso, é muito importante que os citricultores já comecem a testar o sistema em sua região, pois a transição não é tão rápida e não pode ser deixada para última hora. É o momento de conhecer e adaptar o sistema.

Mecanização

Eduardo Augusto Girardi/Divulgação

Há diversas máquinas do tipo facilitadoras de colheita ou colhedoras automazidas que se baseiam em diversos princípios de funcionamento. O tipo que demonstra mais viabilidade para colher laranjas de forma mais eficaz no momento é de colhedoras que passam sobre a linha de plantio provocando a agitação da copa para derriçar os frutos.

Ainda, como existe grande interesse em usar menos produtos fitossanitários (ou tornar seu uso mais eficiente), melhorar a qualidade de frutos e suco e, principalmente, preocupação com o custo e disponibilidade de mão de obra, há oportunidades reais para que o sistema de produção pedestre de citros seja explorado em maior escala no Brasil, seja para indústria ou mesa.

Muitas vezes, é mais fácil produzir em sistema convencional, ou seja, alcançar altas produtividades com variedades vigorosas. Mas, como a poda é mais limitada nesses casos e o cenário indica dificuldades à frente para se manter esse tipo de planta, citricultores precisam estar atentos a essas mudanças.

Em outras cadeias de fruteiras, processos muito similares já aconteceram ou estão acontecendo.

Preocupações ambientais

Para que o novo sistema de produção seja sustentável é preciso ajustar o manejo (espaçamento, adubação, irrigação) e aumentar a oferta de cultivares nanicas ou semi, para que se possa obter produtividades comparáveis às do sistema menos adensado sobre vigorosos o mais rápido possível.

O melhor caminho é sempre testar uma área piloto na sua própria região e com as copas que lhe interessam, buscando orientação técnica adequada.

Custo envolvido

Os custos de produção estão em estudo para definição adequada. No caso do Flying Dragon, a informação é de cerca de 30% a mais de custo, mas é necessário levantar em mais viveiros.

Por enquanto, as colhedoras ainda não estão em venda comercial, pois o sistema está em desenvolvimento. Os demais maquinários podem ser convencionais até um espaçamento de 5,0 – 5,5 m, mas o ideal é usar o tipo cafeeiro desse espaçamento para baixo.

Produtividade

As produtividades de áreas experimentais e de validação com laranjas vêm mostrando faixa de 900 a 1.400 caixas/ha para nanicas (cerca de 1,0 caixa/árvore em média) com 1.000 a 1.400 plantas por hectare irrigado, e 1.100 a 1.600 caixas/hectare para semi ananicantes (cerca de 1,5 caixas/árvore em média) com 700 a 1.200 plantas por hectare.

Conforme a condição climática da safra e o manejo, observamos variações nessas produtividades, tanto para cima como para baixo. A rentabilidade e custos estão sendo estudados por um aluno de doutorado da Esalq em parceria com Fundecitrus e Embrapa no momento.

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Mudas ananicantes: A revolução do cultivo de citros

A citricultura brasileira está prestes a embarcar em uma revolução tecnológica que promete transformar o cultivo de citros, pois reduz muito o custo de produção e facilita o manejo.

Carlos Bornin/Divulgação

A introdução de mudas ananicantes está abrindo portas para uma nova era na produção de citros, impulsionada por avanços tecnológicos e pela busca por maior eficiência e rentabilidade.

Carlos Bornin, representante técnico comercial da Agromillora Produção de Mudas, explica que as mudas ananicantes trazem consigo uma série de tecnologias e práticas inovadoras, dentre as quais, destacam-se:

  • Colheita sem escadas: com plantas de porte baixo, a necessidade de escadas para colheita é eliminada, reduzindo os riscos de acidentes e otimizando o tempo dos trabalhadores.
  • Redução de uso de poda: graças ao porte menor das plantas, a necessidade de poda é significativamente reduzida, o que não apenas diminui os custos operacionais, mas também simplifica o manejo do pomar.
  • Redução da área pulverizada e custos de tratamentos fitossanitários: o espaçamento mais adensado das mudas ananicantes possibilita uma redução significativa na área a ser pulverizada, resultando em economia de insumos e redução dos impactos ambientais.
  • Possibilidade de colheita mecanizada: em países onde essa técnica já é adotada, como na Espanha, a colheita mecanizada tem se tornado uma realidade, oferecendo uma solução para a escassez de mão de obra e aumentando a eficiência operacional.

