Autores
Emerson Trugilho – Doutor e professor de Produção Vegetal – IF Goiano – Morrinhos – emerson.trogello@ifgoiano.edu.br
Giovana Cândida Marques – Graduanda em Agronomia – IF Goiano – Morrinhos
Lucas Luis Faustino – Pós-doutorando – IF Goiano – Morrinhos
Alcir José Modolo – Doutor em Engenharia Agrícola e professor – Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR)
José Geraldo Mageste – Engenheiro florestal, Ph.D e professor – UFU/ ICIAG
Nenhuma planta, cultivada ou não, tem todo o seu potencial produtivo extraído a campo. Invariavelmente ocorrem perdas de produtividade, e estas se devem a inúmeros fatores, os quais o produtor não consegue controlar (precipitação, temperatura, fotoperíodo, radiação incidente, vento, granizo, etc.), restando ao mesmo a escolha do material e época certa de semeio/transplantio, o controle da adubação conforme exigências de correção e manutenção, os tratos culturais que visam minimizar o impacto dos fatores bióticos, como doenças, pragas e plantas daninhas, controle de colheita e pós-colheita, entre outros manejos inerentes à atividade agrícola.
É preciso salientar que o controle dos fatores bióticos, como doenças, pragas e plantas daninhas não eleva a produtividade das culturas a campo, mas sim, protege o potencial produtivo a ser atingido.
Interferência direta
As plantas daninhas em si exercem inúmeras interferências nas mais variadas culturas, como depreciação do produto, alelopatia, diminuição do rendimento operacional em variados manejos, etc. A competição, entretanto, é o principal dano observado, pois as plantas daninhas necessitam, basicamente, dos mesmos recursos que a planta cultivada (independente de qual planta cultivada seja e em qual ambiente produtivo esteja inserida).
Desta forma, os recursos disponíveis no ambiente serão passiveis de competição. Ainda, podemos afirmar que o recurso disponível em menor quantidade será o de maior competição. Ou seja, em períodos de baixa precipitação, por exemplo, a água tende a ser o recurso mais escasso e mais suscetível à competição.
O mesmo ocorre quando temos baixos teores de N, P, K, luz e espaço, etc. Nas culturas florestais, podemos adicionar ainda um novo e importante risco inerente às plantas daninhas, que é o maior risco de incêndios.
Na ponta do lápis
O grau de interferência da comunidade de plantas daninhas sobre a cultura de interesse depende de alguns fatores, que devem ser levantados e analisados antes de qualquer tomada de decisão quanto ao controle. Algumas perguntas devem ser realizadas referentes à cultura, planta daninha, ambiente e período de convivência.
Ü Cultura: Qual arranjo de plantas? Qual espécie foi implantada? Esta espécie é adaptada àquele ambiente? Quais as necessidades da espécie? Como é o crescimento e desenvolvimento da mesma?
Ü Plantas daninhas: Qual a distribuição da comunidade infestante na área? Quais as espécies presentes em maior abundância? Qual o estádio de desenvolvimento da mesma? Como está o banco de sementes de plantas daninhas na área? Qual o potencial impacto da comunidade sobre a cultura de interesse? Qual a dinâmica da população de plantas daninhas ao longo do cultivo florestal?
Ü Ambiente: Como está o solo, em todos os sentidos (estrutura, capacidade de infiltração, fertilidade, etc.)? Como é o clima da sua área? Qual o manejo a ser empregado e o histórico de manejo? Período de convivência: Qual a época que a cultura e plantas daninhas estarão em convívio? Qual a duração do convívio? Qual o grau de interferência da planta daninha sobre a cultura durante este convívio?
Impacto
São inúmeras as perguntas a serem respondidas, e todas as respostas podem levar a novas perguntas. É extremamente importante, no entanto, saber quais as plantas daninhas presentes e qual o potencial de impacto das mesmas.
Ainda, saber como lançar mão de manejos que favoreçam a cultura em detrimento à espécie invasora. Sendo assim, uma simples adubação localizada pode ser considerada um manejo de controle de plantas daninhas, uma vez que a cultura terá acesso mais facilitado ao nutriente e a ganhar vantagem competitiva.
Cuidados, fase a fase
A interferência imposta pelas plantas daninhas é mais severa na fase inicial de crescimento, do plantio até cerca de um ano de idade do povoamento florestal (a depender da espécie), devido à sensibilidade à competição imposta pelas plantas daninhas.
Após essa fase inicial, o sistema florestal estará bem estabelecido no ambiente e o fechamento das copas (a depender do arranjo florestal) dificultará o crescimento das plantas daninhas, e assim a concorrência será dominada pela cultura em vez da vegetação espontânea.
Fica claro que o período total de prevenção à interferência de plantas daninhas depende, em grande parte, do manejo imposto pelo silvicultor, ou seja, se lançar mão de manejos que proporcionem um rápido desenvolvimento das plantas cultivadas (arranjo de plantas adequado, manejo de solo, escolha de espécie adaptada, controle de formigas, etc.), menor será o período de interferência das daninhas, uma vez que a cultura rapidamente se sobressairá.
