27.6 C
Uberlândia
terça-feira, dezembro 10, 2024
- Publicidade -spot_img
InícioArtigosGrãosPerfil do solo: Investimento com lucro certo

Perfil do solo: Investimento com lucro certo

Autor

Marco Túlio Gonçalves de Paula
Engenheiro agrônomo e mestrando em Qualidade Ambiental – Universidade Federal de Uberlândia (UFU)
mtulio.agro@gmail.com

Atualmente, muito se fala em perfil de solo e seus benefícios, mas na prática, isso é uma realidade nas nossas lavouras? A construção de um solo profundamente agricultável demanda tempo, investimento e bastante conhecimento sobre a química que compõe cada gleba, que deve ser trabalhada separadamente mediante análises e boas recomendações.

A calagem já é uma prática comum às lavouras e bastante dominada pelos agricultores brasileiros. Com a chegada da agricultura de precisão, ficou notória a melhoria na uniformidade das áreas quanto à fertilidade do solo, mas tratar apenas a primeira camada de 20 cm de profundidade do solo não é suficiente para atingir patamares de altas produtividades.

Clima tropical

O Brasil cultiva soja e milho num clima tropical, com presença de veranicos mesmo na estação chuvosa, o que proporciona estresse hídrico nas plantas e quebra do ciclo produtivo, onde ocorre o redirecionamento do gasto energético do vegetal, que cessa a produção para se manter vivo na adversidade.

Isso acontece porque a água no solo vai secando em profundidade, e quando a raiz não mais consegue esse contato com a umidade, é interrompida a absorção de solução nutritiva, levando ao estresse hídrico e nutricional e resultando em queda na produção.

A alternativa para reduzir os impactos negativos dos veranicos sobre as plantas é a formação do perfil do solo, que nada mais é que aumentar em profundidade a camada favorável ao desenvolvimento das raízes. O primeiro passo para implementar essa técnica consiste nas análises do solo em profundidades superiores a 20 cm.

Inicialmente, solicitava-se análise do perfil de 0 a 20 e de 20 a 40 cm para lavouras de soja e milho, mas já existem trabalhos e áreas comerciais que mostram a eficiência de se ter um perfil agricultável de até 1,0 m.

Recomendações

A agricultura brasileira nas áreas de sequeiro se pauta, na maioria das regiões, em duas safras: a primeira, geralmente de soja ou milho grão, e a segunda geralmente com milho grão ou silagem, sorgo grão ou silagem, milheto, trigo, girassol, entre outras.

O perfil do solo favorece muito o desenvolvimento principalmente da segunda safra, que se inicia entre final de janeiro e meados de abril, quando a cultura se desenvolve ao fim da época das águas. Por isso, quanto mais profundas as raízes, melhor a captação de água do solo, menores são os estresses hídricos e nutricionais e, consequentemente, maior a produtividade.

O segundo passo após as análises químicas é saber a quantidade de alumínio e cálcio em cada camada mais profunda do solo. A intenção é fazer recomendações para disponibilizar mais cálcio e lixiviar cada vez mais o alumínio, que em altos teores é toxico e desfavorece o desenvolvimento radicular.

Esse manejo é feito com o gesso agrícola, composto de sulfato de cálcio dihidratado. No solo, o sulfato separa-se do cálcio, que é disponibilizado para as plantas, e se liga ao alumínio, formando sulfato de alumínio, cuja carga é neutra, não ocorrendo ligação química ou fixação com as partículas do solo, sendo facilmente lixiviado. Com a lixiviação do alumínio para camadas mais profundas e disponibilização de cálcio, a raiz passa a se desenvolver também nessa camada.

Safra após safra, com as colheitas, essas raízes que se desenvolveram nas camadas mais profundas são decompostas, melhorando a porosidade do solo, pois os canalículos formados por elas permanecem presentes naquela faixa de solo, além da disponibilização também de matéria orgânica oriunda dessas raízes em profundidade no solo, aumentando a CTC da camada mais profunda, a atividade microbiológica, a bioativação de nutrientes antes fixados, a infiltração de água da chuva, reduzindo escorrimento superficial, e muitos outros benefícios.

A recomendação do gesso agrícola é feita de acordo com o teor de argila do perfil, nos quais solos mais arenosos exigem menor quantidade do insumo e aqueles mais argilosos, maior quantidade. Geralmente essa dose varia de 700 kg/ha até 2,0 ton/ha do insumo. A aplicação é feita em superfície a lanço, apesar de já existirem implementos capazes de aplicar gesso agrícola e calcário em profundidade. Devido à sua alta solubilidade, a aplicação do gesso em superfície tem se mostrado eficiente na correção do solo em camadas mais profundas.

Viabilidade

Assim como a calagem, o custo com a formação de perfil de solo se paga e agrega em lucratividade para as lavouras que usam da prática, além de melhorar a área de forma dificilmente reversível.

Essa melhoria no desenvolvimento das raízes em profundidade leva também ao aumento da eficiência dos demais insumos utilizados no solo, como adubos e defensivos, pois a taxa de absorção pela planta é aumentada, e também na ciclagem dos nutrientes já lixiviados, pois a planta os trazem novamente para a superfície via palhada.

Para a interpretação da análise química do solo e recomendação dos insumos para formação de perfil do solo e correção da camada agricultável, a assistência de um engenheiro agrônomo especializado em fertilidade do solo é fundamental, pois cada área tem características peculiares e exige diferentes calcários e quantidades de gesso.

ARTIGOS RELACIONADOS

Competição de Cultivares da AgroBrasília

A Competição de Cultivares da AgroBrasília oferece a produtores a oportunidade de avaliar fatores como a qualidade do desenvolvimento da raiz, a sanidade e a produtividade de...

Safra paulista de grãos se recupera das adversidades climáticas

Previsão, com dados da Conab, é de 10,45 milhões de toneladas para 2021/2022, com melhores perspectivas para a soja e milho.

Federarroz reforça sustentação de preços ao produtor neste ano

A Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz) reafirma que os preços pagos ao produtor continuarão aquecidos durante o período de colheita e em todo o ano de 2021.

A semente da vida está em nosso solo

  Antonio Roque Dechen Presidente do Conselho Científico para Agricultura Sustentável (CCAS), professor Titular do Departamento de Ciência do Solo da ESALQ/USP, presidente da Fundação Agrisus...

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui
Captcha verification failed!
Falha na pontuação do usuário captcha. Por favor, entre em contato conosco!