Marcos Roberto Ribeiro-Junior
Engenheiro agrônomo e doutorando em Agronomia/Proteção de Plantas – UNESP
marcos.ribeiro@unesp.br
Daniele Maria do Nascimento
Engenheira agrônoma e doutora em Agronomia/Proteção de Plantas – UNESP
Adriana Zanin Kronka
Engenheira agrônoma, doutora em Agronomia/Fitopatologia e professora – UNESP
Segundo a Associação Brasileira da Batata, a pinta-preta é uma das doenças que tem se destacado pela alta incidência com que vem ocorrendo nas principais regiões produtoras de batata, sendo considerada hoje a segunda doença de maior importância econômica nesta cultura.
Em torno de até 20% dos gastos com fungicidas foliares são voltados para o controle deste patógeno. Alguns pesquisadores atribuem a crescente importância dessa doença às mudanças climáticas, que cada vez mais proporcionam as condições ideais ao desenvolvimento do fungo. Em regiões com altas temperaturas e umidade, perdas de até 70% já foram registradas.
Causas
Até 2009, apenas Alternaria solani era reconhecida como agente causal dessa doença, mas hoje sabe-se que outras espécies do gênero, como A. alternata e A. grandis também vêm sendo associadas à pinta-preta, essa última espécie demonstrando maior agressividade e maior prevalência nas regiões produtoras.
No campo, enquanto as epidemias causadas por A. solani têm início aos 40-45 dias após a emergência, aquelas causadas por A. grandis iniciam-se mais cedo, ocorrem com maior intensidade e rapidamente destroem toda a área foliar. Alternaria alternata, por sua vez, é menos agressiva, sendo sua ocorrência geralmente associada a uma das outras duas espécies.
A doença ocorre com maior frequência em plantios de verão, onde são registradas altas temperaturas e umidade relativa, mas A. grandis tem um enorme potencial destrutivo até mesmo em períodos mais secos.
Disseminação
Alguns fatores relacionados a sua disseminação e sobrevivência dificultam o manejo da Alternaria na lavoura. O fungo é facilmente disseminado pela ação do vento, água da irrigação ou da chuva. Além disso, possui uma ampla gama de hospedeiros, e plantas daninhas como buva, mentrasto, vinagreira, fisális, entre outras, abrigam o patógeno na ausência da cultura principal.
Cultivos sucessivos de batata também agravam a incidência do patógeno na área de cultivo. Na entressafra, Alternaria spp. sobrevive no solo ou em restos culturais, na forma de clamidósporos, esporos ou como micélio.
Sintomas
Os sintomas são os mesmos, independente da espécie associada à doença. Apenas no laboratório, com o auxílio de um microscópio óptico, é que podemos observar diferenças em relação ao tamanho e morfologia dos conídios. Alternaria solani apresenta conídios ovais, assim como A. grandis – a diferença é que nesta última espécie, os conídios são bem maiores. Já os conídios de A. alternata têm o formato de clava ou pera invertida.
Esse fungo ataca toda a parte aérea das plantas, reduzindo significativamente a produtividade. Os sintomas se iniciam nas folhas mais velhas. São pequenas lesões, entre 1,0 a 2,0 mm, de coloração escurecida, que crescem e adquirem um formato ovoide, sendo delimitadas pela nervura das folhas.
A evolução da doença no campo ocorre tanto pela expansão das lesões mais velhas, que atingem áreas consideráveis da folha, apresentando necroses, como pelo aparecimento de novas lesões. Os mesmos sintomas são observados nos pecíolos e vagens.
Em ataques mais severos, ocorre intensa redução da área foliar, produzindo tubérculos menores e, consequentemente, afetando a produtividade da batateira.
A infecção dos tubérculos raramente ocorre, mas quando acontece, a batata apresenta lesões escuras de formato circular e deprimida, podendo manifestar uma podridão seca.
Manejo da pinta-preta
Para obter sucesso no manejo dessa doença, deve-se lançar mão de várias estratégias, que começam pela escolha da área de plantio. Áreas sujeitas ao acúmulo de umidade e baixa circulação de ar devem ser evitadas, por proporcionarem condições ideais para ocorrência do fungo.
A adubação também desempenha um papel fundamental no manejo de doenças. Plantas com deficiência de nitrogênio, por exemplo, são mais suscetíveis à infecção. Uma adubação equilibrada com os principais macro e micronutrientes, assim como a matéria orgânica do solo, podem aumentar o vigor das plantas e minimizar os sintomas da doença.
Rotação de culturas com plantas não hospedeiras é outra prática recomendada, evitando-se, principalmente, o plantio sucessivo com solanáceas. É interessante ressaltar que a pinta-preta também ocorre no tomateiro, onde é responsável por grandes perdas.
Possíveis fontes de inóculo de Alternaria spp. devem ser eliminadas, como plantas daninhas, restos culturais e tubérculos remanescentes no campo. Os tubérculos doentes também devem ser prontamente descartados durante o processo de lavagem e classificação.
Controle químico
Ainda que existam variedades resistentes à doença, em regiões favoráveis ao desenvolvimento do fungo, é necessário aplicar fungicidas para garantir boas produtividades.
São 215 produtos registrados no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) para o controle da pinta-preta na batateira, à base dos grupos químicos das acetamida, anilida, carbamato, dicarboximida, ditiocarbamato, estrobilurina, fenilpiridinilamina, isoftalonitrila, oxazolidinadiona, triazol, alinamida carbamato e os inorgânicos (oxicloreto de cobre, óxido cuproso e hidróxido de cobre).
Até mesmo um fungicida bioquímico, à base de extratos de raízes e caules de Reynoutria sachalinensis encontra-se registrado para uso. Esse produto atua pela indução de mecanismos naturais de defesa das plantas, devendo ser aplicado preventivamente.