Resultados observados

Segundo Bornin, os resultados de campo observados em outros países que já adotaram essa técnica são promissores. Visitas realizadas na Espanha revelaram ótimos resultados, e no Brasil, pesquisas conduzidas por instituições como a IAC, Embrapa e Fundecitrus têm confirmado esses resultados.

Desafios

Apesar dos benefícios claros, a implementação dessa nova forma de cultivo não está isenta de desafios. “Na Espanha essa nova tecnologia tem sido a solução, pois eles não têm mão de obra para realizar a colheita e quando há, não podem ou querem subir em escadas, preferindo plantas menores. Já no Brasil, observa-se falta de informações e interesse por parte dos produtores. Quando à mão de obra, ainda temos disponível, embora essa realidade esteja mudando rapidamente”, aponta o especialista.

Custos envolvidos

Uma das mudanças mais significativas introduzidas pelo uso de mudas ananicantes é o método de implantação. Embora o custo inicial possa ser o dobro em comparação com o sistema tradicional, que utiliza menos mudas, a economia a longo prazo é significativa.

“Com o tempo, os custos de manutenção reduzem-se em dois terços, tornando o investimento inicial uma estratégia financeiramente inteligente. De 1.000 a 1.500 mudas por hectare são usadas no sistema de mudas ananicantes, em comparação com as 400 a 600 mudas utilizadas no sistema tradicional”, compara Carlos Bornin.

Ele lembra que o sucesso da citricultura com mudas ananicantes depende, em grande parte, do espaçamento correto das plantas. Para garantir a viabilidade econômica, a lavoura precisa ser adensada de maneira adequada. “O espaçamento ideal varia de 4,0 x 1,0 m a 5,0 m x 2,0 m, garantindo uma distribuição eficiente das mudas e maximizando o uso do espaço disponível”, recomenda.

Além dos benefícios econômicos, o cultivo com mudas ananicantes traz vantagens operacionais e ambientais significativas. A altura das plantas, limitada a dois metros, no máximo (em comparação com os seis metros do sistema tradicional), simplifica operações como pulverização e poda.

Esta redução no porte das árvores resulta em economia de tempo e recursos, além de facilitar a colheita e manutenção do pomar.

“As mudas ananicantes, produzidas por viveiros como a Agromillora, são micropropagadas utilizando técnicas avançadas in vitro. Por isso, oferecem maior sanidade, uniformidade e qualidade em comparação com as mudas tradicionais. Esta garantia de qualidade não apenas aumenta a produtividade, mas também reduz os riscos associados a doenças e pragas, promovendo uma citricultura mais sustentável e resiliente”, garante Bornin.

Benefícios econômicos e sustentáveis

Os benefícios econômicos para os produtores que adotam essa nova forma de cultivo são numerosos. Desde a facilidade na colheita até a redução dos custos de produção, espera-se uma melhoria significativa no resultado custo-benefício, proporcionando uma maior margem por hectare.

Carlos Bornin/Divulgação

Além disso, a tecnologia não só promove eficiência econômica, mas também contribui para a sustentabilidade dos pomares de citros. Reduzindo o volume de pulverizações, minimizando as podas mecanizadas e proporcionando uma colheita mais humanizada, em uso de escadas, os benefícios se estendem por toda a cadeia citrícola, promovendo práticas agrícolas mais responsáveis e ecologicamente sustentáveis.

Adoção crescente

Grandes grupos de citricultura já estão adotando o novo manejo com mudas ananicantes, reconhecendo os benefícios da técnica. Além disso, empresas de equipamentos para podas e colheita estão se adaptando para atender às demandas específicas desse novo paradigma de cultivo.

Com a crescente conscientização sobre os benefícios econômicos, operacionais e ambientais das mudas ananicantes, Carlos Bornin espera uma adoção ainda mais ampla nos próximos anos, consolidando a citricultura brasileira como líder mundial em inovação e eficiência.

Com o apoio de instituições de pesquisa, empresas e produtores, essa tecnologia tem o potencial de transformar a citricultura brasileira, garantindo sua competitividade e sustentabilidade a longo prazo.

Comparativo do sistema convencional    x  novo sistema

Sistema convencional

– Altura das plantas: 6 metros

Quantidade de mudas/ ha: 400 a 600

– Produtividade:

Sistema com mudas ananicantes

– Altura das plantas: 2 metros

Quantidade de mudas/ ha: 1.000 a 1.500

– Produtividade:

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