Harleson Sidney Almeida Monteiro
Engenheiro agrônomo, mestre e doutorando em Agronomia/Horticultura – UNESP
harleson.sa.monteiro@unesp.br
Sinara de N. Santana Brito
Engenheira agrônoma, mestra e doutoranda em Agronomia/Horticultura – UNESP
sinara.santana@unesp.br
Antonia B. da Silva Bronze
Doutora em Ciências Agrárias, Pró-reitora de Extensão e professora de Fruticultura e Olericultura – Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA)
antonia.silva@ufra.edu.br
A pinta-preta (Phyllosticta citricarpa), causada por Guignardia citricarpa, uma relevante fitopatologia de origem fúngica, representa um desafio substancial para a fruticultura brasileira, uma vez que que se dissemina rápido entre os pomares.
Os sintomas associados à pinta-preta incluem a presença de manchas escuras nas superfícies foliares, caules e frutos, que evoluem para áreas de necrose mais extensas, comprometendo a integridade dos tecidos vegetais. Este processo resulta na abscisão prematura dos frutos, impactando de forma negativa tanto a quantidade quanto a qualidade dos frutos produzidos.
Pelo Brasil afora
De acordo com o levantamento realizado pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) no ano de 2023, a doença foi identificada em 14 estados brasileiros produtores da cultura citrícola.
A doença se encontra nas regiões norte: Amazonas e Tocantins; Nordeste: Bahia e Pernambuco; centro-oeste: Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul; sudeste: Espírito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo; e sul: Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina.
Ela ataca principalmente plantas velhas e sob estresse hídrico e nutricional, e sua disseminação é favorecida por meio de mudas contendo o fungo, podendo dispersar a doença para áreas livres da doença.
Outra forma de propagação é pelo material vegetal, como folhas e ramos de pomares contaminados, que são levados principalmente por caminhões e implementos no período da colheita e vento. Isso porque os esporos do fungo sobre as folhas em decomposição são levados pelo vento para outras plantas do mesmo pomar e de pomares vizinhos.
Danos
Esses sintomas e danos comprometem e impactam a qualidade e o valor comercial dos frutos que são para o consumo in natura, prejudicando diretamente a comercialização, pois os consumidores preferem frutas com aparência perfeita e sadia.
Ainda, interfere na redução e comercialização externa, pois muitos países têm restrições fitossanitárias rigorosas quanto à presença de sintomas de doenças como a pinta-preta, o que pode impedir a exportação de frutas infectadas, além da limitação por determinados produtos químicos.
Prevenção e controle
Com o intuito de tornar os pomares isentos da doença e fortalecer as plantas velhas e sob estresse, são necessárias algumas medidas, como:
– Plantio de mudas certificadas: se faz necessário adquirir mudas provenientes de viveiros certificados;
– Nutrição e sanidade do pomar: plantas de citros que estão gravemente comprometidas por outras doenças devem ser removidas do pomar. Plantas debilitadas geralmente apresentam maior queda de frutos;
– Controle do material que entra no pomar: é necessário o monitoramento da movimentação de pessoas, equipamentos e maquinários dentro do pomar, garantindo a limpeza e remoção de restos vegetais de veículos e materiais utilizados na colheita. As caixas ou recipientes afastados dos pomares ajuda a prevenir a pinta-preta e outras doenças, reduzindo o trânsito de veículos na área;
– Remoção de frutos temporãos infectados antes da florada: frutos que apresentam sintomas podem conter esporos de fungo, que são disseminados para outros frutos, folhas e ramos por meio de respingos de chuva.
Além das medidas supracitadas, são necessárias ações preventivas, cobertura de folhas caídas, remoção ou decomposição das folhas caídas, poda de ramos secos, irrigação (principalmente no inverno) e antecipação da colheita, esse conjunto de medidas, favorecem e ajudam na proteção dos frutos e na disseminação da doença no pomar.
O controle da doença é realizado por meio de fungicidas que sejam eficientes e não selecionem fungos resistentes, à base de carbendazim, mancozebe e tiofanato-metílico. Os fungicidas mais utilizados no controle da pinta-preta são as estrobilurinas e os cobres.
Além da utilização de fungicidas, tem-se utilizado óleos vegetal e mineral no controle da doença, assim como o controle biológico, por meio do Bacillus subtilis (AP3) e Trichoderma harzianum Rifai, apresentando efeitos significativos no controle e avanço da doença, principalmente em sistema de produção de citros orgânico.
Quando controlar
O controle da doença se dá pelos métodos de controle químico e biológico. O momento ideal de entrada com o controle químico é logo após a queda das primeiras parcelas das flores, podendo ser realizado de forma eficiente com duas pulverizações em intervalos de oito semanas.
São recomendadas aplicações com a combinação de triazóis (25g/i.a.) + mancozeb (160g/i.a.) + óleo (0,5%) em 100 litros de água. Outra opção com ação significativa é o oxicloreto de cobre (90g/i.a.) + óleo (0,5%) em 100 litros de água ou ainda o difenoconazole (10g/i.a.) em 100 litros de água – ambos são recomendados pela Embrapa.
Integração de métodos
O controle biológico, para ter eficiência, exige conhecimento sobre os mecanismos de ação dos microrganismos utilizados, se são, por exemplo: parasitismo, competição, antibiose e/ou indução de resistência.
Vale destacar a importância da integração dos métodos de controle cultural, químico, biológico, ambiental e genético. Uma maneira eficiente de reduzir os custos e otimizar o uso de fungicidas é combinar o controle químico da pinta-preta com o manejo de outras doenças fúngicas, a exemplo da verrugose e melanose, sempre priorizando mudas certificadas, nutrição adequada e controle rigoroso de materiais e trânsito no pomar.
Esse manejo integrado contribui para reduzir custos, melhorar o uso de fungicidas e prevenir a resistência fúngica, promovendo a sustentabilidade e a competitividade. Deve-se levar em consideração as mudanças climáticas e as recomendações de controle e aplicação por um engenheiro agrônomo.