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sexta-feira, novembro 22, 2024
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InícioArtigosHortifrútiResistência: Qual o limite para os pimentões?

Resistência: Qual o limite para os pimentões?

Autores

Tadeu Antônio Fernandes da Silva Júnior
Engenheiro agrônomo e doutor em Agronomia/Proteção de Plantas – FCA/UNESP
Carolina Jordan
Engenheira florestal e mestranda em Ciência Florestal/Proteção Florestal – FCA/UNESP
Felipe Barreto da Silva
Júlio Cesar Antunes Ferreira
João César da Silva
Luís Fernando Maranho Watanabe
Engenheiros agrônomos e doutorandos em Agronomia/Proteção de Plantas – FCA/UNESP
José Marcelo Soman
Paula Leite dos Santos
Biólogos e doutores em Agronomia/Proteção de Plantas – FCA/UNESP
Renate Krause Sakate
renatekrause@fca.unesp.br
Antonio Carlos Maringoni
Engenheiros agrônomos, doutores em Agronomia/Fitopatologia e docentes da FCA/UNESP

O cultivo do pimentão ocorre tanto em campo aberto quanto em estufas. Em campo aberto é o grande responsável pela grande maioria das áreas cultivadas no Brasil. No cultivo protegido, são empregados híbridos de frutos coloridos, que possuem maior valor agregado, quando comparados aos pimentões de coloração verde. O custo de produção desses frutos é maior, principalmente pelo extenso período de maturação, especialmente durante o inverno.

Apesar dos avanços tecnológicos incorporados aos sistemas de produção, as doenças são fatores limitantes, comprometendo a produtividade e qualidade em diversos estágios de desenvolvimento. Atualmente, a utilização de variedades com pacotes de resistência apresenta o melhor custo-benefício no manejo integrado de doenças, pois utiliza o sistema de defesa da própria planta, que é capaz de reconhecer o patógeno e proporcionar mudanças na anatômicas e fisiológicas, de modo que ela consiga resistir ao ataque, minimizando as perdas.

Doenças

As principais doenças do pimentão que possuem variedades com pacotes de resistência são o vira-cabeça (causado por espécies do gênero Orthotospovirus); mosaico do pimentão (PVY) e mosaico amarelo (PepYMV); mosaico do pepino (CMV); mosaicos (TMV e PPMoV); oídio (Leveillula taurica); requeima (Phytophthora capsici); mancha bacteriana (Xanthomonas sp.); murcha bacteriana (Ralstonia solanacearum); e os nematoides das galhas (Meloidogyne incognita e M. javanica).

Vira-cabeça

O vira-cabeça é uma doença severa que pode ocasionar perdas significativas de produtividade à cultura. As plantas de pimentão são altamente suscetíveis ao vírus e os sintomas incluem clorose no topo da planta e forte necrose em anéis concêntricos nas folhas, hastes e frutos. Nesses casos, os frutos se tornam impróprios para comercialização.

Geralmente, os sintomas iniciam após duas a três semanas da infecção pelo vírus, tornando-se mais críticos em infecções precoces. Nesse cenário, a agressividade do patógeno pode causar a morte de seu hospedeiro, prejudicando ainda mais a produção.

O vira-cabeça é causado por espécies pertencentes ao gênero Orthotospovirus. No Brasil, há relatos das espécies Groundnut ring spot vírus (GRSV), Tomato chlorotic spot vírus (TCSV) e Tomato spotted wilt vírus (TSWV), sendo GRSV a de maior ocorrência nos campos do Estado de São Paulo.

Os Orthotospovirus são transmitidos por tripes, com relacionamento circulativo-propagativo. Essa relação é muito íntima e específica, pois o vírus só pode ser adquirido pelo inseto no estádio larval e transmitido pela fase adulta. Durante este período de aquisição à transmissão, o vírus se replica e convive com o tripes ao longo de toda sua vida.

Os tripes são insetos que se alimentam e reproduzem em diversas espécies vegetais, dificultando o manejo, especialmente pelo controle químico. Além disso, vários inseticidas utilizados para controle do tripes são ineficientes, em especial pela presença de populações resistentes do inseto.

O controle também é dificultado pela tecnologia de aplicação mal utilizada, que não proporciona uma pulverização adequada para atingir o alvo. É fato que grande parte dos tripes, em plantas de pimentão, são encontrados nas flores e ficam protegidos do contato direto com os produtos. Três espécies de tripes são encontradas no Estado de São Paulo associadas ao pimentão e outras solanáceas: Frankliniella shultzei, F. occidentalis e Thrips palmi.

Mosaico do pimentão e mosaico amarelo

O mosaico do pimentão (PVY) é um vírus distribuído mundialmente e já foi considerado o mais importante do pimentão no Brasil. Atualmente, existem diversas variedades de pimentão resistentes no mercado, as quais possibilitam o controle do PVY de forma efetiva.

