Thiago Alberto Ortiz
Engenheiro agrônomo, doutor em Agronomia e professor – Universidade Paranaense (UNIPAR – campus Umuarama-PR)
thiago.ortiz@prof.unipar.br
O tratamento de sementes industrial (TSI) é mais eficiente que o tratamento on farm, pois garante uma cobertura uniforme da semente, reduz danos mecânicos e minimiza os riscos ao operador.
Recomenda-se o uso de sementes tratadas com inoculantes “longa vida”, que oferecem maior durabilidade. A literatura indica que a inoculação antecipada em até 25 dias antes da semeadura pode resultar em produtividades equivalentes àquelas obtidas com inoculação e semeadura no mesmo dia.
Não se engane
No tratamento de sementes, é possível realizar a inoculação e a coinoculação junto com produtos fitossanitários, como fungicidas, inseticidas e nematicidas, de origem química ou biológica, para o controle de pragas e plantas daninhas.
No entanto, a aplicação desses agroquímicos pode prejudicar a sobrevivência dos microrganismos, reduzindo ou até inibindo a nodulação e a eficácia da FBN. Para minimizar esses efeitos, recomenda-se que a semeadura ocorra no máximo 24 horas após a inoculação e que se evitem altas temperaturas acima de 30°C, que podem levar ao dessecamento e morte dos microrganismos.
A inoculação deve sempre ser realizada após o tratamento com agroquímicos. Além disso, não deve ocorrer dentro da caixa de semeadura e é importante evitar realiza-la em solos com baixa umidade.
Como funciona
A inoculação no sulco de semeadura consiste na aplicação da solução diretamente no local, favorecendo o contato entre o produto, a semente e o solo, além de facilitar a coinoculação.
A técnica tem se mostrado mais eficiente para a FBN, pois evita a mortalidade das bactérias, ao não expô-las a agroquímicos ou altas temperaturas. Equipamentos com sistema de pulverização dirigida garantem que os rizóbios fiquem isolados de produtos que podem reduzir o pH e salinizar o solo.
Durante o processo de inoculação em áreas novas que nunca foram inoculadas, recomenda-se usar de duas a quatro doses por saca via tratamento de sementes (TS), ou de seis a oito doses por hectare via sulco de semeadura.
Para a reinoculação, a recomendação é de uma a duas doses por saca via TS, ou de três a quatro doses por hectare via sulco de semeadura. Independentemente do método escolhido, seguindo as recomendações agronômicas é possível observar um aumento significativo na produtividade da soja.
Boas práticas
A coinoculação deve ser realizada com atenção a várias práticas que garantam sua eficácia:
• Verifique se o produto é registrado no MAPA e se está dentro do prazo de validade;
• Avalie as condições de transporte e armazenamento a que o produto foi exposto;
• Utilize a dose adequada recomendada;
• Não inocule na caixa de semeadura;
• Caso a semente seja tratada com produtos químicos, realize a inoculação em uma segunda operação, nunca simultaneamente;
• Proteja o produto e as sementes inoculadas do sol e do calor, secando-as na sombra;
• Em áreas de primeiro ano, evite o uso excessivo de produtos químicos durante o tratamento de sementes ou prefira a inoculação via sulco;
• As sementes pré-inoculadas devem conter entre 80.000 a 100.000 células por semente;
• A inoculação foliar deve ser utilizada apenas em situações de emergência;
• Utilize cobalto (Co) e molibdênio (Mo), preferencialmente de forma foliar, durante o estágio V3-V5;
• Não semeie em solo seco, pois isso pode levar à morte das bactérias por desnaturação de proteínas.
Colocando em prática
Embora os benefícios da inoculação anual sejam bem estabelecidos, muitos produtores ainda não adotam essa prática. A coinoculação, sendo uma tecnologia mais recente, está em expansão, mas ainda é pouco conhecida por muitos produtores. Além disso, nem todos os que adotam a inoculação ou coinoculação seguem as “boas práticas”.
