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Porta-enxerto com adensamento em citros

Aumentar a densidade do plantio funciona melhor com porta-enxertos mais produtivos.

Estudos conjuntos entre a Embrapa e o Fundo de Defesa da Citricultura (Fundecitrus) mostram que a associação de adensamento de pomar, com maior quantidade de planta por hectare, a porta-enxertos – variedades que correspondem à parte radicular da planta de citros – mais produtivos tem grande potencial de promover a economia de terra na citricultura.

Trabalho publicado na Agronomy, revista científica editada pela plataforma Multidisciplinar Digital Publishing Institute (MDPI), aponta que, no maior nível de adensamento utilizado nos experimentos (mil plantas por hectare), um porta-enxerto vigoroso (mais produtivo) e outro semiananicante (que reduz o tamanho da copa em até 40%) aumentaram a eficiência da terra em 64% e 21%, respectivamente, até oito anos de idade do pomar, quando comparados com a produtividade média atual do Estado de São Paulo.

Mesmo com adensamento intermediário (696 plantas por hectare), o ganho de eficiência pode chegar a 45%. No entanto, a técnica exige uma série de cuidados pelo produtor.

Como foram realizadas as pesquisas

A variedade copa (parte aérea da planta de citros) utilizada foi a Valência, uma das mais adotadas pela indústria de suco. Os experimentos abarcaram cerca de 2 mil plantas em três hectares, com plantio em fevereiro de 2012 e irrigação por gotejamento a partir de outubro de 2018. Foram testados três níveis de adensamento.

O menor abrangia 513 plantas por hectare (6,5 m entre linhas de plantio x 3 m entre plantas na linha de plantio), número próximo à média atual em São Paulo. O segundo nível ficou em 696 plantas por hectare (5,75 m x 2,5 m), ou seja, quase 50% mais adensado, e o último, mil plantas por hectare (5 m x 2 m), praticamente o dobro da média hoje do estado. Isso foi combinado com quatro variedades de porta-enxerto.

Foram selecionados o citrumelo Swingle, porta-enxerto mais usado hoje em São Paulo; o citrandarin IAC 1710, porta-enxerto ainda mais vigoroso que o Swingle e que vem sendo utilizado no estado em pequena escala; outro citrandarin, o IAC 1697, planta semiananicante, ou seja, menos vigorosa que o Swingle; e um porta-enxerto ananicante, o citrumelo tetraploide (indivíduo que possui quatro cópias de cada cromossomo; normalmente os citros possuem duas cópias de cada cromossoma), uma variação genética do Swingle.

Densidade maior funciona melhor

Os resultados até o momento indicaram que o adensamento reduziu o tamanho das plantas (foi usada a mesma adubação por metro linear para todos os tratamentos). Isso acontece porque elas competem mais entre si na área por adubo, água e sol.

“Quando comparado o adensamento de mil plantas por hectare com o de 513 plantas por hectare, a produção por planta foi 35% menor. Porém, como há 54% mais volume total de plantas ocupando a mesma área, acaba-se produzindo mais no conjunto das plantas. Então, nas sete safras iniciais [2014 a 2020], a produção acumulada por hectare foi, em média, 27% maior em função do maior adensamento adotado”, informa Girardi.

O pesquisador ressalta que o desempenho do sistema adensado muda em função do porta-enxerto. Por exemplo, o IAC 1710, que é o mais vigoroso, teve uma produção acumulada por planta 23% maior do que o comercial (Swingle) e duas vezes e meia maior do que o Swingle tetraploide (nanico), na média dos adensamentos estudados.

Então, apesar de ser uma planta grande, que precisa de poda e dificulta as pulverizações fitossanitárias no adensamento, como ele é muito produtivo, foi muito superior ao ananicante. “Observamos que a planta nanica resultou em menor produtividade do que os demais porta-enxertos em qualquer adensamento até oito anos. Comparado ao Swingle comercial, a seleção tetraploide reduziu tanto o tamanho da copa como a produção por planta em cerca de 50%: o Swingle comum produziu 70 kg por planta no espaçamento tradicional, enquanto o tetraploide 31 kg”, explica.

