Autores
Jade Cristynne Franco Bezerra
Engenheira florestal – Universidade Federal Rural da Amazônia, Paragominas (PA)
jadefranco9@gmail.com
Débora Monteiro Gouveia
Mestre em Ciências de Florestas Tropicais – Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, Manaus (AM)
deboramgouveia@yahoo.com.br
Ernandes Macedo da Cunha Neto
Engenheiro Florestal – Universidade Federal Rural da Amazônia, Paragominas (PA)
netomacedo878@gmail.com
Os substratos para a produção de mudas podem ser formados por um único material ou pela combinação de diferentes componentes. Podem ser montados no viveiro ou comprados prontos. Na formulação de substratos geralmente se utiliza um componente mineral (terra de subsolo retirada a 30 cm de profundidade, terraço de mata e terra vegetal) e um ou mais componentes orgânicos, que podem ser inativos (casca de arroz carbonizada e fibra de coco) ou ativos (composto orgânico, esterco bovino curtido, esterco ovino curtido, esterco de aves, lodo de esgoto, húmus de minhoca e turfa), acrescidos de fertilizantes e corretivos como calcário e gesso.
A proporção entre os componentes mineral orgânico, níveis de calagem e adubação devem ser definidos em função da demanda apresentada pela espécie em questão, de forma a proporcionar o melhor ambiente de cultivo possível. Como a diversidade de espécies é muito grande, não há uma formulação de substrato perfeita, que atenda a todas as exigências da espécie a ser cultivada.
Nutrientes
As propriedades químicas de um substrato são influenciadas pela disponibilidade de nutrientes minerais, os quais influenciam no desenvolvimento das mudas (Caldeira et al., 2011; Trigueiro; Guerrini, 2003).
No entanto, as propriedades físicas de um substrato são mais importantes, visto que não podem ser facilmente modificadas, enquanto que as químicas podem ser manejadas pelo viveirista mediante o uso de adubações, irrigação e fertirrigação (Kämpf, 2005).
Como escolher?
As formulações dos substratos devem levar em consideração as características de cada elemento utilizado, para que o substrato possua alto teor de matéria orgânica e capacidade de armazenamento de água, além de uma boa aeração, favorecendo o equilíbrio dinâmico do sistema água – solo – planta-atmosfera, e consequentemente, um bom desenvolvimento da muda (Souto et al., 2005; Cunha et al., 2006).
Manejo
Para ser utilizado na produção de mudas sadias e vigorosas é indispensável o adequado tratamento fitossanitário do substrato, tornando-o livre de microrganismos causadores de doenças nas plantas, além de sementes de ervas daninhas.
Inicialmente o adubo ou a terra devem ser peneirados, removendo todos os detritos não decompostos, raízes e torrões de terra que forem muito grandes. O material deve ser aquecido, produzindo uma pasteurização.
Pesquisadores consideram que o tratamento térmico a 82ºC por 30 minutos elimina as formas de vida microbiana existentes no solo. Alguns substratos, se nunca tiverem sido usados antes, já podem estar esterilizados (perlita, vermiculita, turfa, entre outros). Vale ressaltar que o substrato não utilizado deve ser armazenado em recipientes fechados para que ele permaneça esterilizado.
Benefícios
O uso do substrato correto permite que as mudas se desenvolvam com qualidade e saúde. Entende-se por muda de qualidade aquela com sistema radicular ativo e robusto, além de uma altura de 20 cm a 40 cm, além de um diâmetro acima de 2 mm. (Xavier et al., 2009), de tal forma que o uso correto do substrato permite que as mudas alcancem esses parâmetros com maior facilidade.
O substrato com altos teores de matéria orgânica favorece o crescimento em altura e diâmetro, enquanto que a porosidade do substrato (aeração) está ligada ao sistema radicular, proporcionando uma melhor retenção e aproveitamento de água e nutrientes, facilitando o metabolismo e os processos fotossintéticos. Dessa forma, há altas chances de sobrevivência das mudas em condições de campo.
Resultados em campo
Em campo, espera-se que as mudas se adaptem às condições que estão inseridas, de tal forma que esta seja capaz de sobreviver as diversas situações de estresse, tais como: longos períodos de seca, precipitação intensa, alta incidência de raios solares, geadas, etc.
