Rafael Campagnol
Engenheiro agrônomo, doutorando pela ESALQ/Depto de Produção Vegetal
Eduardo Suguino
Pesquisador cientÃfico da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA) – Polo Centro Leste
A produção de minimelancias sem sementes atende um nicho de mercado cujo consumidor é extremamente exigente, porque procura por frutas premium, ou seja, mais saborosas que as encontradas normalmente nas prateleiras dos supermercados. Hoje, a produção de melancia sem semente visa o mercado de exportação, principalmente a Europa.
As microssementes, pequenas sementes brancas, encontradas na polpa desses tipos de melancias são, na verdade, apenas sementes atrofiadas, flácidas e que podem ser comidas juntamente com a polpa, sem necessidade de separação.
Esse material foi desenvolvido primeiramente pelos japoneses, que duplicaram a ploidia da melancia de 2n para 4n e cruzaram esse material com outro de ploidia 2n, obtendo, assim, um material triploide que apresentava sementes inviáveis ou não apresentavam sementes.
Mercado
A sociedade promoveu determinadas alterações no comportamento das pessoas que vivem nos grandes centros urbanos, fazendo com que muitos se adaptassem a morar em espaços pequenos com famílias cada vez menores, que se tornou uma tendência principalmente nas populações de classe média e alta.
Esta mudança estabeleceu a criação de nicho de mercado específico para este tipo de produto (minimelancias) que demandam frutos com peso situado na faixa de um a três quilos, que concilia o desejo de consumo com a facilidade de ocupar pouco espaço nos refrigeradores.
Para este segmento surgiram algumas cultivares de melancia que variam em tamanho, formato, cor e presença ou não de sementes. Neste último exemplo é possível verificar a presença das “sementes brancas“, que na realidade são resquÃcios de uma formação incompleta.
Menores no tamanho, maiores no sabor
José Roberto Prado, diretor comercial da Itaueira, empresa produtora de frutas diferenciadas, diz que esse é um nicho recente, e acredita que o mercado tenha bom potencial de crescimento. “É difícil dimensionar esse mercado, mas estamos arriscando e apostando“.
Produtora dos melões e minimelancia da marca Rei, a Itaueira produz cada uma de suas frutas com um cuidado no cultivo e logÃstica, que comprovam o rótulo de Saboroso nos mercados nacional e internacional. A qualidade das frutas desse produtor é garantida por um rigoroso controle, que começa desde a escolha das melhores sementes até a entrega nas mãos do consumidor.
Manejo
Para produzir a minimelancia sem sementes é preciso plantar a melancia com semente, que não tem valor comercial para cada duas sem sementes, para que então ocorra a polinização, ou seja â…“ do que se planta não será colhido.
“Nosso foco não é o fato de serem melancias sem sementes, mas sim de ser uma minimelancia saborosa, e para isso temos que cuidar muito da adubação e da irrigação, para conseguir o sabor que o consumidor exige“, ensina José Roberto.
Custo de produção
Como o desenvolvimento da qualidade final é lento, pois é preciso garantir uma fruta saborosa, José Roberto afirma que os primeiros três anos foram de aprendizado para a Itaueira, sendo que dentro de mais algum tempo a empresa deverá começar a ter retorno.
“A Itaueira ainda não exporta a minimelancia, pois nossa prioridade é o mercado interno, que depois de atendido passa às exportações“, considera o diretor da empresa.
Novidades
Há muitas novidades em pesquisas, como melancias com casca amarela e polpa vermelha, com casca verde e polpa amarela, de tamanhos variados, de elevadas produções, mas o objetivo da Itaueira é sempre a melancia saborosa, com gosto de ‘quero mais’.
E para quem pensa que toda essa estrutura foi montada por um grupo de investidores japoneses, a reposta é: uma empresa familiar, que nasceu no nordeste do país e ganhou espaço além do mercado brasileiro – Estados Unidos, Canadá, Holanda, Espanha, Itália e Rússia. A Itaueira foi fundada em outubro de 1983, com o cultivo de caju; hoje, suas fazendas produzem por ano, 70 mil toneladas de melão e minimelancia mais saborosos do mercado.
As operações comerciais são administradas de São Paulo, em um escritório onde seu diretor comercial acompanha a fase final de distribuição e os melões e minimelancias recebem a última inspeção, antes de seguir para os atacadistas da capital e interior desse Estado.