Érika Cristina Souza da Silva Correia
Engenheira agrônoma, doutora em Agronomia e professora – Centro Universitário Sagrado Coração (UNISAGRADO)
erika.correia@unisagrado.edu.br
Cristiane de Pieri
Bióloga, doutora em Proteção Florestal – UNESP e especialista em Fitopatologia e Entomologia – AgroEfetiva
pieri_cris@yahoo.com.br
A bananeira (Musa spp.) é o fruto tropical mais consumido no mundo e o Brasil é o quarto maior produtor, atrás da Índia, China e Indonésia. Todos os Estados brasileiros produzem banana, com destaque para São Paulo, Bahia, Minas Gerais e Santa Catarina. Porém, a produtividade nacional é baixa, cerca de 15,3 t/ha/ano.
Impedimento à alta produtividade
O baixo rendimento da banana é atribuído, principalmente, a incidência de fitonematoides em áreas de produção. Dentre eles, destacam-se Radopholus similis, nematoide cavernícola Helicotylenchus multicinctus, nematoide espiralado, Pratylenchus coffeae, nematoide das lesões radiculares, Meloidogyne incognita e M. javanica, nematoides formadores de galhas.
Os juvenis (J2, J3 e J4) e fêmeas do nematoide cavernícola, R. similis, provocam necroses em raízes e rizoma da bananeira devido ao seu processo de alimentação e locomoção nos tecidos do hospedeiro.
Em consequência do ataque, pode ocorrer o tombamento de plantas, à medida que os cachos se aproximam do período da colheita. O nível de dano econômico é de 2.000 nematoides/100g de raízes ou 3% de plantas tombadas.
O nematoide espiralado, H. multicinctus, é o segundo mais importante para a bananicultura em função dos danos causados, sendo encontrado associado a R. similis, nematoide que mais causa prejuízos à cultura.
O nematoide cavernícola, preferencialmente, penetra as raízes mais grossas, provocando pequenas lesões de coloração castanha. Quando a densidade populacional é alta, as lesões coalescem e observam-se necroses superficiais.
Sintomas
Os sintomas provocados pelo nematoide das lesões radiculares da bananeira, P. coffeae, são semelhantes aos causados pelo nematoide cavernícola, isto é, lesões necróticas no córtex das raízes e do rizoma, prolongamento do ciclo vegetativo, redução do porte da planta, do número e peso médio dos cachos, tombamento e menor rendimento por área.
A formação de galhas nas raízes representa sintoma primário do parasitismo de Meloidogyne spp., caracterizadas por reações de hipertrofia e hiperplasia no tecido cortical adjacente ao corpo do nematoide.
As galhas restringem o volume do sistema radicular e dificultam a translocação de água e nutrientes no interior da planta, causando o aparecimento de sintomas secundários na parte aérea, como redução no porte da planta, prolongamento do estádio vegetativo, amarelecimento das folhas, diminuição do tamanho e peso dos frutos.
A infecção ocasionada por fitonematoides predispõe as plantas ao ataque de outros patógenos de solo, como fungos e bactérias. Logo, justifica-se a importância do conhecimento da densidade e da flutuação populacional dos fitonematoides em áreas de cultivo.
A ação parasitária dos fitonematoides também pode causar desequilíbrios nutricionais, não identificados nas análises químicas do solo, o que prejudica a produtividade e contribui para o aumento da utilização de insumos.
Distribuição nacional
Os nematoides parasitas da bananeira estão amplamente distribuídos nas regiões produtoras, sendo encontrados simultaneamente ou isolados. A dispersão ocorre principalmente por material propagativo infectado, máquinas e implementos agrícolas contaminados, escoamento de água, trânsito de pessoas e animais na área de cultivo.
A partir da análise
O manejo integrado de fitonematoides toma como base os resultados da análise nematológica, a qual identifica e quantifica as espécies presentes na área amostrada. A análise nematológica deve expressar a situação real no campo, por isso, é importante que as amostras de solo e de raízes sejam coletadas corretamente e enviadas a um laboratório de nematologia agrícola.
Antes do plantio da bananeira, o produtor deve fazer uma coleta de solo, e que este tenha uma umidade natural, evitando o encharcamento ou ressecamento excessivo. Em plantios já instalados, deve-se coletar o solo das laterais da bananeira, sempre no sentido de condução da planta-filha. Neste caso, também recomenda-se coletar raízes.
A amostragem de solo e raízes deve ser conduzida em camadas de 0 a 20 – 30 cm de profundidade, seguindo um caminho aleatório, em zigue-zague, para uma maior representatividade da área amostrada. É importante dividir a área em quadrantes (1,0 – 2,0 ha, ou no máximo 10 ha) com o mesmo tipo de solo, topografia e histórico de cultivo.
Deve-se coletar uma amostra composta, constituída por 10 a 20 subamostras, Os resultados da análise nematológica serão mais precisos e confiáveis quanto maior o número de amostras compostas e subamostras.