Além disso, as mudas devem apresentar um bom desenvolvimento das raízes e das folhas, para que seja possível o seu crescimento em diâmetro e altura, e consequentemente, em volume. Assim, no futuro será possível obter múltiplos produtos da floresta e, consequentemente, o retorno do investimento juntamente com os lucros do empreendimento.
Contudo, isto somente será possível se na fase de viveiro esta muda foi acondicionada em um bom substrato e um manejo correto.
Produtividade e lucratividade
A produtividade do viveiro está intimamente ligada ao tempo de rotação das mudas, de tal forma que o substrato ideal, em união com o manejo correto permitem que o tempo da muda no viveiro seja reduzido. Assim, a redução do tempo de mudas no viveiro favorece uma maior rotação e, consequentemente, uma maior lucratividade.
Além disso, o substrato ideal também favorece uma maior retenção de água, disponibilização dos nutrientes necessários para o desenvolvimento das plantas, deixando as mudas saudáveis e menos suscetíveis a pragas e doenças.
Dessa forma, há a possibilidade de reduzir os custos de irrigação, fertilização e controle de pragas e doenças durante a produção das mudas, além da redução das taxas de mortalidade. Portanto, a produtividade e lucratividade do empreendimento é dependente do uso correto do substrato.
Erros mais frequentes
A utilização inadequada do substrato pode afetar o desenvolvimento dos indivíduos. Como erros mais frequentes temos a compactação, escolha inadequada do substrato e uso de terra argilosa, sendo que estes causam um atraso ou até mesmo impossibilitam o desenvolvimento das raízes, que precisam de um meio favorável, aerado e poroso para poderem ramificar e alcançar cada vez mais nutrientes. Além desses, o manuseio inadequado e contaminação de substrato são erros que favorecem a propagação de pragas e doenças.
A fim de conduzir e manejar adequadamente as mudas, é necessário avaliar o comportamento nutricional de cada espécie, buscando entender as suas necessidade, e assim escolher o substrato apropriado.
Precauções sanitárias na utilização do composto e treinamento constantes dos funcionários responsáveis pela condução são formas de evitar a propagação de pragas e doenças, além de auxiliar na boa condução e desenvolvimento dos indivíduos.
Para evitar a compactação do solo é preciso que o viverista se preocupe em dar estrutura ao solo, que pode ser dado pela adição de elementos importantes na mistura do substrato. A areia e a matéria orgânica têm esse efeito. Este, por sua vez, permite que a água infiltre, favorecendo assim a distribuição da água e sua perfeita drenagem, além da aeração.
Custo
O custo do substrato, em geral, não é o maior dos custos do viveiro, principalmente quando há o uso de materiais abundantes e ricos em matéria orgânica, tais como os já citados. Contudo, dificilmente os viveiros comerciais utilizam fontes ativas de matéria orgânica para fornecimento de nutrientes para as plantas.
Usualmente, os viveiros utilizam o substrato na formulação 1:1:1 de fibra de coco, casca de arroz carbonizado e vermiculita. Apesar desses elementos não serem os mais baratos do mercado, que juntos representam uma pequena parcela dos custos fixos do viveiro. Logo, o valor do substrato não é o principal fator que afeta a lucratividade do empreendimento, mas sim os efeitos causados na muda a partir do uso deste.
Custo-benefício
Para a racionalização dos custos e a maior produtividade do viveiro, é fundamental que os profissionais contratados detenham conhecimentos e habilidades relacionadas com a área florestal, pois a escolha adequada de substratos, ou seja, boa eficiência e baixo custo constitui importante fator para a produção de mudas de espécies florestais.
Deve-se frisar que os custos podem sofrer variações em função da disponibilidade de cada material, necessitando, portanto, avaliar os mesmos para cada região e/ou viveiro e a sustentabilidade dos sistemas.
Convém que o empreendedor busque informações junto aos fabricantes para conhecer o tempo médio de aproveitamento dos substratos, que deve implicar na decisão de utilizar substrato pronto ou formular o seu próprio.
Fazer uso de substratos com disponibilidade local e compostos orgânicos (vegetais e animais) representa uma alternativa viável e fundamental para reduzir custo, além de evidenciar a necessidade de práticas agrícolas sustentáveis que minimizam o impacto ambiental. Por fim, avaliando os valores quantitativos de substrato é possível planejar o custo-benefício para sua aquisição, bem como planejar a reposição quando necessária.