Edy Elaine Biondo Tarrafel teve de assumir a propriedade herdada do pai aos 20 anos. Mesmo sem experiência, conseguiu mudar a realidade, hoje é referência e importante liderança feminina em sua região
Estar à frente de uma propriedade rural exige muito conhecimento, afinal, é preciso ficar sempre de olho no mercado, clima, gerenciar todas as atividades, comprar insumos com os melhores preços, ter pessoas qualificadas para auxiliar e ainda vender a produção no melhor momento para garantir ganhos ao fim do ciclo. Conciliar tudo isso não é tarefa fácil, imagina essa responsabilidade para uma jovem de 20 anos? Assim foi que a produtora, contadora e administradora, Edy Elaine Biondo Tarrafel, em 1998, iniciou sua trajetória no agronegócio, após o falecimento precoce de seu pai.
Hoje quem vê o bom trabalho implantado pela produtora, na Fazenda Naraedy, localizada no município de Ivinhema, interior de Mato Grosso do Sul, entende o seu comprometimento em mudar uma propriedade de família. O local passou de um sistema tradicional para um modelo estruturado e produtivo, referência na região para muitos produtores até tradicionais.
Segundo a produtora, quando seu pai faleceu, ela fazia faculdade de ciências contábeis e morava em Campo Grande. Sua mãe, professora, optou em não assumir os negócios da família, pois se dedicava a sua irmã (Nara) que necessita de cuidados especiais. “Até cheguei a fazer agronomia, mas tive que parar, pois meu pai dizia que para cuidar de fazenda não era preciso fazer esses cursos, pois a profissão de mulher era ser médica, professora, trabalhar em banco”, lembra ela.
Com a partida do pai, a jovem tinha duas alternativas: vender a propriedade ou assumir o negócio. Ela então seguiu o coração e foi na segunda opção. O começo não foi nada fácil, com pouca idade e sem experiência prática no campo, Edy teve que conciliar os últimos anos de faculdade com a gerência da fazenda. “Eu de maneira alguma quis vender, sempre vi o amor que o meu pai tinha pela terra, ele sempre gostou, sempre ensinou do jeito dele, querendo ou não passava um ensinamento”, destaca a produtora.
O primeiro passo foi tomar conhecimento de tudo da fazenda, na época o seu pai trabalhava com o sistema de compra e venda de machos e engorda de bois, por isso a propriedade não era tão estruturada. Como ele viajava muito em função da área que atuava, pouco tempo sobrava para melhorias e ampliações, era uma época para se fazer dinheiro, dizia ele. A par da rotina, o segundo passo foi entender o que precisava ser feito e melhorado, e buscar soluções como cursos de gestão, reforma de pastagens, entre outros.
A ideia inicial era saber o custo de um animal para a fazenda, desde seu nascimento até o abate, para assim entender o que se ganhava nesse ciclo. “Eu fui procurar a Embrapa, o Sindicato Rural e a Federação da Agricultura e Pecuária de MS onde consegui orientações sobre reforma e manejo de pastagem, cursos e capacitações na área de bovinocultura. Participei também de muitos dias de campo, onde a predominância era masculina, mas sempre fui respeitada e nunca tive problema nenhum em perguntar. Assim fui obtendo conhecimento”, diz a contadora.
Negócios diversificados
Com o aprendizado nos cursos, capacitações e com as lições do dia a dia, a produtora percebeu que o modelo de negócio de compra e vendas de animais não era o que queria fazer, afinal, era preciso viajar longas distâncias para achar gado de qualidade e ficar muito tempo longe de casa. Juntamente a isso, ela buscou financiamento para aos poucos ir implantando um novo modelo de negócio. De lá para cá muita coisa mudou, foram feitas reformas, cercas, encanamentos, corredor projetado para ter conforto e bem-estar do gado, melhor manejo e nutrição. Tudo que foi aprendendo foi colocado em prática.
Nos últimos quatro anos, com a fazenda totalmente estruturada, a produtora conseguiu realizar o sonho e passou a se dedicar para a cria. Com a compra de algumas matrizes de genética superior aliado ao bom manejo, Edy vem colhendo bons resultados com a monta natural e cria a pasto. “O nosso planejamento desse ano é colocar um tronco para também começar a fazer inseminação”, adianta.
Além da pecuária, a criadora também implantou na fazenda, a agricultura. Uma parte da área é arrendada para o cultivo de mandioca. O combinado é que o parceiro, após a colheita do tubérculo, geralmente em novembro, entregue a terra já gradeada, com curva e corrigida, pronta para receber a semente de pastagem.
No último ano a produtora comprou os insumos da Soesp – Sementes Oeste Paulista, apostando ainda mais na melhoria dos resultados e melhor uniformidade de suas pastagens. Por conter o tratamento Soesp Advanced as sementes possuem pureza em torno de 98%. Além disso, a alta qualidade do tratamento reduz a aderência das sementes, resultando em uma semeadura bem distribuída e sem falhas.
Outro diferencial é que as sementes já vêm de fábrica tratadas com inseticida e dois fungicidas. Este tratamento segue protegendo o insumo de cupins, formigas, fungos, até sua germinação, dispensando a manipulação de agroquímicos na propriedade. Segundo a produtora, o seu gasto com manutenção diminuiu muito, pois o pasto “não suja”, e é quase 100% limpo, com pouquíssimas pragas. “Economizamos em mão de obra, a formação da pastagem e sua resistência é diferenciada. Quando o pasto é manejado corretamente como nós fazemos não tem erro, o retorno é 100%. A semente pura é outra”, cita Edy.
Preparando o futuro
A família sempre morou na propriedade e atualmente a produtora, que é diretora-tesoureira do Sindicato Rural de Ivinhema e Novo Horizonte do Sul, e Conselheira Administrativa do Sicredi Centro Sul, divide sua rotina entre as tarefas das entidades das quais faz parte e a lida na fazenda. Também já começa a preparar seus filhos para dar sequência aos negócios da família. Embora ainda jovens, João Pedro, de 14 anos, e Maria Luiza, de 16 anos, Edy sempre passa seus ensinamentos e eles já estão acostumados a acompanhar a mãe em eventos, dias de campo, palestras e feiras.
Eles também ajudam ativamente no dia a dia da propriedade quando não estão estudando, gostam de andar a cavalo, auxiliam no manejo do gado, pesagem e demais atividades. “Tudo que é novidade eu os levo para verem, é importante deixar eles preparados para qualquer eventualidade, meu pai não teve essa visão, mas hoje eu quero passar isso aos meus filhos, principalmente minha menina mostrando a ela que o campo também é lugar de mulher”, finaliza.