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As espécies, danos e manejo de ácaros na citricultura

Conheça as espécies de ácaros que podem afetar sua plantação de citros e saiba como manejar essas pragas de forma eficiente

Lara Cristina De Grandi Ferreira
Engenheira agrônoma – Universidade de Araraquara (UNIARA) e assistente técnica de Desenvolvimento de Mercado – Aqua do Brasil
lara@aquadobrasil.com.br

As plantas cítricas são hospedeiras de várias espécies de ácaros e algumas delas são consideradas de grande importância econômica. Dentre elas, estão o ácaro-da-leprose-dos-citros, Brevipalpus yothersi, o ácaro-da-falsa-ferrugem-dos-citros, Phyllocoptruta oleivora, o ácaro branco, Polyphagotarsonemus latus, o ácaro-purpúreo, Panonychus citri, o ácaro-mexicano Tetranychus mexicanus e o ácaro-texano, Eutetranychus banksi.

Entre as espécies mencionadas, o ácaro-da-leprose se destaca pela sua grande importância, devido à transmissão do vírus da leprose dos citros em laranjas doces, uma das principais doenças da citricultura brasileira, ocasionando perdas de produção e redução da vida útil das plantas.

Sintomas de ácaro-da-leprose
Foto: Fundecitrus

Sintomas e infecção

As lesões da doença causam queda prematura dos frutos, afetam a capacidade fotossintética da planta, desfolhamento e seca dos ramos. A infestação nos pomares ocorre o ano todo, com tendência a aumento populacional durante a seca, quando as plantas apresentam estresse hídrico.

Quando o índice pluviométrico aumenta, melhoram as condições hídricas da planta, ocorrendo a queda da população do ácaro da leprose.

Para que a transmissão do vírus ocorra, é necessário que o ácaro, independente da fase de desenvolvimento, se alimente por cerca de uma hora em tecidos vegetais contaminados, como lesões de leprose ou em locais que outros ácaros virulíferos tenham se alimentado.

Assim que o ácaro adquire o CiLV-C, o vírus persiste com o vetor, e o ácaro passa a ser o transmissor da doença por todo o ciclo de vida.

Manejo

A medida para redução da taxa de infecção da doença está ligada ao controle do ácaro vetor e da sua disseminação, por meio de pulverizações de acaricidas, baseadas no monitoramento periódico da população do ácaro em frutos com lesões de verrugose e próximos à maturação, que estejam no interior da copa da planta.

Na ausência de frutos, recomenda-se a inspeção em ramos, nos primeiros 30 cm, a partir do ápice. Após o monitoramento, se for atingida a porcentagem mínima de amostras com a presença do ácaro, de acordo com o nível de ação adotado pelo citricultor, é realizada a aplicação de acaricidas específicos no talhão infestado.

Ácaro branco

Já o ácaro branco é encontrado em todas as variedades de citros, principalmente em lima ácida ‘Tahiti’. O ataque se concentra, principalmente, em brotações e frutos novos, cujos sintomas nos frutos começam pela perda de cor, provocando uma coloração cinza na superfície do fruto, depreciando-o para o mercado interno.

Os danos severos na epiderme dos frutos iniciam-se após 12 dias do início da infestação. Além da depreciação dos frutos para o consumo “in natura”, as injúrias causam redução no peso dos mesmos.

O monitoramento deve ser realizado inicialmente na florada e na fase de desenvolvimento dos frutos chumbinho, azeitona e bola de gude, sendo inspecionados três frutos por planta em 1% do talhão.

Se encontrados 10% da amostra com presença de ácaro branco, a aplicação de acaricida deve ser realizada no talhão. Ao mesmo tempo, deve-se redobrar a atenção ao ácaro da falsa-ferrugem, que causa grande prejuízo econômico, atacando folhas e ramos em todas as variedades comerciais de citros, como laranja-doce, tangerinas, limões e limas ácidas.

Transmissão

O ácaro é espalhado pelo vento, e geralmente é encontrado em frutos em formação e em folhas novas de coloração verde intensa. Quanto aos sintomas, ao infestar as folhas, o ácaro da falsa ferrugem produz uma mancha, de forma irregular e de cor escura, que se localiza na superfície inferior e nas bordas.

