Autor
Betânia Roqueto dos Reis
Engenheira agrônoma, pós-graduanda em Ciência do Solo – ESALQ-USP
betaniaroqueto@gmail.com
Jacqueline Kochan Lepchak
Engenheira Florestal, pós-graduanda em Ciência do Solo – ESALQ-USP
jacquelinelepchak@gmail.com
Thairis Gomes
Bióloga, especialista em Mineralogia do Solo – ESALQ-USP
thairis.rim@gmail.com
O silício (Si) é o segundo elemento mais abundante na crosta terrestre, constituindo cerca de 27% de sua massa, logo após o oxigênio (O). Apesar disto, o Si não é encontrado como elemento puro na natureza, mas na forma de minerais silicatados. Alguns destes minerais são mais solúveis, liberando silício na forma lábil para as plantas, mas alguns, como o quartzo (terceiro mineral mais abundante na crosta), é muito pouco solúvel. Por isto, apesar do solo possuir grande quantidade total de Si, a quantidade disponível para as plantas é bastante variável.
Os solos do Brasil, com alto grau de intemperismo, ou seja, solos evoluídos e profundos, possuem pouco teor de Si trocável, pois à medida que o intemperismo aumenta, o teor de sílica diminui no sistema, por um processo chamado dessilicatação (perda de silício). Portanto, nestes solos o elemento é encontrado majoritariamente em minerais como o quartzo, fontes não prontamente disponíveis para plantas.
Por isto, no Brasil o elemento foi incluído na legislação como micronutriente benéfico para as plantas, favorecendo o seu comércio isolado ou em mistura com outros nutrientes.
Com a dissolução destas fontes mais solúveis, o elemento é disponibilizado na solução do solo como ácido monosílicico – Si(OH)4 (ou H4SiO4) em pH < 9, tornando-se fonte absorvível pelas plantas. O Si é absorvido pelas raízes, ativa ou passivamente, transportado via xilema e depositado na parede celular de folhas e caule, tornando a planta mais estruturada e firme, aumentando a resistência ao acamamento, ao ataque de pragas e doenças, dentre outras funções.
Outro benefício do silício, quando disponível na forma absorvível, é a competição pelo mesmo sítio de troca do fósforo. Assim, quando ocorre a adsorção do Si no solo também pode ocorrer, paralelamente, a liberação do fósforo, antes não solúvel, para as plantas.
Fontes diversas
Além dos minerais do solo e das rochas serem fontes de Si, a decomposição de resíduos vegetais na superfície do solo também pode ser fonte deste elemento (Si biogênico), aumentando a quantidade deste elemento disponível para as plantas através da biociclagem.
Diversas pesquisas demonstraram que o Si atua no aumento da produção de culturas acumuladoras do elemento, como arroz, trigo e milho, por meio da melhoria da arquitetura da planta, diminuição do acamamento e aumentando da taxa fotossintética; diminuindo a transpiração, as perdas agrícolas por déficit hídrico durante a ocorrência de veranicos; indução de resistência mecânica, diminuindo a incidência de fungos e doenças e estresses bióticos e abióticos.
Devido a estes benefícios, embora o elemento não seja considerado essencial para o desenvolvimento de plantas, em 2004 foi sancionado o Decreto nº 4.954 da Lei no 6.894, que classifica o Si como micronutriente benéfico, podendo, dessa forma, ser produzido e comercializado como fertilizante.
Essencialidade para o milho
A cultura do milho é de extrema importância para o Brasil, que é o terceiro maior produtor mundial, com cerca de 82 milhões de toneladas colhidas na safra 2017/18. Estima-se que as perdas mundiais de milho causadas por acamamento e quebra do colmo são de 5 a 20% do produzido.
O acamamento causa a ruptura dos tecidos e interrompe a vascularização do colmo, impedindo a recuperação da planta, afeta o transporte de água e nutrientes e, quanto mais cedo ocorrer, menor será o rendimento e a qualidade dos grãos.
Dessa forma, em solos com pouco Si disponível o uso de silicatos pode elevar o teor de Si nas plantas, levando a um aumento na produtividade de gramíneas (arroz, cana-de-açúcar, sorgo, milheto, aveia, trigo, milho) e demais espécies não gramíneas, como soja, feijão, alface, pepino, morango, entre outras.
Existem diversas fontes de silício no mercado. Uma alternativa para aumentar o Si disponível para as plantas é a utilização da remineralização ou rochagem, que consiste na prática de aplicação de remineralizadores (pó de rocha) no solo, visando melhorar as condições químicas, físicas e biológicas do solo, e também fornecer ao solo uma ampla diversidade de outros nutrientes.
Reconhecendo esses mecanismos, e tendo em vista a exaustão futura dos recursos minerais, o Poder Legislativo Brasileiro publicou a Lei 12.890 de Dezembro de 2013 que estabelece os remineralizadores como insumos agrícolas, cujo uso é regulamentado pela instrução normativa 5 e 6 do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
Os remineralizadores são capazes de disponibilizar tanto macro quanto micronutrientes para as plantas de forma lenta e gradual, tornando menor a necessidade de aplicações sucessivas.
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Pesquisas
Diversos trabalhos estão sendo desenvolvidos com remineralizadores e, além da liberação de silício ao solo, há aumento nos valores de pH do solo e na liberação de fósforo, potássio, cálcio, magnésio e sódio, muitas vezes proporcionais às doses de aplicação, além da redução das perdas por lixiviação.
Dessa forma, fornecer Si ao solo melhora a estruturação da planta e, consequentemente, diminui o ataque de pragas e doenças e as perdas por acamamento na cultura do milho, por exemplo.