Jéssica Rodrigues Dalazen
Engenheira agrônoma, mestra e doutoranda em Biodiversidade – Universidade Federal de Rondônia (UNIR)
jessica_dalazen@hotmail.com
Fábio Luiz Partelli
Professor – Universidade Federal do Espírito Santo (CEUNES/UFES)
partelli@yahoo.com.br
A pimenta-do-reino, uma das especiarias mais antigas conhecidas, por ser uma planta de origem tropical, encontrou no Brasil condições ideais para o seu desenvolvimento e tem ganhado o gosto dos produtores brasileiros.
O cenário mundial do cultivo da pimenta-do-reino apresenta resultados positivos. Segundo o International Pepper Community (IPC), no ano de 2017 a produção mundial apresentou um aumento de 18% em relação ao ano anterior, contudo, a área total sob cultivo reduziu 1,26%.
O aumento da produção foi proeminente no Brasil, na Índia, no Sri Lanka, no Vietnã e em Camboja. No período de 2010 a 2015, o preço da pimenta atingiu valores históricos, chegando a R$ 30,00 o quilo, o que motivou muitos produtores a investir no cultivo dessa especiaria. Segundo dados do IBGE, de 2015 a 2017 a área destinada à cultura cresceu 28% – em 2017 a área colhida foi de 28.254 mil/ha e a produção foi de 78.670 mil/ton.
Em 2017, o montante movimentado com as exportações brasileiras alcançou US$ 274 milhões, enquanto os valores da exportação mundial ultrapassaram a casa dos US$ 2 bilhões.
Regiões
No Brasil, as principais regiões produtoras são o Pará, maior produtor nacional até 2016, e o Espírito Santo, que em 2017 assumiu a liderança, tornando-se, pela primeira vez, o maior produtor de pimenta-do-reino do Brasil, sendo responsável por 47,76% da produção brasileira.
Esse acontecimento está diretamente relacionado com a produtividade obtida pelo Espírito Santo na safra de 2017, de 3.874 quilos por hectare, enquanto a média nacional, no mesmo período, foi de 2.784 quilos por hectare. Estes números são reflexos do maior aparato tecnológico empregado nas lavouras capixabas, onde aproximadamente 80% da área plantada com esta cultura dispõe de sistema de irrigação e é bem adubada e manejada.
Contudo, o aumento acentuado da produção dessa especiaria para atender a demanda mundial teve reflexos nos preços de venda dos produtos, o que vem preocupando os produtores brasileiros.
Atualmente, o valor pago pelo quilo do produto está bem abaixo do esperado, próximo a R$ 7,00. Para que a produção seja considerada sustentável, o valor líquido do produto deveria ser de aproximadamente R$ 10,00 por quilo, e com isso o custo de produção tem aumentado. Para amenizar os efeitos dessa crise, o produtor deve buscar alternativas de manejo para reduzir o custo de produção.
Plantio
A escolha da área para implantação da lavoura deve ser realizada com base nas características do clima e do solo. Em regiões onde o regime de chuva não é bem distribuído ao longo do ano, o ideal é optar pela utilização de um sistema de irrigação, de preferência localizada.
Deve-se optar preferencialmente por áreas com topografia plana ou suave ondulada, com lençol freático profundo e solos arenoargilosos para facilitar a infiltração da água e evitar alagamentos.
Sabendo que as plantas de pimenta-do-reino são exigentes em nutrientes, deve ser realizada a correção da acidez e a adubação, quando acusada a necessidade pela análise química do solo. Dessa forma, é imprescindível a realização da análise de solo da área antes do plantio e é importante que a amostragem do solo seja realizada de acordo com o procedimento padronizado.
Como se trata de uma planta trepadeira, faz-se necessário o uso de tutores para dar suporte e amparar seu crescimento, que geralmente são estacas de madeira ou pilares de concreto com cerca de 3 a 3,2 metros de altura, enterrados a uma profundidade de 0,5 m.
Os espaçamentos mais utilizados são 2,5 x 2,0 m (2.000 plantas/ha), 2,5 x 2,5m (1.600 plantas/ha) e 3,0 x 2,0 m (1.600 plantas/ha). Após a implantação dos tutores na área é realizada a abertura das covas, nas dimensões de 40 x 40 x 40 cm, abertas na posição do sol nascente em relação aos tutores, com antecedência de 30 a 60 dias do plantio, e adubar com 10 litros de matéria orgânica.
Mudas
O plantio das mudas é geralmente realizado no início da estação chuvosa. As mudas são plantadas com uma leve inclinação, voltadas para o tutor. Nos primeiros 15 dias após o plantio elas devem ser protegidas da insolação com folhas de palmeiras.
Enquanto as pimenteiras não atingirem o topo do tutor, deve ser realizado o amarrio dos ramos de crescimento junto ao tutor com o auxílio de fita plástica, para facilitar a fixação das raízes adventícias da planta jovem ao tutor e evitar seu tombamento.
Quando o ramo de crescimento atingir o topo do tutor deve-se realizar a poda da gema terminal. A partir do segundo ano, as plantas de pimenta-do-reino iniciam a produção comercial.
Para garantir bons resultados na lavoura é importante a aquisição de mudas sadias, evitar o plantio em áreas com histórico de ocorrência de fusariose e nematoides, utilizar sistema de irrigação que possibilite uso eficiente da água, fazer o monitoramento fitossanitário e análises de solo e foliar regularmente.
Para o controle das plantas daninhas, recomenda-se o uso de plantas de cobertura e/ou controle químico com herbicidas. A capina com enxada deve ser evitada, devido ao sistema radicular da pimenteira ser muito superficial.
O uso de plantas de cobertura na entrelinha é uma prática que proporciona controle efetivo sobre as plantas daninhas. Essa prática consiste basicamente no plantio de forrageiras na entrelinha (exemplo: braquiária) da cultura e posteriormente o manejo do corte. Entretanto, é indispensável realizar o coroamento das plantas, evitando a competição com as plantas daninhas, podendo ser realizado pela aplicação de herbicidas.
Controle de pragas
Apesar do potencial inseticida apresentado pela cultura, alguns insetos, como: besouros, pulgões, cochonilhas e ácaros podem provocar danos em diversas partes da planta. As principais doenças da cultura da pimenta-do-reino são provocadas por fungos, como: podridão-das-raízes e podridão-do-pé. Os sintomas dessas doenças caracterizam-se pelo amarelecimento da parte aérea e apodrecimento da raiz, culminando com a morte da planta. É importante também ressaltar que o período chuvoso favorece a multiplicação do patógeno.
Não existe controle químico que seja eficiente no controle de ambas as doenças, nem mesmo variedades resistentes. Dessa forma, devem ser adotadas algumas medidas para o controle preventivo, tais como: seleção de novas áreas longe de plantios doentes; utilizar mudas oriundas de plantas sadias e tratadas com fungicida sistêmico; matéria orgânica curtida na cova; mergulhar as tesouras de poda em solução fungicida antes de passar para a próxima planta; não efetuar capinas, principalmente quando a planta estiver formada; e evitar o encharcamento das áreas de plantio.
Caso as medidas preventivas não tenham sido suficientes para a prevenção da lavoura e a doença se manifeste, deverá imediatamente ser feita a retirada das plantas infectadas e a destruição dos restos vegetais, para que a doença não se dissemine para as outras plantas.
A queima-do-fio e a antracnose também são doenças fúngicas comuns nos pimentais, mas não chegam a causar perdas significativas de produção, e podem ser controladas por meio aplicações de fungicidas. Dessa forma, são consideradas de menor importância.