Para o sucesso na implantação de florestas, qualquer medida de manejo das plantas daninhas que apresente o objetivo de favorecer o desenvolvimento das plantas florestais é importante. O controle eficaz de plantas daninhas garante maior produção por unidade de área, devido à menor competição interespecífica existente entre cultura e planta daninha. Cada cultivo apresenta peculiaridades referentes ao momento de controle e a capacidade de suporte do cultivo à pressão de plantas daninhas.
Manejo integrado
É de suma importância definir que o controle de plantas daninhas na área não deve ser embasado única e exclusivamente no controle químico, mas deve ser cercado de ações que visem minimizar o impacto das mesmas nos cultivos agrícolas.
Evitar a entrada de plantas daninhas na área, por exemplo, caracteriza o controle preventivo, e para algumas plantas daninhas, como a grama seda (Cynodum dactylum), a qual se dissemina principalmente por raízes seminais levadas para outras áreas por meio de maquinários, é de fácil utilização.
Outra forma de reduzir o impacto das plantas daninhas é realizar o controle cultural, que busca formas de privilegiar a cultura em detrimento da planta daninha, melhorar o arranjo espacial da cultura, adubar em linha, controlar de forma eficaz as pragas e doenças. Entre outras ações, visa também aumentar a capacidade competitiva da cultura, em detrimento da planta daninha.
Assumir a utilização de plantas de cobertura, em determinados cultivos arbóreos, também é optar por minimizar o impacto de plantas daninhas, uma vez que a camada de palha muitas vezes impede a germinação e emergência de plantas daninhas.
Desta forma, o produtor rural deve se cercar de vários métodos de controle de plantas daninhas, para assim reduzir a dependência do controle químico e aumentar a vida útil dos mecanismos de ação dos herbicidas.
Controle em faixas
O manejo das plantas daninhas em áreas florestais, com o controle em faixas, é usualmente utilizado, principalmente pelo seu rendimento operacional e residual de alguns herbicidas.
Dentre os herbicidas usualmente utilizados, destacam-se herbicidas seletivos que visam residual no solo, como o oxyfluorfen e herbicidas não seletivos, de pós-emergência de plantas daninhas e que devem ser aplicados de forma localizada, como o glifosato.
A utilização deste método de controle é amplamente difundida, uma vez que representam redução de mais de 40% dos custos de controle, quando comparado ao método de coroamento realizado no manejo mecânico.
Atenção
Entretanto, a utilização dos herbicidas deve sempre ser pautada em parâmetros técnicos, e qualquer eventual equívoco na utilização deste mecanismo de controle pode representar sérios danos as culturas.
Quando da utilização de herbicidas que têm por objetivo o residual em solo, é extremamente importante entender o comportamento do herbicida no solo, suas características físico-químicas, o tipo de solo que estamos trabalhando (textura, matéria orgânica, pH), a umidade presente neste solo antes, durante e após a aplicação, a seletividade do herbicida e o seu potencial de residual no solo, uma vez que a cultura florestal geralmente apresenta um período total de prevenção à interferência relativamente longo, devido ao seu reduzido crescimento inicial, seu espectro de controle e a sua melhor tecnologia de aplicação.
Quando da utilização de herbicidas pós-emergentes não seletivos, deve-se atentar para o potencial de dano por deriva, características físico-químicas que possam favorecer a deriva do produto, formas de aplicação localizada, condições ambientais antes, durante e após a aplicação, tecnologia de aplicação, entre outras.
As mesmas perguntas devem ser feitas quando da utilização de herbicidas pós-emergentes seletivos. É notório, assim, que a utilização do controle químico é eficiente, barata e de ampla utilização, porém, demanda um maior conhecimento técnico para sua utilização.
Alguns métodos empregados no controle da comunidade infestante podem afetar as espécies florestais e constituem outro fator de interferência, o qual chamamos de interferência indireta. Como exemplo, temos o controle mecânico realizado com grade e roçadeira, o qual pode causar danos ao sistema radicular das espécies florestais.
Outro dano seria a fitotoxidade de herbicidas não seletivos utilizados no coroamento das espécies a campo. Muitas vezes esta fitotoxidade trava o desenvolvimento da planta e leva a um menor incremento médio ao longo dos primeiros anos de cultivo.
Dinâmica das daninhas
Deve-se sempre ter em mente, no entanto, que é fundamental conhecer a dinâmica das plantas daninhas em sua área, conhecendo as mesmas, é fundamental utilizar várias ferramentas de sua caixa de controle de plantas daninhas, focando em métodos de controle preventivo, físico, cultural, mecânico e também, mas não exclusivamente, o controle químico.
O melhor controle de plantas daninhas sempre se faz com métodos integrados de controle e com a inserção do fator humano sempre presente. Capricho talvez seja, ainda, a melhor forma de se controlar plantas daninhas em qualquer cultivo.