Paulo Henrique Santarosa
Engenheiro agrônomo – ESALQ/USP
santarosa.pauloh@gmail.com
Camila Queiroz da Silva Sanfim de Sant Anna
Engenheira agrônoma – Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (UENF)
agro.camilaqs@gmail.com
Matheus Roussenq
Engenheiro agrônomo – Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)
matheusrous@gmail.com
Em amplo crescimento nas lavouras brasileiras nos últimos anos, o abacate tem grande potencial no mercado internacional, destacando-se nos últimos dez anos e com projeção, segundo a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), para se tornar a fruta tropical mais comercializada até 2030.
O abacateiro tem como origem o México e a América Central. A área plantada no Brasil está em torno de 18 mil hectares e o Estado de São Paulo é um dos principais produtores do país. Seu cultivo ocorre em praticamente todos os estados, propiciando condições de produção o ano todo.
Tem produtividade média de, aproximadamente, 21 toneladas por hectare ao ano, dependendo das condições edafoclimáticas e de manejo. A estimativa média de consumo per capita no país foi de 900 gramas no ano de 2019.
No ponto certo
Inúmeras cultivares de abacate foram obtidas com auxílio do melhoramento genético, produzindo híbridos que apresentam frutos com as mais variadas formas, tamanhos e pesos, assim como diferentes proporções de casca, polpa e semente.
As cultivares são separadas em grupos de acordo com o horário de abertura dos estigmas e anteras, sendo: no grupo A, as flores abrem os estigmas de manhã, mas as anteras só vão se abrir na tarde do dia seguinte.
Em contrapartida, nas cultivares do grupo B, os estigmas se abrem após o meio-dia e se fecham ao entardecer, enquanto as anteras se abrem na manhã do dia seguinte. Desta forma, há uma alternância dos dois grupos, o que faz com que sempre ocorra polinização cruzada.
As cultivares mais utilizados no mercado interno são: Simmonds (grupo A), Barbieri (B), Collinson (A), Quintal (B), Fortuna (A), Breda (A), Reis (B), Solano (B), Imperador (B), Ouro Verde (A) e Campinas (B).
No mercado externo e para a industrialização, são empregadas as cultivares Tatuí (grupo B), Hass (A) e Wagner (A). As cultivares Hass e Fuerte vêm sendo comercializadas no mercado nacional sob a denominação “Avocado”, e por serem diferenciadas, têm sido mais valorizadas.
Maturação
A época de maturação é variável em função da diversidade climática nas diferentes regiões, sendo, principalmente, influenciada pela temperatura do ar sobre o desenvolvimento da planta, no período entre o florescimento e a maturação.
Assim, dentre os fatores climáticos que afetam o abacateiro, podemos destacar a temperatura, a luminosidade, a precipitação pluviométrica, os ventos e a umidade do ar, em especial a temperatura e a precipitação. De acordo com a literatura, o abacateiro requer uma precipitação anual de aproximadamente 1.200 milímetros bem distribuídos durante o ano para uma boa produção.
De tudo se aproveita
Popularmente reconhecido por seus benefícios à saúde, como presença de antioxidantes, vitaminas A, B e E, o abacate é altamente energético e rico em lipídeos, com seu consumo in natura popularmente conhecido, sobretudo na culinária mexicana, com notável uso no preparo de pratos típico, a exemplo da famigerada guacamole.
Não só o fruto do abacateiro, como também a semente, a casca e as folhas são utilizadas de variadas formas. O extrato das folhas do abacateiro é muito utilizado em produtos farmacêuticos, por possuir propriedades diuréticas.
A casca e as sementes apresentam alto teor de compostos fenólicos e atividade antioxidante; os quais estão associados à prevenção de doenças ocasionadas pela presença de radicais livres, hipertensão, diabetes, asma, cardiopatias e doença de Alzheimer.
O óleo extraído da polpa do fruto é utilizado na indústria de cosméticos. O azeite de abacate, a cada dia, se torna mais conhecido e está associado à diminuição de processos inflamatórios e fortalecimento do sistema imunológico.
Fitossanidade
Ainda que seja uma cultura de fácil cultivo e baixa incidência de pragas, o produtor deve se atentar ao seu controle para que tenha sucesso em seu cultivo. Recomenda-se o controle das plantas daninhas entre linhas e ao redor da planta na proporção da copa para que não haja competição com a cultura, principalmente no início do plantio até o estabelecimento da cultura.
Como pragas que assolam a cultura podemos citar: lagarta-do-fruto (Stenoma catenifer), ácaros (Oligonychus persea), bicudo-do-abacateiro (Heilus spp.), tripes, percevejos, coleobrocas e formigas, sendo recomendado o manejo integrado como uma estratégia no combate às ameaças fitossanitárias e na promoção da sustentabilidade da produção da cultura do abacateiro.
Propagação
A propagação do abacateiro pode se dar via sementes ou vegetativa. Esta última pode ser feita por vários métodos, como a estaquia, enxertia, alporquia e cultivo de tecidos.
Dentre os citados, o método mais utilizado é o da enxertia. A produção de mudas por sementes já foi muito utilizada, porém, devido às suas desvantagens, hoje, a sua utilização se restringe à produção de porta-enxertos.
As principais desvantagens de um pomar produzido a partir de mudas por semente estão relacionadas à sua variabilidade genética, impactando diretamente na desuniformidade da produção, na qualidade dos frutos, na época de colheita e na resistência a pragas e doenças.
Também vale mencionar que as plantas obtidas por sementes frutificam mais tardiamente que no método vegetativo.
Cabe ressaltar que o ponto de colheita dos frutos é anterior ao seu amadurecimento, de forma manual, retirando-o da árvore e deixando o pedúnculo entre 0,8 e 1,0 centímetros.
Valorização
Assim sendo, devido à sua alta aceitação nos mercados nacionais e internacionais e devido aos seus variados usos, tanto no consumo in natura quanto ao seu emprego na indústria farmacêutica ou de cosméticos e até mesmo na “medicina popular”, a produção de abacate se tornou uma opção muito valorizada e difundida nos mais variados cantos do país.