Autores
Brenda Ventura de Lima e Silva
Mestre em Fitopatologia e servidora do IF Goiano – campus Morrinhos
Rodrigo Vieira da Silva
Engenheiro agrônomo, doutor em Fitopatologia e professor do IF Goiano – campus Morrinhos
rodrigo.silva@ifgoiano.edu.br
Nádia Fernandes Moreira
Engenheira agrônoma e doutora em Genética e Melhoramento de Plantas
A cana-de-açúcar é uma cultura de grande importância no Brasil, país que ocupa a primeira posição entre os maiores produtores do mundo, além de ser uma excelente alternativa energética. O plantio convencional é um dos problemas desta cultura, devido ao gasto excessivo de colmos que poderiam ser destinados à indústria, além de aumentar o risco de difusão de pragas e doenças. A cana é extremamente dependente da adubação nitrogenada, por ser o nitrogênio um dos nutrientes responsáveis pela sua nutrição, absorvido em maior quantidade.
Diante disso, tem-se buscado por ganhos produtivos, por meio de pesquisas desenvolvidas no âmbito do melhoramento genético, com a obtenção de novas cultivares adaptadas a diversas condições de solo e clima, e estudos sobre métodos alternativos ao plantio convencional que reduzam o volume de material utilizado para a multiplicação e que melhorem a qualidade dos canaviais, como a produção de mudas livres de patógenos.
Perfilhamento da cana
Em relação ao crescimento da cana-de-açúcar, existem diversos componentes fenológicos, como o número de perfilhos, a altura dos colmos e a densidade dos colmos, que são de controle genético, mas que estão sujeitos a influências ambientais.
De acordo com as fases de desenvolvimento da planta, os processos fisiológicos podem sofrer determinada variação, e no caso da cana-de-açúcar podem ser classificados como brotação, perfilhamento, crescimento, maturação e florescimento.
Os aspectos de maior importância para uma boa produtividade final ou bom estande de plantas, tanto para a cana quanto para qualquer cultura, estão relacionados às práticas de plantio, levando em consideração fatores indispensáveis à otimização da cultura, as quais vão interferir diretamente na capacidade de brotação e perfilhamento da cana.
Benefícios dos biológicos
O uso de microrganismos benéficos às plantas permite a promoção de uma agricultura mais sustentável, inclusive na cultura da cana-de-açúcar. A utilização de fungos e as bactérias que desempenham processos ecológicos importantes contribuem para promover a maior produtividade dos cultivos agrícola.
Diversas espécies biológicas possuem a capacidade de colonizar as raízes e favorecer a promoção de crescimento de plantas por meio da produção de hormônios e por meio da maior disponibilização de nutrientes. Dentre os principais microrganismos utilizados na agricultura, encontram-se espécies pertencentes aos gêneros Trichoderma spp., Rhizobium spp., Bacillus spp. e Pseudomonas spp.
Indicação de uso dos biológicos
O uso de inoculantes fúngicos e bacterianos constitui-se em alternativa econômica e ambientalmente viável, com possível diminuição do uso de adubos minerais e defensivos sintéticos e, consequentemente, menor custo de produção.
Estes microrganismos podem ser encontrados nas superfícies radiculares, na rizosfera e no interior dos tecidos das plantas, onde podem ser utilizados para tratamento de sementes, mudas micropropagadas, estacas, tubérculos, raízes, incorporadas ao solo antes ou depois do plantio e pulverizações na parte aérea, incluindo folhagem e frutos.
Como meio de afetar diretamente o metabolismo das plantas, estes podem fornecer substâncias que normalmente estariam pouco disponíveis, como nitrogênio, fósforo, ferro e produzir hormônios tais como, auxinas, giberelinas, citocininas e etileno.
Outra forma de atuação dos biológicos é a promoção do crescimento de forma indireta, auxiliando no biocontrole de patógenos, permitindo que as plantas expressem todo o seu potencial de crescimento que poderia ser limitado, caso um patógeno estivesse presente. Os mecanismos responsáveis pela atividade antagonista incluem a inibição da ação destes por produção de antibióticos, toxinas, concorrência por minerais, nutrientes e locais de colonização.
Alguns microrganismos nativos do solo favorecem o desenvolvimento da cana-de-açúcar pela adição de nutrientes por meio da mineralização da matéria orgânica ou pela fixação biológica de nitrogênio (N2).
As substâncias húmicas e as bactérias biofixadoras de nitrogênio (BBFN) podem afetar diretamente o metabolismo da planta, modificando o padrão de crescimento e desenvolvimento das plantas, melhorando o enraizamento e o perfilhamento, consequentemente, resultando em maior produtividade.
Herbaspirilum seropedicae
Pesquisa que utilizou a inoculação simultânea de ácidos húmicos (AH) e da BBFN Herbaspirilum seropedicae, em microtoletes de cana-de-açúcar da cultivar RB 72 454 proporcionou significativa desenvolvimento radicular, com incrementos de 60 a 120% no comprimento e de 30 até 230%.
Para toletes não tratados, a inoculação não produziu efeitos significativos, apenas no caso da aplicação isolada de ácidos húmicos.
