O visitante que chega à Fazenda
Paraíso dos Profetas, no município de Congonhas, região central de Minas
Gerais, encontra uma propriedade com pastagens verdes, disponibilidade de água,
matas preservadas e atividades diversificadas. O local virou referência nas
redondezas. Porém, numa rápida conversa com o produtor Wagner Henriques, ele
conta que a situação era bem diferente há 12 anos, quando comprou a fazenda.
“Era muita erosão, muita voçoroca, cupim, falta de pasto, quase nem água tinha
mais. Na primeira chuva que peguei aqui, a enxurrada carregou árvore, barro,
desceu uma sujeirada”, lembra o produtor.
Na época, quando decidiu adquirir a fazenda, ele não tinha experiência com o
meio rural. Por isso, o susto foi grande. Então decidiu procurar a Emater-MG –
empresa vinculada à Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e
Abastecimento (Seapa) – para saber como desenvolver alguma atividade
produtiva na propriedade. “Eu falei que tinha comprado uma propriedade, não
conhecia nada, e não sabia o que fazer”, afirma.
O técnico da Emater-MG em Congonhas, Paulo Rosa, conta que a situação era
realmente muito ruim. Uma equipe da empresa visitou o local e começou o
trabalho de recuperação. “Vimos que a primeira coisa a fazer era acabar com as
voçorocas e com os cupins”.
Voçorocas são grandes buracos de erosão causados pela chuva em solos sem
proteção. Uma das primeiras ações para resolver a situação foi a construção, na
área degradada, de seis bacias de captação, que armazenam a água da chuva e
contêm a enxurrada. Em seguida, foi feito o plantio direto no solo,
consorciando o milho com a pastagem, em cinco hectares.
Também foram retirados mais de cem caminhões de barro de uma lagoa que estava
assoreada. A terra foi usada para a construção de uma barreira de contenção da
água da chuva em uma estrada vicinal da propriedade.
Outra atenção especial foi dada às nascentes da fazenda. As fossas precárias
que existiam no local estavam contaminando a água. “Nós coletamos a água e
levamos para o laboratório da Copasa, em Belo Horizonte. Infelizmente, as águas
estavam contaminadas com coliformes fecais. Isso me assustou muito. Então, com
a ajuda da Emater, fomos tratando essas fossas e também substituindo por
sistemas mais higiênicos e eficientes. Depois de quase dois anos, fizemos novas
análises e, hoje, podemos dizer que temos água limpa”, diz Wagner Henriques.
Atualmente são nove nascentes na propriedade, com vazão mesmo no período de
estiagem. Elas foram cercadas e a vegetação ao redor foi recomposta. Com a
oferta de água regularizada, o produtor resolveu investir na piscicultura, em
dois açudes e um tanque. Tem tilápia, matrinxã, tambacu. Os peixes são para o
consumo da família e para pescaria de lazer. Mas quando há excedente, ele é
vendido na região.
“Outra atividade beneficiada pela boa oferta de água foi a implantação de uma
horta irrigada, com diversas variedades, além de plantas frutíferas”, relata o
técnico da Emater-MG. Ao lado da horta, foi montado um galinheiro, com aves
caipiras, criadas soltas. A produção é de 50 ovos por semana.
Como o produtor tem interesse em diversificar as atividades, também foi dado
início à criação de gado de leite. São cinquenta cabeças, contando as vacas em
lactação e os bezerros. A Emater-MG orientou na implantação do estábulo, do
bezerreiro e da sala de ordenha mecânica.
De acordo com o produtor, foi feito um teste com várias raças para verificar
qual delas melhor se adaptava às condições do local. “Fomos vendo as mais
resistentes a carrapato, berne e qual melhor se adaptava à criação a pasto, que
é o sistema que escolhemos. Verificamos que a raça girolando ¾ foi a que melhor
se adaptou, com boa produção de leite”.
Os 200 litros de leite produzidos diariamente são utilizados na produção de
queijos, manteiga, doce de leite e iogurte. Na pequena queijaria construída
próxima à sala de ordenha, trabalham a esposa do produtor e uma funcionária.
O carro-chefe é a produção de queijo Minas Frescal. São 150 queijos de 900
gramas por semana. Já a produção de manteiga é de 30 potes semanais, além de
230 garrafinhas de iogurte quinzenalmente. Tudo é vendido na região. “Eu
comecei a fazer cursos, recebemos orientações de um técnico em laticínios
e já temos quatro anos com a queijaria”, afirma a produtora Heloísa Pedrosa
Resende.
Os mais recentes investimentos nas fazendas foram a instalação de placas de
produção de energia solar e também de biodigestores. Os resíduos do
curral viram biofertilizantes para as lavouras e gás para o funcionamento
da queijaria. “São várias funções que o biodigestor tem. Uma delas é evitar que
o chorume do esterco vá para o lençol freático e contamine as águas. Além do
aproveitamento do gás que ele produz para o funcionamento dos equipamentos da
queijaria”, informar Wagner Henriques.
“Todo o trabalho desenvolvido aqui, em qualquer área, é voltado para a
preservação do meio ambiente. Em mais de 40 anos trabalhando na Emater, não
conheço uma propriedade com tanta inovação, primando pela sustentabilidade
ambiental”, afirma Paulo Rosa.
As ações desenvolvidas na propriedade fizeram do local não só uma referência na
região, mas também motivo de orgulho para o produtor. “É uma satisfação
muito grande ver aquilo que a gente tinha, quando comprou a fazenda, e as
condições de hoje”, afirma.