Para abordar essas questões, a Embrapa Soja, em parceria com a Emater, tem realizado ações de transferência de tecnologia desde a safra 2015/16. O objetivo é demonstrar e difundir os benefícios da FBN e intensificar a adoção adequada dessas práticas na cultura da soja no Paraná.
Esse trabalho é estruturado em quatro etapas: 1) treinamento de técnicos extensionistas; 2) instalação e acompanhamento de Unidades de Referência técnica (UR); 3) realização de encontros técnicos para divulgar a tecnologia; e 4) coleta, tabulação, análise e compartilhamento dos resultados obtidos.
Antes da safra 2018/19, a Embrapa Soja promoveu um treinamento para extensionistas do projeto Grãos da Emater, focando em boas práticas de inoculação e coinoculação. Ao final do treinamento, o protocolo das UR foi atualizado com instruções sobre instalação, boas práticas e avaliações de nodulação e produtividade da soja.
Durante a safra, encontros com produtores foram organizados nas áreas das URs para divulgar práticas agrícolas sustentáveis.
No início da fase reprodutiva e ao final do ciclo da cultura, técnicos e produtores avaliaram a nodulação e a produtividade nas UR. Em algumas unidades, também foi realizada a coleta e a avaliação do peso médio dos nódulos de 10 plantas de soja.
Na safra 2018/19, também se registrou a quantidade de produtores que utilizam a inoculação no sulco de semeadura e a coinoculação. Observa-se um aumento no uso de ambas as tecnologias, conforme apresentado na Tabela 1.
Tabela 1. Dados do levantamento em números absolutos e porcentagem (%) sobre o uso de inoculantes e coinoculantes durante os giros técnicos em diversos municípios do estado do Paraná na safra 2018/19.
Fonte: Embrapa – Circular Técnica 156 (Coinoculação da soja com Bradyrhizobium e Azospirillum na safra 2018/2019 no Paraná).
Resultados
O estudo demonstrou que a média foi de 20,8 nódulos por planta nas parcelas coinoculadas, em comparação com 15,5 nódulos por planta nas não inoculadas, resultando em um aumento de 34%.
A massa de nódulos também apresentou um crescimento, passando de 0,15 g por planta nas não inoculadas para 0,22 g por planta nas coinoculadas, o que representa um aumento de quase 50%.
A coinoculação aumentou o número de nódulos por planta em 97% dos locais avaliados, evidenciando que a tecnologia favoreceu o estabelecimento da simbiose, mesmo em áreas cultivadas com soja há anos.
É importante ressaltar que a aplicação de Co e Mo é essencial para o processo de FBN e pode impactar positivamente a resposta à coinoculação.
Consolidação da estratégia
A inoculação, com bactérias para a FBN, é uma prática consolidada na soja e a coinoculação — que envolve o uso de dois ou mais agentes microbiológicos benéficos — se destaca como uma alternativa promissora.
Estudos demonstram que tanto a inoculação quanto a coinoculação aumentam significativamente o número e o peso dos nódulos, além de melhorar a atividade de fixação biológica.
Essa combinação também resulta em maior massa fresca radicular e da parte aérea das plantas em comparação às não inoculadas.
Essas práticas não apenas potencializam a eficiência produtiva, mas também promovem sustentabilidade econômica e ambiental. A coinoculação utiliza bactérias dos gêneros Bradyrhizobium e Azospirillum, garantindo nitrogênio para as plantas e contribuindo para seu desenvolvimento e produtividade.
Seguir as recomendações dos fabricantes de inoculantes é crucial, e em caso de dúvidas, consultar um engenheiro agrônomo é aconselhável.
Além disso, a substituição de nitrogênio mineral pela fixação biológica resulta em economias significativas, destacando a importância dessas práticas para a viabilidade do cultivo de soja no Brasil. Ao substituir fertilizantes minerais por fontes biológicas de menor custo, os produtores também conseguem aumentar sua rentabilidade.