Além disso, ele injeta toxinas através de saliva que reduzem a capacidade fotossintética das plantas, impactando a qualidade e produtividade do pomar. Nos frutos afetados, o ácaro provoca o aparecimento de manchas escuras de coloração ferrugínea na casca, que variam de intensidade de acordo com o nível de infestação.

Monitoramento e controle

Sugere-se que o monitoramento seja realizado em 1% do talhão, verificando-se frutos verdes ou folhas. O controle deve ser realizado quando for encontrado índice em 20% das folhas ou frutos inspecionados, quando atribuído ao mercado de frutas frescas, e 30% quando a produção for destinada à indústria.

Lavoura com ataque de ácardo-da-falsa- ferrugem
Foto: Fundecitrus

Ácaro da falsa ferrugem

Atualmente, para o controle do ácaro da falsa ferrugem, existem diversos ingredientes ativos utilizados, sendo produtos à base de enxofre os mais utilizados para controle. Os ácaros da família Tetranychidae; ácaro-purpúreo, ácaro-mexicano e o ácaro-texano são os que aparecem de forma esporádica, sendo mais comuns nos meses mais secos do ano.

Dias mais quentes limitam o crescimento populacional do ácaro-purpúreo. Estes ácaros também infestam folhas, ramos e frutos. Os sintomas são reconhecidos por pontos descoloridos, devido à morte das células, provocando queda das folhas e secamento de ponteiros.

Uma característica importante para identificação das infestações são as teias que eles tecem nas folhas.

Resistência aos acaricidas e manejo integrado de pragas

As principais medidas de controle dos ácaros, atualmente, envolvem pulverizações de acaricidas químicos, biológicos e fitoquímicos, seguindo a recomendação do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA).

Os citricultores que destinam a produção ao mercado de exportação devem seguir as recomendações da Lista Protecitrus (Produtos para Proteção da Citricultura), que indicam quais produtos estão autorizados para aplicação com LMRs (Limite Máximo de Resíduos), definidos pelos principais países consumidores do suco de laranja brasileiro e da fruta “in natura” de lima ácida ‘Tahiti”.

O controle químico, embora seja uma opção mais rápida, tem um desafio, já que o uso contínuo de acaricidas com o mesmo modo de ação leva à evolução da resistência em populações de ácaros aos produtos mais utilizados.

O ingrediente ativo, espirodiclofeno, tem sido bastante utilizado no controle de ácaros de importância agrícola, e possui eficácia contra todos os estágios de desenvolvimento de ácaros dos gêneros Tetranychus, Panonychus e Brevipalpus.

Porém, já foram relatadas populações resistentes ao ingrediente ativo. Outros acaricidas sintéticos encontrados no mercado são: abamectina, ciflumetofem, espiromesifeno, piridabem, entre outros.

Vale ressaltar a importância de o citricultor realizar um plano estratégico de pulverizações, priorizando a rotação de princípios ativos e modos de ação, visto que o uso contínuo do mesmo modo de ação leva à resistência dos ácaros, proporcionando um cenário no aumento do número de aplicações, da dose e de misturas indevidas de produtos com a intenção de controlar as pragas e manter o nível de produção.

Esses fatores comprometem o programa de Manejo Integrado de Pragas (MIP), podendo contaminar o meio ambiente, afetar os organismos benéficos e elevar o custo no controle desta praga.

Portanto, o manejo da resistência de ácaros é, sem dúvida, um importante componente do MIP, tendo em vista que a resistência a acaricidas é um dos principais desafios para a produção agrícola brasileira. Como estratégia para o manejo de resistência de ácaros, os fitoquímicos vêm ganhando destaque, pois são produtos naturais que apresentam atividades biológicas sobre as pragas e doenças e não deixam resíduos para o consumidor.

Assim, vem possibilitando para aos produtores uma nova alternativa aos acaricidas e inseticidas sintéticos, proporcionando melhor controle da praga, redução da carga química dos pomares e surgimento de pragas resistentes, além da inclusão de produtos zero resíduo para o consumidor, contribuindo para uma citricultura mais sustentável.

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