Autor
Aldeir Ronaldo Silva
Engenheiro agrônomo, doutorando em Fisiologia e Bioquímica de Plantas – ESALQ/USP
aldeironaldo@usp.br
Com uma produção de 124,2 milhões de toneladas, a soja movimenta cerca US$ 41 bilhões no ano. O aspecto diferencial da cultura da soja para as demais culturas agrícolas é que a soja produz mais proteínas por hectare de que qualquer outra, características essas que vêm promovendo o rápido crescimento da área de cultivo em todo o mundo. De acordo com a FAO (Food And Agriculture Organization), em 2050 a produção de soja pode chegar a 515 milhões de toneladas.
Nos últimos anos vem aumentando o uso de bioestimulantes na cultura da soja, estes que são produtos biológicos compostos, em grande parte, de substâncias orgânicas, podendo também conter microelementos. Seu uso tem como objetivo melhorar as características nutricionais, fisiológicas e também produtivas das lavouras.
Grande parte dos bioestimulantes comercializados no Brasil são oriundos de extratos de algas, aminoácidos e ácidos húmicos e fúlvicos, dos quais são extraídos componentes como aminoácidos, vitaminas, glucosídeos, microelementos, auxinas, giberelinas, citocininas, laminarinas, ácidos algínicos e betaína.
Cada uma dessas substâncias promove melhorias nos processos metabólicos das plantas, influenciando em processos como integridade da membrana plasmática, absorção de nitrogênio e fósforo, transporte de íons, sinalização de reguladores de estresse, ajustamento osmóticos entre outros processos. Como consequência, as plantas tornam mais tolerantes aos estresses abióticos e bióticos, ou mesmo em situação sem estresse essas plantas apresentam altas taxas de produtividade.
Uma vez que os bioestimulantes possuem capacidade de modificar o órgão da planta, devido à diversidade de seus compostos, os mesmos estão diretamente envolvidos em etapas do crescimento e desenvolvimento vegetal, apresentando como benefícios: promoção do desenvolvimento radicular; aumento no crescimento vegetativo; melhoria na floração e pegamento do fruto; aumento no ganho de massa dos frutos e dos grãos.
Assim, o uso de hidrolisados de proteínas e algas é considerado uma ferramenta sustentável e eficiente para garantir a estabilidade do rendimento em condições de baixo insumo, em particular na deficiência de N e P (isto é, efeitos de biofertilizantes), mas também como uma tecnologia inovadora para melhorar a tolerância das culturas aos estressores abióticos, em particular temperaturas extremas, seca e salinidade.
Pesquisas
Diversos estudos vêm demonstrando o incremento na produtividade a partir do uso do bioestimulante, apresentando efeito positivo frente à produtividade. Em experimento em um Latossolo Vermelho Distrófico, argiloso, no interior de São Paulo, o uso de bioestimulante aumentou em torno de 37% em comparação com a testemunha, no cultivo da soja.
Em outro estudo, no município de Montividiu (GO), foi obtido um incremento de 3,7 sc ha-1 com o uso do bioestimulante, e na região sul a produtividade média foi de 3.661 kg ha-1, mostrando-se superior à média da região, de 2.637 kg ha-1, no ano de 2014, segundo dados do IBGE.
Grande parte dos estudos apontam incremento médio na produtividade, sendo que a popularidade dos bioestimulantes na agricultura está associada à possibilidade de obter maiores rendimentos, sem a necessidade de interromper a produção de culturas ecológicas.
Todavia, o uso do bioestimulantes pode trazer efeitos positivos e também negativos, em virtude da aplicação via foliar, lembrando que altas concentração tendem a promover efeitos prejudicais. Nisto, alguns erros devem ser evitados, e para isso é necessário a consideração de alguns fatores que influenciam no desempenho do bioestimulante, tais como tipo da cultura, composição do produto, dosagem, modo e época de aplicação.
Alguns trabalhos demonstram que a aplicação na fase reprodutiva da soja é a mais adequada para a cultura, tendo em vista que aplicações na fase vegetativa promoveram um crescimento vegetativo maior, influenciando diretamente nos gastos metabólicos de manutenção para a planta.
Manejo
O uso do bioestimulante pode ser utilizado no tratamento de sementes, via solo, em sulcos e semeadura, ou também via foliar por meio de pulverizações, sendo esse o mais praticado no Brasil.
Os bioestimulantes contendo substâncias húmicas e compostos de nitrogênio são frequentemente aplicados diretamente no solo, enquanto vários tipos de extratos de plantas e algas marinhas são usados na forma de aplicações foliares.
Outro método refere-se à forma de biomassa ou farinha de algas marinhas, no entanto, esse método tem algumas limitações. Desta maneira, a biomassa e a farinha podem ser usadas em áreas localizadas próximas à fonte de aquisição de algas devido a problemas de transporte.
Além disso, a aplicação do bioestimulante junto com fertilizantes pode contribuir para o alcance do máximo potencial genético da cultura. Todavia, vale ressaltar que essa técnica pode ser realizada desde que não haja interação entre os componentes da formulação, visando a eficácia de todos.
Investimento
Em relação ao custo do uso do bioestimulante, segundo Korndörfer, a aplicação do produto via solo ou foliar pode variar de R$ 40,00 a R$ 60,00/ha, porém, se há aumento na produtividade, como por exemplo na cana-de-açúcar, ocorre um incremento médio de 10 t/ha.
A nível mundial, até 2022 estima-se que o mercado de bioestimulantes movimente US$ 3,29 bilhões, grande parte oriunda do implemento de práticas mais sustentáveis, apresentando menor impacto ao meio ambiente.
No Brasil, este mercado movimenta em torno de R$ 2,0 bilhões, sendo que as primeiras empresas chegaram por aqui na década de 1990. Assim, como perspectivas, o uso de bioestimulantes aparece como uma nova e potencial categoria de insumos agrícolas, complementando agroquímicos, incluindo fertilizantes sintéticos, e melhorando a tolerância a estresses abióticos.