Dicas
As amostras devem ser obtidas de plantas com sintomas moderados, evitando-se aquelas com sintomas em estágio avançado. Em áreas com manchas ou reboleiras, o material deverá ser coletado na área de transição entre as plantas doentes e aparentemente sadias.
As amostras devem ser acondicionadas em sacos plásticos, identificadas com as informações da aérea amostrada e encaminhadas ao laboratório de nematologia agrícola o mais rápido possível. Não deixar as amostras em ambiente aquecido pela exposição solar.
Os métodos de manejo de fitonematoides visam a redução de custos, aumento de produção e sustentabilidade ambiental. Dentre eles, destacam-se o uso de mudas sadias e tolerantes, adição de matéria orgânica, controle biológico, rotação de culturas na renovação do bananal, pousio e aplicação de químicos.
Ressalta-se que o sucesso do manejo está atrelado à identificação correta das espécies fitoparasitas, sua distribuição no solo, biologia, ecologia e parâmetros físico-químicos do solo.
Mudas sadias e a genética
O uso de mudas sadias impossibilita ou dificulta a entrada e o estabelecimento de fitonematoides em novas áreas, por isso a importância da certificação. A tecnologia de produção da bananeira tem a micropropragação como ferramenta de eliminação fitopatógenos e transplante de material vegetal sadio.
Além disso, favorece a uniformidade do estande e a produtividade da cultura.
A resistência genética é a medida mais desejável e eficaz no manejo de fitonematoides devido à compatibilidade com outras estratégias e por não ser prejudicial ao meio ambiente.
Porém, a inexistência de genótipos de bananeira com resistência é o maior desafio dos programas de melhoramento genético da cultura. Comercialmente, existem apenas variedades com diferentes graus de suscetibilidade.
Matéria orgânica
A adição de matéria orgânica em cobertura ou incorporada ao solo vem sendo empregada na agricultura convencional como uma estratégia para diminuir o uso de insumos e aumentar a diversidade da microbiota do solo em detrimento à população de fitonematoides.
A quantidade de matéria orgânica para promover a supressão de fitonematoides em bananeira é variável, dependente das interações patógeno-hospedeiro, das condições edafoclimáticas, da cultura, da identificação e do nível populacional da espécie.
Deve-se, também, conhecer o mecanismo de supressão, a composição química, a concentração de mortalidade e/ou mobilidade para cada espécie de nematoide e o impacto desse material orgânico sobre as propriedades biológicas e físico-químicas do solo.
Controle biológico
O controle biológico tem ganhado destaque dentro do manejo integrado de fitonematoides por ser uma prática sustentável. Atualmente, a indústria tem disponibilizado organismos eficientes na redução dos danos causados por esse patógenos.
Dentre eles, o fungo Pochonia chlamydosporia, que tem como modo de ação a capacidade de parasitas ovos de fitonematoides, além de colonizar o sistema radicular da bananeira, promovendo o crescimento vegetal e a solubilização do fósforo (P).
Rotação de culturas e práticas culturais
A rotação de culturas com plantas não hospedeiras afeta a sobrevivência do patógeno, pelo rompimento do seu ciclo biológico por um período, o qual dependerá da espécie, do nível de infestação e das condições edafoclimáticas.
As plantas não hospedeiras podem ser incorporadas ao solo ou servir de cobertura, porém, seu uso está associado ao custo de implantação, à adaptabilidade da espécie e à aceitabilidade do bananicultor. Sugere-se escolher uma planta que tenha retorno comercial.
Práticas culturais, como a eliminação de restos culturais e a rotação com plantas não hospedeiras, contribuem significativamente para a redução populacional de fitonematoides. A aração do solo também afeta o nível populacional do patógeno, por permitir que os restos de raízes infectadas cheguem à superfície e sejam expostas a dessecação.
Ressalta-se que o manejo mecanizado do solo exige cautela e deve seguir os princípios da conservação de solo.
Durante a renovação dos bananais, a redução da população de nematoides também pode ocorrer através do pousio completo por um período de seis meses a um ano, com a destruição mecânica ou química dos restos culturais do bananal e de toda a vegetação da área.
Contudo, a manutenção do campo limpo por um período prolongado nem sempre é possível. Deve-se analisar a o tipo de solo e a declividade do terreno para não causar erosão.
A aplicação de produtos químicos representa outra alternativa difundida entre os bananicultores. No entanto, o uso indiscriminado de nematicidas, além de onerar a produção, coloca em risco a saúde dos aplicadores e consumidores.
Desta forma, deve-se utilizar somente os produtos indicados e registrados no AGROFIT, que constitui o banco de informações sobre os agrotóxicos e afins registrados no Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA).
Embora os fitonematoides estejam amplamente disseminados e sejam responsáveis por danos expressivos na cultura da bananeira, muitas vezes são confundidos com outras enfermidades ou com problemas de compactação e fertilidade do solo, o que acarreta no negligenciamento e na tomada de decisão tardia quanto ao manejo.
Por isso, a identificação de espécies presentes na área e sua densidade populacional são de suma importância para o sucesso do manejo integrado.