Embora o adensamento a mil plantas por hectare tenha elevado ao potencial de 27% de ganho em relação ao pomar de 513 plantas por hectare até oito anos, o porta-enxerto conseguiu ser mais determinante para a produtividade em igual período, mesmo sem alterar outros aspectos do manejo da cultura.

“Os porta-enxertos mais vigorosos tiveram produtividade muito maior do que o ananicante; então, em curto prazo, é mais vantajoso para o produtor trabalhar com as variedades vigorosas hoje já disponíveis, mesmo que decida por não adensar muito o seu pomar”, ressalta.

Quanto ao indicador relacionado à eficiência do uso da terra, a pesquisa mostrou que o adensamento de mil plantas por hectare melhorou em 22% o uso da terra, produzindo mais frutos por área comparado à produtividade média no estado de São Paulo entre 2014 e 2020 (cerca de 32 toneladas por hectare), até o oitavo ano de vida do pomar, independentemente do porta-enxerto usado.

Mas, como já salientado pelo pesquisador, o porta-enxerto se revela mais importante do que o adensamento: o IAC 1710, muito produtivo, aumentou a eficiência da terra em 46% nesse mesmo período, independentemente do adensamento, comparado com a média do estado. Se usado no maior adensamento, esse ganho potencial chegou a 64%.

Já o citrandarin IAC 1697, semiananicante, resultou em 21% de ganho, enquanto o nanico só se equiparou à média do estado se usado no maior adensamento.

Importância para a citricultura

O gerente-geral do Fundecitrus, Juliano Ayres, um dos autores do trabalho, afirma que os resultados de campo indicam que o produtor pode manter uma boa densidade de plantio com mais espaço entre linhas e reduzindo o espaçamento entre plantas, por exemplo, adotando uma densidade equilibrada de 7,0 m x 2,5 m, facilitando muito as operações no pomar e com ótima produtividade.

Já com os porta-enxertos ananicantes e variedades copa de menor porte, como a Folha Murcha, pode-se pensar em reduzir mais o espaçamento”, enfatiza Ayres. Mas, segundo ele, o manejo correto da poda e o uso da irrigação são fundamentais para quem optar por utilizar o adensamento maior.

Uma estimativa feita pela equipe indica que, se fosse usado esse modelo de pomar, de mil plantas por hectare com o porta-enxerto mais produtivo do que os atualmente utilizados, poderia se reduzir a área do estado de São Paulo com citros praticamente pela metade, em um mundo ideal.

“Isso sinaliza para nós o desafio de viabilizar uma maior densidade de plantio associada a porta-enxertos que sejam muito produtivos, mas menos vigorosos, por ter a questão de poda, pulverização etc. Um modelo assim teria um potencial de aumento de eficiência de uso da terra muito grande”, complementa Girardi.

Agora é preciso comprovar se o benefício de aumento de produtividade nos primeiros anos desses pomares adensados será o mesmo em longo prazo. Logo após a primeira poda, aos oito anos de idade, o volume da copa da laranja Valência sobre o IAC 1710 reduziu em 20% no pomar mais adensado, demonstrando o impacto dessa prática sobre os porta-enxertos mais vigorosos. Nos nanicos, praticamente não houve perda pela poda.

Outro ponto em favor do adensamento é o menor tempo de vida do pomar atualmente. Até alguns anos atrás, um pomar de laranja vivia 25, 30 anos. Hoje, com o HLB, os produtores planejam seus pomares para produzir por menos de 20 anos. “Então, o adensamento se tornou interessante porque é uma forma de se conseguir produzir mais em menos tempo”, indica Girardi.

No entanto, diversos aspectos devem ser considerados antes da sua adoção, como clima, tipo de solo, época de maturação dos frutos da variedade copa, irrigação e, claro, o porta-enxerto.

Em outros experimentos em andamento, a relação de parte desses fatores com a época de poda vem sendo estudada para munir o citricultor de informações úteis para sua tomada de decisão. O adensamento, por exemplo, pode ser priorizado nos talhões de borda das propriedades visando mitigar o impacto da disseminação do HLB.

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