Bacillus subtilis
A bactéria Bacillus subtilis é habitante natural do solo, produz enzimas e fitohormônios que proporcionam benefícios para as plantas, e também promotores de crescimento de plantas. A promoção de crescimento ocasionada por B. subtilis é consequência do aumento da fixação de nitrogênio, solubilização de nutrientes, síntese de fitormônios e melhoria das condições do solo.
Além dos benefícios indiretos pela supressão deste ambiente contra microrganismos maléficos, a promoção de crescimento, proporcionada por B. subitilis, pode levar à semente a rápida germinação, emergência de plântulas e crescimento das plantas, fazendo com que a planta atinja o estádio adulto mais rapidamente, permanecendo menos tempo no campo, o que favorece o escape contra patógenos presentes no solo e no ambiente externo.
O sucesso do B. subtilis na promoção de crescimento de plantas está intrinsecamente relacionado com as características biológicas deste microrganismo, que apresenta facilidades para a manutenção de sua viabilidade em bioformulados. Assimhá a potencialidade para o incremento da produtividade, bem como a redução de doenças.
A inoculação de B. subtilis na cultura da cana-de-açúcar em trabalhos de pesquisa tem proporcionado um aumento da emergência, perfilhamento e peso seco das plantas de 12 a 23% em relação às plantas cultivadas na ausência da bactéria.
Trichoderma spp.
Os mecanismos do fungo Trichoderma spp. na promoção do crescimento das plantas e no controle biológico de fitopatógenos são os mais diversos: envolve a produção de hormônios, antagonismo, parasitismo, predação, antibiose, competição e indução de resistência.
Os solos que contêm Trichoderma spp. apresentam maior teor húmico, originários da lignina, que é decomposta por este microrganismo, ocorrendo um aumento da área radicular da planta acompanhado do aumento da massa verde. Por ser um componente natural encontrado no solo, atua como biofungicida natural, reduzindo em até 100% as chances de qualquer fungo atingir a planta.
O Trichoderma ainda possui a função de estimular e promover o aumento do enraizamento, liberar os fitohormônios que auxiliam no desenvolvimento e na capacidade de induzir ações de defesa na planta. A aplicação de Trichoderma spp. tem proporcionado aumentos significativos na percentagem e na precocidade de germinação, emergência e perfilhamento das plantas, além de estimular o desenvolvimento das raízes laterais.
Outras culturas beneficiadas
Trabalhos de pesquisa realizada em campo de cultivo mostrou que a microbiolização de órgãos vegetais com Trichoderma harzianum isolado T-22 proporcionou aumento significativo na emergência de plantas e no rendimento de grãos de milho.
Em outro trabalho, os autores concluíram que Trichoderma spp. isolado CEN 262 proporcionou maior índice de desenvolvimento de partes aéreas de mudas de eucalipto, e plântulas de milho com 10 dias apresentaram maior produção de biomassa.
Vários pesquisadores observaram a ação positiva de isolados de T. harzianum em tratamento de semente e de solo na germinação de feijão, rabanete, tomate e pepino. Em pepineiro, foi observado um aumento de 96% de área foliar em plântulas cultivadas em substrato tratado com o isolado T-203 de T. harzianum.
Bacillus spp. + Trichoderma spp.
Estudos demonstram um sinergismo na aplicação do Bacillus spp. + Trichoderma no sulco de plantio da cana-de-açúcar. Estes biológicos juntos são capazes de atuar como bioestimulantes do crescimento radicular, promovendo o desenvolvimento de raízes por meio da ação de fitohormônios e, assim, melhorar a assimilação de nutrientes, aumentando a resistência diante de fatores bióticos não favoráveis, além de degradar fontes de nutrientes que serão importantes para o desenvolvimento da planta.
A aplicação de Trichoderma e Bacillus pode ser realizada nas sementes, no substrato, no sulco de plantio ou em matérias orgânicas que serão incorporadas antes do transplante das mudas.
A aplicação via pulverizações distribuídas de forma uniforme de biológicos nos sulcos de plantio da cana-de-açúcar vem ganhando muito espaço nos últimos anos. Posteriormente, os agentes biológicos são incorporados ao solo de plantio, pois reduzem o estresse nos microrganismos por evitarem o contato com os demais produtos químicos utilizados no tratamento dos toletes ou mudas pré-brotadas da cana.
Além disso, favorecem de imediato entrarem em contato direto com o solo – que é um ambiente favorável para desenvolvimento destes organismos.
Informação adicional
Vale ressaltar que diversos trabalhos científicos destacam que a presença de B. subtilis e Trichoderma spp. no solo proporcionou redução na reprodução de fitonematoides na raiz da cana-de-açúcar, apesar de o mecanismo de controle ainda não estar muito claro.
Pode-se afirmar que o controle biológico da meloidoginose em cana-de-açúcar com B. subtilis é uma alternativa promissora para compor programas de controle integrado do parasita no solo.
Por serem produtos biológicos, deve-se tomar alguns cuidados no armazenamento, preparo e na aplicação dos mesmos: O preparo da calda com os biológicos deve ser feito no dia da utilização e a aplicação deve ser feita à tarde, em condições de alta umidade relativa.
A dose dos biológicos a ser aplicada varia com a cultura, com o tipo de solo, condições climáticas, de modo que esta deve ser recomendada por um agrônomo, especialista na área.