O mosaico amarelo PepYMV é o potyvirus mais importante infectando pimentão atualmente. Inicialmente, a diagnose indicava “quebra de resistência” em variedades resistentes ao PVY. Entretanto, através de técnicas moleculares foi possível verificar que se tratava de um novo potyvirus infectando a cultura.

Os sintomas causados pelo PepYMV são mosaico amarelo e distorção foliar semelhantes aos sintomas causados pelo PVY, o que pode levar à diagnose visual equivocada. Pode ocorrer, também, a infecção mista, com plantas de pimentão infectadas por PVY e por PepYMV, agravando os sintomas.

Ambos os vírus são transmitidos por afídeos de forma não persistente. As espécies Aphis gossypi e Myzus persicae já foram relatadas como vetores do PVY e PepYMV. Essa relação vírus e vetor é interessante do ponto de vista epidemiológico, uma vez que o tempo de aquisição e de transmissão do vírus pelo afídeo é muito rápido e eficiente, podendo variar de segundos a minutos.

Mosaico do pepino

O mosaico do pepino, causado pelo Cucumber mosaic virus (CMV), tem uma grande gama de hospedeiros e sua transmissão é feita por pulgões de maneira não-persistente. É uma doença que ocorre principalmente em regiões de clima temperado, e com baixa frequência no Brasil, mesmo em cucurbitáceas. Os sintomas são semelhantes aos causados por PVY e TMV.

Mosaicos

Os mosaicos são sintomas típicos dos vírus do gênero Tobamovírus, muito comuns em solanáceas, sendo Tobacco mosaic virus (TMV) o principal. Seus sintomas vão desde um leve mosqueado a mosaicos comuns, afilamento das folhas e deformação dos frutos. As fontes de inóculo podem ser sementes, restos culturais e ferramentas utilizadas no manejo da cultura.

A melhor alternativa para diminuir a incidência do vírus no campo é pelo uso de sementes certificadas livres do vírus. O Pepper mild mottle virus (PMMoV) é outro Tobamovirus de grande importância, principalmente em pimentas, pois além de sintomas de mosqueado nas folhas, também diminui o tamanho dos frutos, afetando a comercialização por sua malformação e presença de áreas necróticas deprimidas. A redução do desenvolvimento da planta pode ocorrer quando a infecção acontece em estágios iniciais da planta.

Oídio (Oidiopsis)

A doença é causada pelo fungo Leveillula taurica causando severos danos e/ou perdas. Em regiões com condições ideais para o seu desenvolvimento, clima seco e quente, as perdas podem chegar a 90%. Sua ocorrência também é intensa em ambiente protegido onde se utiliza sistema de irrigação via gotejamento e ambiente com baixa luminosidade.

O fungo já foi relatado em uma ampla gama de hospedeiros, como tomateiro, pepino, pimentas, jiló, berinjela, batateira, coentro, salsinha, alho, cebola, chicória, quiabeiro, fumo, ornamentais e plantas daninhas, como erva de santa maria e joá de capote.

Os principais sintomas são observados na face superior das folhas mais velhas, com surgimento de manchas de coloração amarelada que variam de tamanho e formato. Conforme ocorre o desenvolvimento da doença, as manchas se desenvolvem, coalescem, necrosam e secam.

Já na face inferior das folhas, tais manchas apresentam o crescimento micelial de coloração esbranquiçada, caracterizando a doença. Em grandes infestações pode ser observada acentuada formação de micélio branco nas folhas afetadas. Devido aos danos, ocorre intensa desfolha, proveniente da seca e queda das folhas.

Requeima

A requeima é causada por Phytophthora capsici, sendo uma doença de ocorrência mundial e extremamente agressiva, podendo ocasionar a perda total da cultura antes mesmo da primeira colheita. É um patógeno de solo, podendo se manter viável de três a cinco anos por meio de estruturas de resistência, que ao encontrar um hospedeiro suscetível, juntamente a condições ambientais favoráveis, causa a doença.

Solos úmidos ou encharcados, com deficiência de drenagem, favorecem o desenvolvimento do patógeno. P. capsici afeta diversas culturas, como abóbora, melão, melancia, cenoura, mandioca, berinjela e tomateiro. As condições que favorecem a requeima são alta umidade, temperaturas entre 25 e 30°C e locais pouco ventilados.

A requeima ocorre em quaisquer estádios de desenvolvimento do pimentão, causando murcha generalizada, podridão e necrose da base do caule. Geralmente a necrose inicial possui cor esverdeada, se tornando escura e circundando todo o caule. A incidência de chuvas ou a forma de irrigação utilizada no plantio podem fazer com que a doença se estenda por toda a área.

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