Adriano Ferreira Rozado
Doutor e professor da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT)
O armazenamento adequado da produção deve ser tratado como uma questão de segurança nacional. Sua importância reside no fato de que, conduzido adequadamente, a qualidade do produto é preservada, as perdas são minimizadas e ocorre um ponto de nivelamento entre oferta e demanda onde todos sejam beneficiados.
De acordo com o sétimo levantamento de safra 2017/18, realizado pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), estima-se que a produção brasileira de grãos atinja o montante de 229,53 milhões de toneladas para uma área cultivada de 61,38 milhões de hectares (Tabela 1).
Deste montante, as produções totais estimadas para milho e soja são de 88,62 e 114,96 milhões de toneladas, respectivamente, representando 88,7% da produção nacional de grãos.
REGIÃO | ÁREA
(em mil ha) |
PRODUTIVIDADE
(em kg/ha) |
PRODUÇÃO
 (em mil t) |
||||||
Safra 16/17 | Safra 17/18 | Variação (%) | Safra 16/17 | Safra 17/18 | Variação (%) | Safra 16/17 | Safra 17/18 | Variação (%) | |
NORTE | 2,934,9 | 2.984,6 | 1,7 | 3.246 | 3.238 | -0,2 | 9.527,5 | 9.664,7 | 1,4 |
NORDESTE | 7.852,4 | 8.252,5 | 5,1 | 2.319 | 2.325 | 0,3 | 18.206,1 | 19.188,8 | 5,4 |
CENTRO-OESTE | 24.963,6 | 25.281,0 | 1,3 | 4.144 | 4.052 | -2,2 | 103.449,8 | 102.441,2 | -1,0 |
SUDESTE | 5.486,0 | 5.500,7 | 0,3 | 4.221 | 4.207 | -0,3 | 23.157,8 | 23.143,2 | -0,1 |
SUL | 19.652,4 | 19.365,6 | -1,5 | 4.240 | 3.878 | -8,5 | 83.330,2 | 75.092,6 | -9,9 |
BRASIL | 60.889,3 | 61.384,4 | 0,8 | 3.903 | 3.739 | -4,2 | 237.671,4 | 229.530,5 | -3,4 |
Tabela 1 – Comparativo de área, produtividade e produção de grãos para as safras 2016/17 e 2017/18 dos produtos: caroço de algodão, amendoim (1ª e 2ª safras), arroz, aveia, canola, centeio, cevada, feijão (1ª, 2ª e 3ª safras), girassol, mamona, milho (1ª e 2ª safras), soja, sorgo, trigo e triticale
Fonte: CONAB ” 7º Levantamento: Abril/2018.
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Desafio
A armazenagem ainda consiste num desafio para a continuidade do crescimento das safras. No que tange à capacidade estática brasileira, há um déficit muito grande, estimado em 30%. Em outras palavras, está faltando “estrutura“ para estocar adequadamente a produção.
No entanto, a FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura) recomenda que a capacidade estática de armazenagem seja superior a 20% da capacidade de produção, ou seja, para o cenário atual o desejável seria que a capacidade estática de armazenagem estivesse em torno de 275 milhões de toneladas.
Isto reforça a necessidade e a importância da continuidade de investimentos no setor de pós-colheita (em especial na armazenagem de grãos), tendo em vista o crescimento da produção e a competitividade do agronegócio brasileiro nos cenários nacional e internacional.
Estruturas de armazenagem
Há cinco anos, durante o lançamento do Plano Agrícola e Pecuário referente à safra 2013/14, foi anunciado o Plano Nacional de Armazenagem em que, na ocasião, foram previstos investimentos da ordem de R$ 500 milhões na rede pública de armazenamento.
Deste montante, 70% deveriam ser destinados à construção de novas unidades armazenadoras e 30% na reforma das unidades já instaladas. Para a iniciativa privada, a previsão de investimentos foi da ordem de R$ 25 bilhões para construção de novas instalações para armazenagem de grãos.
As linhas de crédito e de apoio à implantação de sistemas de armazenagem de grãos continuam para o Plano Agrícola 2018/19. Tecnicamente, os produtores que armazenam sua produção na fazenda possuem vantagens operacionais e estratégicas.
Em contrapartida, aqueles que, por falta de condições, não podem armazenar sua produção na própria fazenda, se veem obrigados a transportar e comercializar seus grãos no pico de safra.
Atualmente, no Brasil, menos de 16% dos produtores armazenam a sua produção na fazenda. Entretanto, em países como os Estados Unidos, mais de 70% dos produtores possuem estruturas e suporte técnico que possibilitam armazenar a produção em nível da fazenda.
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Vantagens de armazenar na fazenda
Ao possuir estrutura física e assistência técnica para armazenagem da produção, o produtor pode reduzir os custos operacionais em todas as etapas (antes, durante e, neste caso, na pós-colheita), além de permitir melhores condições físicas e técnicas de preservação da qualidade do produto.
Exemplificando, sobre a redução de custos para colheita e transporte podemos simular a colheita de grãos de milho com a umidade inicial em torno de 22% (ou no ponto de sua maturidade fisiológica) e será seco e armazenado com 13,0%:
- a) Para esta simulação, a cada 1.000 kg de grãos com umidade inicial de 22% serão descontados 103,4 kg decorrentes da quantidade de água em excesso que será retirada na secagem, até chegar aos 13% de umidade para uma armazenagem segura;
- b) Analogamente, se o produtor percorrer longas distâncias para “entregar“ a sua produção úmida fora da fazenda, ele estará gastando para transportar aqueles grãos com água em excesso e, no momento da venda, será submetido ao desconto referente ao excesso de umidade também (de 22 para13%), ou seja, o produtor gasta para transportar essa água por longas distâncias e também sofre o desconto pelo excesso de umidade.
Enquanto que, estando o sistema de armazenagem na fazenda, tais deslocamentos seriam reduzidos e a permanência nas grandes filas de espera das unidades coletoras, dentre outros fatores, seriam eliminados ou, pelo menos, minimizados em razão da logÃstica implantada, individualmente, por cada produtor.
Vale ressaltar que no pico da safra os valores de frete praticados tendem a ser mais elevados.
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